Portugal enfrenta, desde o início de 2025, um surto de hepatite A que já levou à notificação de 488 casos em todo o país. A situação, confirmada esta sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS) ao Jornal de Notícias (JN), está a ser acompanhada de perto pelas autoridades de saúde, que reforçaram medidas de rastreio, vacinação e sensibilização para prevenir novos contágios.

De acordo com dados oficiais, cerca de um quarto dos casos registados — ou seja, 122 infeções — estão associados a transmissão em contexto sexual, sobretudo entre homens que têm sexo com homens (HSH). Estes números, avançados pela DGS, referem-se ao período compreendido até 31 de maio de 2025 e refletem uma maior incidência nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte, em particular na cidade do Porto.

O surto português insere-se num cenário mais amplo de propagação da doença a nível europeu, como alertou esta semana o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). No seu relatório semanal, aquele organismo sublinha que “a maioria dos novos casos foi relatada entre pessoas não vacinadas”, apontando 122 casos em Portugal relacionados com contacto sexual entre HSH. Recorde-se que este surto teve início em fevereiro de 2024.

Perante este aumento de casos, a DGS esclarece que tem implementado um conjunto de medidas para conter o surto e evitar novas infeções. Entre essas medidas estão o rastreio dos contactos próximos dos infetados, a administração de vacinas tanto em regime de pré-exposição (para grupos de risco) como de pós-exposição (para contactos diretos de casos confirmados), e ações de educação para a saúde.

“A vacinação pré-exposição contra a hepatite A é a principal medida de prevenção”, reforça a autoridade de saúde, sublinhando que esta recomendação se dirige, sobretudo, a pessoas que participem em eventos de grande dimensão, que mantenham práticas sexuais de maior risco ou que viajem para regiões endémicas. A vacinação pós-exposição está igualmente disponível para proteger contactos próximos de infetados.

Um dos eventos que tem merecido especial atenção das autoridades nacionais e europeias é o EuroPride Lisbon 2025, que decorre até domingo na capital portuguesa e que reúne milhares de participantes, muitos deles provenientes do estrangeiro. O ECDC reconhece, no seu relatório, a importância de reforçar as medidas de prevenção neste contexto, tendo em conta o “surto de hepatite A entre HSH” e o “número crescente de casos detetado desde novembro de 2024”.

Nesse sentido, as orientações nacionais foram reforçadas e as unidades de saúde das zonas próximas aos eventos foram reabastecidas com vacinas contra a hepatite A. A DGS, por seu lado, lançou campanhas de sensibilização através das suas plataformas digitais e de aplicações de encontros, com o objetivo de alertar para os comportamentos de risco e incentivar a vacinação e a procura de cuidados médicos em caso de sintomas compatíveis com hepatite A. Estas iniciativas, sublinha a DGS, têm sido dirigidas “com especial enfoque na população GBHSH [gays, bissexuais e HSH] no contexto do EuroPride Lisbon 2025”.

Entre os sintomas da hepatite A incluem-se febre, mal-estar geral, dor abdominal, icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos), urina escura e fezes descoloradas. A DGS recomenda que qualquer pessoa com sintomas suspeitos procure de imediato cuidados de saúde.

O acompanhamento da situação continuará nos próximos meses, com as autoridades nacionais a trabalharem em articulação com o ECDC para monitorizar a evolução do surto e ajustar as estratégias de resposta sempre que necessário.