Foi quase simultâneo. Enquanto deputados do governo de Portugal e da ultradireita limitavam o acesso de estrangeiros ao Sistema Nacional de Saúde, uma operação policial em uma área de concentração de imigrantes em Lisboa recebia críticas de exagero.

Pouco mais de um mês depois da primeira ação policial no Martim Moniz, uma nova “operação especial de prevenção criminal”, como foi chamada, prendeu uma pessoa. Assim como a primeira.

A reação negativa foi mais intensa que o resultado da operação. A foto de vários homens detidos e de cara para as paredes dos imóveis da região correu as redes e recebeu críticas da sociedade, associações e políticos.

“A Casa do Brasil de Lisboa manifesta seu mais profundo repúdio pela operação realizada pela Polícia de Segurança Pública (PSP) no Martim Moniz. Sabemos que a região é habitada por muitas pessoas imigrantes, o que torna evidente a tentativa de criminalização dessa comunidade por meio da ação policial”, publicou a Casa do Brasil de Lisboa, mais antiga associação de brasileiros, que continuou:

(…) Uma operação vexatória e humilhante, que viola a dignidade das pessoas. Em uma democracia, isso é absolutamente inaceitável”.

O Bloco de Esquerda, Livre e Partido Comunista Português (PCP) querem convocar ao Parlamento a ministra da Administração Interior, Margarida Blasco, para questionar os motivos de uma ação que consideram desproporcional.

Líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo acusou o governo de perseguição aos imigrantes.

“Embarcou em campanha de perseguição aos imigrantes (…) instrumentalizando as forças de segurança para fazer campanha eleitoral, para disputar apoio eleitoral com a extrema direita”, disse no Parlamento.

António Filipe, deputado do PCP, confrontou a informação que a ação era para aumentar a sensação de segurança:

“As imagens desta operação policial suscitam dúvidas quanto à sua adequação e proporcionalidade, sobretudo quando se diz que o objetivo é aumentar a segurança”.

O primeiro-ministro Luís Montenegro defendeu a ação policial.

“É muito importante que operações como esta ocorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalização de atividades ilícitas”, disse.