Uma das principais conclusões é a forma como os portugueses olham para o processo de descolonização: à pergunta sobre se tudo correu bem, uma vasta maioria (79%) responde “não”. Apenas 13% considera que correu tudo bem.
Na hora de atribuir responsabilidades, grande parte dos inquiridos (38%) culpa o regime anterior ao 25 de Abril, enquanto 20% aponta aos negociadores portugueses daquela época.
Quanto à integração dos retornados em Portugal nos anos após a descolonização, a maioria dos inquiridos (39%) diz que correu “bem” ou “muito bem”. Mas há 30% a considerar que esse processo correu “mal” ou “muito mal” e ainda 28% que afirma não ter corrido “nem bem nem mal).Independência vista de forma positiva pelos três países
Questionados sobre se Portugal fez bem em reconhecer a independência das ex-colónias em 1975. A esmagadora maioria dos inquiridos nos três países respondeu que Portugal fez bem: 86% em Portugal, 81% em Angola e 91% em Cabo Verde.
Mas a descolonização e os processos de independência são percecionados nos três países de com algumas disparidades. Em Portugal, há uma clara divisão em três grupos distintos: 36% dos inquiridos considera que a descolonização foi “boa” ou “muito boa”, mas um total de 26% considera que a descolonização foi “má” ou “muito má”. Cerca de um terço (32%) diz que foi “nem boa nem má”.
Para a população angolana inquirida, há 76% a afirmar que a independência de Angola foi “boa” ou “muito boa”. Apenas 11% por cento tem uma visão negativa e outros 16% afirmam que esta foi “nem boa nem má” para o país. Os inquiridos cabo-verdianos veem de forma ainda mais favorável o processo: 88% afirma que a independência como país foi “muito boa” ou “boa” e somente 4% olham de forma negativa para estes acontecimentos.
As sondagens procuraram ainda apurar com mais pormenor a forma como os três países percecionam o pós-descolonização e independência nos aspetos económico, político e cultural.
Os portugueses consideram que a descolonização foi mais positiva do que negativa para o país a nível político (54%) e a nível cultural (54%). Quanto à economia, o resultado é bastante mais renhido: 46% por cento considera que a descolonização foi “mais negativa do que positiva”. Outros 44% dizem que foi “mais positiva do que negativa”.A experiência política pós-independência foi
bastante díspar nas duas ex-colónias inquiridas nestas sondagens: em
Cabo Verde, o processo decorreu de forma pacífica e foi visto até como
exemplar. Em Angola, o período pós-descolonização viria a ser marcada
por uma violenta guerra civil que se estendeu até 2002.
Para os angolanos inquiridos, o aspeto cultural foi o que mais beneficiou da descolonização (64% considera que foi “mais positiva do que negativa”), seguido do aspeto económico (56% olha de forma favorável para as mudanças económicas desde o período colonial). Já a nível político, os resultados mostram uma divisão: 45% vê como negativas as mudanças políticas, a mesma percentagem vê de forma positiva.
Em Cabo Verde, a grande maioria os inquiridos vê de forma positiva o que ocorreu no país desde a independência nos três aspetos que foram tema nesta sondagem: 87% vê vantagens ao nível cultural, 63% considera positivas as mudanças económicas e 61% aponta como positivas as mudanças políticas.
Questionados acerca do posicionamento que teriam se o processo de independência e descolonização ocorresse hoje, 57% dos inquiridos em Portugal garante que teria apoiado a independência das colónias no decorrer da guerra colonial. Outros 28% assumem que teriam ficado ao lado do Governo português à época.
Em Portugal, a amostra desta sondagem conta com 29% de inquiridos com mais de 65 anos, 50% tem entre os 35 e os 64 anos e 21% tem entre 18 e 34 anos. Dos inquiridos, há 40% a referir que teve ou tem familiares a residir nas ex-colónias, enquanto 58% não tem laços familiares com estes países. A esmagadora maioria dos inquiridos (85%) nunca residiu numa das ex-colónias africanas.Em Angola, uma maioria alargada de inquiridos (80%) adianta que teria apoiado os movimentos de libertação se tivesse tido essa possibilidade. Em Cabo Verde, um resultado semelhante: 81 por cento teria apoiado os movimentos de libertação.
Quanto a este último país, foi ainda questionado se a solução da independência foi mais benéfica do que ficar como território autónomo sob administração portuguesa. A esmagadora maioria dos cabo-verdianos inquiridos (84%) dá preferência à independência.
Ficha Técnica – Portugal:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 21 de maio e 13 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos portugueses, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1104 inquéritos válidos, sendo 43% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 31% da região Norte, 23% do Centro, 32% da A.M. de Lisboa, 6% do Alentejo, 5% do Algarve, 2% da Madeira e 1% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base nos dados do INE. A taxa de resposta foi de 21%*. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1104 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança de 95%.
*Foram contactadas 5175 pessoas. De entre estas, 1104 aceitaram participar na sondagem e responderam até ao fim do questionário.
Ficha Técnica – Angola:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 21 e 31 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos angolanos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Angola. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1199 inquéritos válidos, sendo 52% dos inquiridos mulheres. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1199 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança de 95%.
Ficha Técnica – Cabo Verde:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 29 de maio e 23 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos cabo-verdianos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Cabo Verde. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente, na rua, em várias ilhas de Cabo Verde (maioritariamente Santiago e São Vicente). Todas as entrevistas foram realizadas presencialmente (cara-a-cara). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 810 inquéritos válidos, sendo 49% dos inquiridos mulheres. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e ilha com base nos dados do INE Cabo Verde. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 810 inquiridos é de 3,4%, com um nível de confiança de 95%.