Muçulmanos imigrantes minimizam importância do uso de burca em Portugal

O líder do Centro Islâmico do Bangladesh (CIB) afirmou à agência Lusa que vai analisar, após ser publicada, a lei contra a utilização de burca em espaços públicos, mas minimizou a importância dessa roupa entre os muçulmanos em Portugal.

“Não é normal” o uso de burca, mas “é uma tradição de alguns”, afirmou o imã Abu Sayed.

A comunidade irá respeitar as leis aprovadas, mas salientou que a prática religiosa deve ser livre. “Cada religião tem as suas tradições e os muçulmanos têm as suas”, acrescentou.

Já Rana Taslim Uddin, um dos líderes comunitários do Bangladesh em Lisboa, disse que a reação dos muçulmanos vai depender do que ficar escrito no diploma final.

“Não pode ser uma coisa contra os muçulmanos. Se é uma coisa sobre a cara e o rosto, por questões de segurança, tudo bem. Já há outros países que fazem e não levanta problemas”, explicou.

Contudo, se a lei “impõe regras de vestir” para as mulheres muçulmanas, Rana Taslim Uddin alertou que isso pode constituir uma violação da lei islâmica.

As normas religiosas impõem “uma prática de não mostrar as formas femininas”, com uso de “roupas largas” e isso é algo que todos os muçulmanos vão querer manter, avisou.

Sobre o uso de burca ou de véu de tape a cara, Rana Taslim Uddin disse compreender a decisão dos deputados portugueses.

“Há uma questão de segurança que faz sentido o Governo estar atento”, salientou.

Imã da Mesquita Central de Lisboa diz que a lei é para desviar atenções dos problemas do país

O imã da Mesquita Central de Lisboa acusou entretanto os políticos de “taparem os olhos aos portugueses” com a nova legislação contra o uso da burca e um discurso islamófobo e anti-imigrantes, em vez de resolverem os problemas do país.

Quem usa burca (o corpo completamente coberto) “são meia-dúzia de muçulmanas” em Portugal e quem usa ‘nikab’ (uma máscara sobre o resto) são “uma dúzia e pouco”, afirmou o xeque português, recordando que a maioria utiliza véus sobre os cabelos.

“O uso da burca não é obrigatório no Islão, o ‘nikab’ também não. Uma muçulmana pode ter um rosto destapado” e “pode vestir as roupas que quiser de livre vontade”, pelo que não se coloca a questão dos direitos das mulheres nesta matéria, considerou.

O novo diploma, depois de aprovado, será “analisado pelos constitucionalistas, se vai ou não contra a Constituição da República e se vai ou não contra a lei da liberdade religiosa”, mas, “na prática, se formos ver, quantas muçulmanas foram apanhadas com o rosto tapado a cometerem algo que pusesse a segurança em causa?” – questionou.

“Zero”, respondeu, salientando que também não existem casos em que as muçulmanas recusassem identificar-se perante as autoridades, caso usassem burca ou ‘nikab’.

“Com tantos problemas graves que nós temos no nosso país, com bebés a nascerem nas ambulâncias ou hospitais a serem fechadas porque não há médicos”, em vez de “dedicarmos o nosso tempo a essas situações e a procurar soluções para isso, estamos a discutir o vestuário de uma muçulmana”, comentou David Munir.

Salientando que a “segurança é um assunto importante”, o imã recordou que existem mais riscos relacionados com o uso de armas do que com o vestuário religioso.

“Segundo a lei muçulmana, não se pode obrigar ninguém a vestir o que não quer, nem sequer a filhas. E há muitas muçulmanas que não usam sequer o lenço” sobre os cabelos, mas “desde que usem vestuário modesto está tudo bem”, considerou David Munir.

Caso a lei seja aprovada, uma família muçulmana que tenha a prática do uso da burca ou do ‘nikab’ passará a “usar o lenço ou não sairá de casa”.

Ou então, “provavelmente, poderá ir para um outro país onde se sentirá mais à vontade”, que é o que “alguns parecem querer”, com esta lei que é uma “forma velada de atacar os imigrantes”, com “um discurso um bocado islamofóbico”, salientou Munir.

Mas, “acima de tudo”, esta lei “é uma forma de tapar os olhos dos portugueses que pagam impostos” e “de desviar a atenção aos problemas mais graves” do país, acusou ainda.