Foram 6 meses sem clube e anúncio do interesse de dezenas deles no concurso de Sérgio Conceição.
O ex-treinador do FC Porto interessava a quase todos os clubes europeus, segundo as notícias publicadas nos jornais, mas só agora, volvido meio ano, apareceu o Milan a fechar contrato com Conceição até Junho de 2026 para substituir outro português, mais concretamente Paulo Fonseca.
E Sérgio teve um arranque fulgurante (começar com um troféu é sempre bom!I) porque venceu a primeira das meias-finais da Supertaça italiana diante da Juventus (2-1) e, na final, derrotou o Inter por 3-2.
Menos fulgurante foi a estreia do “Milan de Conceição” na Série A transalpina, na qual, em pleno San Siro, os ‘rossoneri’ não foram além de um empate frente ao modelo Cagliari (18.º classificado), depois de terem estado apenas a vencer durante 4 minutos, no começo da segunda parte, através de um golo de Morata.
O campeonato italiano é, de facto, e em tese, o melhor espaço competitivo para Sérgio Conceição poder evoluir em relação à imagem que deixou no FC Porto: o cartel que deixou como jogador sobretudo na Lazio, mas também no Parma e no Inter foi suficiente para que Conceição deixasse uma ligação forte a Itália e, nestas condições, falar o idioma, começar a ganhar, voltar a fumar charuto no balneário, receber os elogios de Rafael Leão e notas de exaltação em relação à sua energia foram factores que o levaram a sentir-se feliz.
Talvez tenha sido o cansaço (ai o cansaço como argumento bíblico do futebol!) da operação-Supertaça na Arábia Saudita mas a verdade é que o regresso a San Siro já lhe trouxe à recordação que, no futebol, não se pode ganhar sempre.
E este é o ponto. O ponto assenta no facto de um treinador carismático como é indiscutivelmente Sérgio Conceição, que conquistou 11 troféus em 7 épocas ao serviço do FC Porto (3 Ligas, 4 Taças de Portugal, 3 Supertaças e 1 da Taça da Liga) ter regressado ao futebol de alta competição, anda por cima numa Liga onde terá o seu filho Francisco como adversário, depois de um ciclo verdadeiramente infernal, com muitas consequências, no Olival e no Dragão.
Seis meses depois de ter saído do FC Porto da maneira como saiu, certamente — pelo que conhecemos dele — a sentir-se injustiçado e contra o Mundo (sobretudo o mundo de Vítor Bruno e de André Villas-Boas, já é importante discorrer sobre o essencial em relação a esta figura do futebol, que dividiu corações e opiniões.
Não retiro uma vírgula sobre o que disse dele enquanto treinador de uma instituição tão prestigiante como a do FC Porto:
1) Sempre o considerei um dos melhores treinadores portugueses do ponto de vista do conhecimento técnico e sobretudo tático;
2) Sempre observei a sua capacidade de liderança como algo indiscutível, cuja eficácia só poderia ser, no entanto, um facto em determinadas condições de pressão e temperatura, aquelas que Pinto da Costa lhe concedeu para poderem ser ambos beneficiários dessa mesma liderança;
3) Sérgio Conceição foi o treinador que se afirmou no FC Porto por causa de quatro figuras em particular, três individuais e uma colectiva: Pinto da Costa, Fernando Madureira, Vítor Bruno (como elemento da equipa técnica que foi de uma dedicação e resiliência extremas) e os planteis que dirigiu durante as tais 7 épocas.
Por isso disse que Sérgio Conceição jamais encontraria em mais nenhum clube do Mundo de alta cotação um contexto de influência e de afirmação das suas ideias, muitas das quais coercivamente, como o que encontrou ao serviço do FC Porto.
Influência sobre diretores, árbitros, adversários, jogadores e treinadores, jornalistas e adversários comunicação social em geral (onde foi fazendo muitos amigos), tudo em cima de um magistério de cobertura provavelmente único no globo terráqueo.
É bom ter essa noção: fazer prevalecer ideias, sejam tácticas, ou decisões de quem tem como missão decidir, nunca pode ser pelo medo. E muito menos no desporto e no futebol. Que isto fique bem claro!!!
A minha maior divergência como observador que escreve sobre futebol fez este domingo 49 anos – praticamente a mesma idade do Sérgio – não tem mais nada a ver — rigorosamente mais nada — com os excessos, o tom de ameaça e a forma com tratou durante anos os agentes desportivos, no meio da almofada que constituíam, nos intervalos, as notas de humor e os sorrisos.
Nem sequer tenho já a esperança ou a preocupação de que, ao nível comportamental, as críticas construtivas que lhe fui fazendo tenham servido para alguma coisa.
A única coisa que gostaria (e vale o que vale) é que Sérgio Conceição se lembrasse sempre que é, agora em Itália, um representante do futebol português e, como tal, que tem responsabilidades acrescidas, se é que isso lhe diz alguma coisa, o que sinceramente duvido.
O resto é o resto — e o resto foi que lhe deram o essencial para poder fazer aquilo que lhe apetece, às vezes abusivamente, com o argumento de que o fazia por paixão.
Paixão é outra coisa e, para mim, paixão não envolve violência. Nem psicológica nem outra qualquer.