

Hélder Lopes 01/01/2025 06:00 5 min
Apesar das chuvas intensas que marcaram o outono de 2024, as reservas de água nas barragens portuguesas mantêm-se abaixo do desejado. Dados do Boletim Semanal de Albufeiras, publicado pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), revelam que, na primeira quinzena de dezembro, o volume armazenado esteve aquém das médias para este mês, com exceção de algumas bacias hidrográficas. Espera-se agora os dados da última quinzena, embora se perspetive que as condições meteorológicas tenham favorecido o decréscimo de água nas albufeiras.
Armazenamento hidrográfico em dezembro: tendências diferenciadas no território nacional
Entre 9 e 16 de dezembro, verificou-se um aumento no volume armazenado em apenas duas bacias hidrográficas, enquanto 13 registaram diminuições. Atualmente, 34% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 14% têm níveis preocupantemente baixos, inferiores a 40%. As bacias hidrográficas que apresentam volumes superiores à média incluem o Cávado (67,2%), o Vouga (83,9%), o Mondego (73,5%), as Ribeiras do Oeste (69,9%), as Ribeiras da Costa Alentejana (66,2%) e algumas bacias costeiras.
34% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superior a 80% do volume total, ao passo que 14% têm níveis preocupantemente baixos. Fonte: Relatório Semanal do SNIRH.
No entanto, os armazenamentos globais continuam inferiores aos registados em dezembro de 2023. A 16 de dezembro de 2024, verificava-se um volume acumulado nas 81 barragens monitorizadas de 9444 hm³, correspondente a 71% da capacidade máxima, menos 380 hm³ do que em igual período do ano anterior.
Ademais, as tempestades de outono causaram precipitação significativa, mas os seus efeitos foram limitados devido à elevada evapotranspiração e infiltração, características de períodos prolongados de seca. Áreas como o Douro registam volumes relativamente elevados, com nove das suas 16 albufeiras acima dos 90%. Por outro lado, albufeiras como Campilhas, Monte da Rocha, Arade e Bravura continuam no “vermelho”, com níveis inferiores a 20%.
As regiões mais afetadas pela redução do armazenamento incluem o Lima e o Cávado, com perdas superiores a 800 hm³. Apesar disso, as bacias como a do Tejo e Guadiana registaram aumentos, respetivamente, de 116 hm³ e 70 hm³, o que dá algum alívio a estas áreas estratégicas.
Quais são as perspetivas para 2025?
Com o início de 2025 no horizonte, há esperança de que o inverno garanta precipitação suficiente para compensar os baixos níveis atuais. Os meses de janeiro e fevereiro são tradicionalmente meses mais pluviosos, e um padrão climático-meteorológico favorável poderia ajudar a repor as reservas hídricas e a preparar o país para enfrentar os meses de verão.
Além disso, os projetos de gestão de recursos hídricos, como o açude amovível planeado para o rio Almonda na Golegã, poderão contribuir para mitigar os efeitos da seca localmente. Este projeto visa garantir água para a agricultura e biodiversidade, mas também promover o aproveitamento turístico da região durante os meses secos.
Também a situação atual reforça a necessidade de uma gestão eficiente da água, incluindo estratégias de reutilização, redução de desperdícios e investimentos em infraestruturas resilientes. Apesar dos desafios impostos pelas alterações climáticas, a implementação de medidas adaptativas poderá ser determinante para enfrentar os períodos de seca que se tornam cada vez mais frequentes.
Enquanto o país aguarda as chuvas de inverno, o cenário exige vigilância e ação coordenada entre autoridades, agricultores e cidadãos, para assegurar a sustentabilidade dos recursos hídricos em 2025 e nos anos vindouros. Para o momento, espera-se que a precipitação possa regressar ao país durante o primeiro fim de semana do ano e a expetativa de um padrão atmosférico associado a um regime NAO- (Oscilação do Atlântico Norte negativo) pode favorecer o restabelecimento dos níveis de água nas próximas semanas.