A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, exigiu nesta terça-feira “seriedade e responsabilidade” à flotilha que pretende levar ajuda humanitária a Gaza, instando os seus participantes a suspenderem a iniciativa. A flotilha — cuja tripulação rejeita o apelo, acusando Roma de “sabotagem” — espera chegar durante as próximas horas à zona de risco israelita, adiantou à Lusa a coordenador do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que está integrada na missão.

Mariana Mortágua referiu que a flotilha prevê chegar à zona vermelha na madrugada de quarta-feira, 30 de Setembro, e à Faixa de Gaza na madrugada seguinte (quinta-feira, 1 de Outubro). O Governo português reiterou o apelo aos activistas portugueses a bordo da flotilha para que se mantenham em águas internacionais, alertando para “riscos muito sérios”. A Lusa tentou obter uma reacção de Mariana Mortágua à posição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, mas não foi possível.

Apesar dos apelos, a Flotilha Global Sumud, composta por mais de 50 embarcações com destino a Gaza, indicou no Instagram, pelas 22h30 (hora de Lisboa), que se encontrava a dez milhas náuticas (cerca de 18,5 quilómetros) da “zona de alto risco” e a 160 milhas náuticas (cerca de 296 quilómetros) do enclave palestiniano. “Estamos em alerta máximo, pois a nossa flotilha está a 10 milhas náuticas da zona de alto risco”, pode ler-se.


Meloni fala em “equilíbrio frágil”

“Com o plano de paz para o Médio Oriente proposto pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, surgiu finalmente esperança para um acordo para pôr fim à guerra e ao sofrimento da população civil palestiniana, e para estabilizar a região. Essa esperança reside num equilíbrio frágil, que muitos estariam contentes em dinamitar. Receio que a tentativa da flotilha de romper o bloqueio naval israelita possa ser um pretexto”, declarou Meloni, citada pelo jornal italiano La Repubblica.

“É por isso que creio que a flotilha deve parar agora e aceitar uma das várias propostas apresentadas para a entrega da ajuda humanitária”, acrescentou. “Qualquer outra decisão arrisca tornar-se num pretexto para prevenir a paz, alimentar o conflito e prejudicar acima de tudo a população de Gaza a quem dizem que querem levar ajuda”, disse Meloni.

O alerta, feito ao mais alto nível, segue-se a informações veiculadas pela imprensa israelita e italiana, citando fontes militares, que indicam para a iminência de uma acção da Marinha de Israel para travar o avanço da flotilha. Uma fragata da Marinha italiana que tem estado a acompanhar as embarcações civis emitiu ao início da noite um último aviso, instando a tripulação da flotilha a inverter o rumo, antes da entrada nas 150 milhas náuticas que distam de Gaza, limite a partir do qual poderá ser expectável uma intercepção israelita, como sucedeu anteriormente com os navios humanitários Mladeen e Handala, deixando os italianos de vigiar a iniciativa. A partir das 20 milhas, vigora um bloqueio naval total por parte de Israel.

Citada pelo La Repubblica, fonte da tripulação da flotilha rejeita o alerta italiano: “Isto não é protecção, é sabotagem. É uma tentativa de desmoralizar e dissuadir uma missão humanitária pacífica.”

O chefe da diplomacia transalpina, Antonio Tajani, disse ter falado esta terça-feira directamente com o homólogo israelita, Gideon Sa’ar, a quem terá pedido para se abster de acções violentas contra os activistas, que incluem figuras públicas de vários países como Portugal (seguem a bordo a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, o activista humanitário Miguel Duarte e a actriz Sofia Aparício). A flotilha é neste momento composta por mais de 50 navios, e a sua organização estima que a chegada a Gaza pudesse ocorrer dentro de três dias.

Governo português faz apelo

O Governo português reiterou o apelo aos activistas portugueses a bordo da flotilha para que se mantenham em águas internacionais, alertando para “riscos muito sérios”.

“Dada a informação disponível sobre a localização actual da flotilha, fazemos um novo apelo a que não deixem as águas internacionais; sair desse espaço comporta riscos muito sérios de que estarão decerto cientes”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, aos três portugueses a bordo da embarcação.

Na mensagem, a que a agência Lusa teve acesso, o chefe da diplomacia portuguesa recorda que as fragatas italianas que se disponibilizam para prestar ajuda consular e humanitária não sairão das águas internacionais.

“Sem pôr em causa o respeito pela autonomia individual, deixamos este novo apelo e recordamos que há disponibilidade efectiva para fazer chegar a ajuda humanitária que transportam a Gaza através de Chipre”, insistiu o Governo. com Lusa