Vivo num país em que todos os dias ouço dizer que tudo está mal e que a culpa disto tudo é do Estado.

Um país em que todos denunciam a corrupção, mas em que todos sabem que ela está por todo o lado, em que todos condenam a cunha, mas onde todos tentam sempre usá-la para conseguir chegar à frente.

Um país em que, quando se está atrás do balcão, o que está do outro lado nunca tem razão e que, quando estamos do outro lado, estamos sempre do lado da razão.

Um país em que o fisco trata o cidadão como criminoso e o criminoso como perdoado, onde quem acerta e faz bem é desdenhado – porque teve sorte ou porque enganou – e em que quem erra, estraga ou destrói é sempre coitado e desresponsabilizado.

Um país em que ser criança é um direito, mas em que se um animal a morde é porque a criança o provocou.

Vivo num país em que se fala no desenvolvimento, mas aonde o professor não é reconhecido nem remunerado, onde se faz greve que prejudica o utente porque se quer prejudicar o governo.

Um país em que a sua gente, maravilhosa e acolhedora, simples e trabalhadora, se deixa levar por quem lhe mente e que nunca escolhe o caminho da melhora.

Gostava que a nossa gente parasse um tempo para pensar.

Para entender que o Estado não é mais do que uma emanação de todos e de cada um de nós.

Que todos podemos contribuir para o definir. Que podemos participar na definição do que pretendemos dele.

Um Estado que promova uma estrutura que proteja a criança, que reconheça que essa estrutura é a família e que lhe dê um tratamento fiscal de vantagem para que se promova a sua estabilidade.

Um sistema de educação que promova o professor e que lhe dê o alento para que goste de ensinar os seus alunos e fazer deles homens e mulheres de grande futuro.

Um Estado que motive os seus empresários a aumentarem a distribuição da riqueza criada, mas que não lhes aplique uma fiscalidade que promove a pobreza de todos.

Um país que seja unido em torno do bom viver de todos em conjunto e que não promova o egoísmo e o individualismo.

Gostava que este povo, em face de tudo o que sofreu ao longo das últimas décadas, em vez de embarcar numa qualquer solução mais ou menos populista, de promessas que voltarão a não ser cumpridas, seja capaz de pensar que juntos podemos construir muito mais que cada um por si ou em guerras de partidos.

Para isto é fundamental que deixemos de acreditar nas promessas de êxito e de felicidade fácil imediata e garantida e voltar a compreender que a felicidade se constrói passo a passo, que é ganha nas pequenas conquistas do dia a dia e nunca nas enormes conquistas que nos são prometidas.

Gostava que Portugal soubesse voltar a nascer, com base no conhecimento dos seus cidadãos, no reconhecimento daquilo que verdadeiramente nos pode fazer felizes e com um caminho com tempo, com paz com respeito por todos e que, com o apoio de todos, nos faça voltar a defender os portugueses em conjunto e que acabe com a crispação que cada vez mais encontramos na nossa sociedade.

Era neste Portugal que eu gostava de viver e é este o Portugal em que este povo merece viver e em que eu acredito.

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