Já o Chega perdeu 6,6% dos seus votantes para a AD e 5,2% para o PS, o que, somando às perdas para a abstenção e para OBN, resulta em menos 31,7% de eleitores — ou seja, um terço das pessoas que em 2024 escolheram este partido mudaram de ideias.
“O voto no Chega é menos resiliente do que pensava”
Esta é, assume Pedro Magalhães ao DN, a sua maior surpresa face a estes dados: “O voto no Chega é menos resiliente do que tinha pensado. Esperava que tivesse mais capacidade de reter eleitores, mas olhando agora para os dados, faz sentido que um partido tão novo tenha um eleitorado mais em recomposição. Não será afinal uma surpresa assim tão grande que tenha um eleitorado que não é assim tão militante e estável.”
Ainda assim, estes cálculos — usando um método que o investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa experimenta pela primeira vez — permitem concluir que “a maior parte das pessoas faz em 2025 o mesmo que tinha feito em 2024; há menos transferências do que se poderia pensar. Quer no que respeita à abstenção — 85% dos abstencionistas em 2024 voltaram a abster-se em 2025 — quer no que respeita ao voto da AD, a esmagadora maioria não mudou o sentido de voto.”
Sobre o método utilizado, “muito complexo”, Pedro Magalhães explica que “olha para as tendências nos concelhos, de uma eleição para a outra, e para as relações entre elas e com isso infere o comportamento de grupos de eleitores”. Trata-se de um modelo “muito usado em todo o mundo”, assegura.
Traduzindo as percentagens para números — fazendo as contas sobre o total de eleitores de cada uma destas forças políticas em 2024 — o PS perdeu cerca de 179 519 votos para o Chega (10,2% de 1 759 998 votos em 2024) e o Chega perdeu 57 657 para o PS. O mesmo é dizer que o Chega “lucrou”, na troca, 121 862 votos.
Para a AD, o PS perdeu 170 719 votos, enquanto da AD passaram 59 773 para os socialistas. O saldo a favor da AD é de 110 946. Assim, descontando os ganhos, do Partido Socialista saíram 232 808 eleitores para estas duas forças à sua direita — explicando assim parte substancial dos 365 497 eleitores a menos registados pelo partido, em território nacional, nestas legislativas.
Estes dados, adverte Pedro Magalhães, serão mais adiante confrontados com os de inquéritos nos quais se pergunta em quem votaram as pessoas em 2024 e 2025. Mas os inquéritos, comenta na sua conta de Twitter, “não são um ‘gold standard’ [padrão ouro, ou algo à prova de bala]: a memória das pessoas é falível e seletiva, as amostras são imperfeitas, etc”.