Jorge Pinto começa desde logo o debate a tecer críticas ao adversário sobre a questão da convergência das candidaturas à esquerda, acusando o candidato apoiado pelo PS de ter “deturpado” as suas palavras.

“As minhas palavras foram deturpadas por António José Seguro, porque nunca tinha falado de uma desistência em prol da sua candidatura”, disse.

Jorge Pinto salienta que para haver uma convergência, o diálogo devia ter sido “ainda antes das candidaturas serem apresentadas”. “Sei que avancei porque a minha candidatura é distintiva. Em relação a António José Seguro, Jorge Pinto destaca que “há uma divergência de fundo”.

Essa divergência prende-se com as posições que o candidato teve enquanto líder do PS. “Quando teve responsabilidades políticas como líder da oposição, opôs-se aos que dentro do PS votaram contra o Orçamento, ao contrário do que queria António José Seguro”, lembra.

“Seguro candidata-se a ser o guardião da Constituição portuguesa, mas quando teve responsabilidades no nosso país enquanto líder da oposição, não só não usou o seu dever de apelar à defesa da Constituição, como, pelo contrário, até se opôs àqueles que dentro do PS não votaram da maneira que Seguro defendia”, continua.

Seguro defende-se, afirmando que avançou com a candidatura em junho “porque os partidos não têm o condomínio das eleições presidenciais”.

“Não fiz combinatas com ninguém, acordos nenhuns. Sou uma pessoa livre, não tenho amarras nenhuma nem vivo dentro de gavetas”, argumentou.

Questionado sobre se não sente que impediu uma candidatura mais agregadora à esquerda, Seguro responde: “Vivemos numa democracia. Agora vou impedir alguém que se apresente como candidato?”.

“Estas candidaturas são também um ato de coragem e eu tive essa coragem”, acrescenta.

Em relação às acusações sobre a posição da sua liderança em 2012, diz que sempre esteve “do lado da defesa nacional”, apontando aos “setores conservadores” que queriam um limite para o endividamento e para o défice na Constituição a que se opôs como líder do PS.

“Eu tomei aquilo que me pareceu correto, que foi a opção pela responsabilidade e pela defesa do interesse nacional”, argumentou.

“Essa abstenção violenta na verdade é uma passividade”, responde depois Jorge Pinto, considerando que o Tribunal Constitucional deu razão a essa posição.

Greve geral e as alterações à greve do trabalho

Questionado sobre a greve geral e as alterações à greve do trabalho, António José Seguro, diz que o que o preocupa mais são as alterações à lei do trabalho, “porque vêm desequilibrar a relação que tem de existir entre empresários e trabalhadores”.

“Neste momento as negociações são bilaterais, entre Governo e representantes dos trabalhadores”, critica. Diz que o país tem de “criar instrumentos para que economia ganhe mais competitividade e produtividade e que os jovens tenham oportunidades de emprego em Portugal”.

Seguro diz ainda que discorda a ministra do Trabalho quando esta diz que a legislação está desequilibrada a favor dos trabalhadores.

Questionado sobre o que fará se for Presidente, Seguro diz que não se deve “interferir quando as negociações estão a decorrer”, mas lembra que mudança na lei laboral “não foi objeto de validação eleitoral”.

Se chegar a Belém, o socialista diz que terá em conta resultado das negociações na concertação social e resultado do trabalho parlamentar. “Nessa altura vou-me pronunciar. Mas neste momento, há uma clara inclinação para não aceitar proposta que chegar a Belém”.

Jorge Pinto volta ao passado e lembra que o 1 de dezembro deixou de ser feriado durante o período da troika, após “alterações ao Código de Trabalho que contaram com a abstenção de Seguro”.

O candidato apoiado pelo Livre diz que levaria a proposta da reforma laboral “tal qual como está” ao Tribunal Constitucional e que a mesma mereceria o seu veto político.

Revisão da Constituição. Seguro diz que proposta de Jorge Pinto é “irresponsável”
A revisão da Constituição tem sido outro dos temas em discussão entre os candidatos a Belém. António José Seguro não vê nenhuma razão para se fazer uma revisão constitucional e rejeita que isso seja uma prioridade.

“Não há nenhum problema no país que não possa ser resolvido com a atual Constituição”, refere.

Jorge Pinto já anunciou que propõe dissolver o Parlamento em situação de grande gravidade numa revisão constitucional. O candidato socialista considera que o seu oponente “iria agir mal”.

“Se houvesse dissolução, a campanha eleitoral iriam centrar-se em quê? Num debate sobre as propostas do Governo ou num plebiscito às propostas de revisão constitucional?”, questiona, afirmando que a proposta de Jorge Pinto é “irresponsável”.

Jorge Pinto diz que há “uma linha claríssima” que o separa de António José Seguro e explica que “uma revisão drástica” da Constituição que o levaria a dissolver o Parlamento seria, por exemplo, alterar o sistema semi-presidencialista ou tirar os limites à revisão constitucional inscritos na própria Constituição.

“Os portugueses têm o direito de ser ouvidos se houver alguma alteração”, afirma. 

Comissão de combate à fraude para o SNS
António José Seguro diz que foi com grande surpresa que assistiu à criação de uma comissão de combate à frade para o SNS.

“A minha surpresa é grande. O SNS já não tinha meios para prevenir a fraude?”, questiona, afirmando que em primeiro lugar “tem de haver planos de prevenção para que isso não aconteça”.

O candidato socialista salienta, no entanto, que “o que é necessário é que o SNS promova o acesso de todos os portugueses e a tempo e horas”.

Jorge Pinto, por sua vez, lembra que o Governo tinha um plano para o SNS a ser aplicado em 60 dias e “já passaram mais de 600” sem melhorias.

O deputado do Livre diz querer discutir uma “revisão do papel do SNS e como fixar quadros do SNS” e “acabar com o gargalo da formação de médicos especialistas, afirmando que a regionalização teria uma grande “importância” para o país nesta área.

A regionalização é “um imperativo constitucional e continua por cumprir quase 50 anos depois da aprovação da Constituição”, salienta.

Imigração
Questionado sobre a discussão da imigração em Portugal, Jorge Pinto começa por afirmar que foi imigrante durante 15 anos e é filho e neto de imigrantes. Diz, por isso, que é “com muita tristeza” que assiste ao “clima envenenado” da discussão sobre a imigração.

“Não vou alinhar neste que parece ser o sabor dos tempos, em que atacar a imigração é o alfa e o ómega de tudo o que é política em Portugal”, asseverou, defendendo que “o país tem de olhar para a imigração como uma oportunidade e não como um ataque”.

Sobre este tema, António José Seguro começa por afirmar que “o país precisa de imigração”, mas salienta que “ela precisa de ser regulada e organizada quer na entrada, quer no acolhimento, quer na integração”.

“Sou sempre uma pessoa centrada em relação ao futuro”, diz o socialista, afirmando que “é inegável” o contributo positivo da imigração para a economia e apontando “pontos de convergência” com Jorge Pinto.

“Não vim combater contra si, não é o meu inimigo”
Sobre as alterações que existiram às leis dos estrangeiros e da nacionalidade, Seguro diz que o país “está muito desequilibrado” e mostra, mais uma vez, concorda com Jorge Pinto quando este afirma que “não podemos ter os ovos todos no mesmo cesto”.

O socialista desafia mesmo o seu oponente a visualizar um cenário de uma segunda volta em que estivessem dois candidatos de direita “e em que eu não estivesse presente”, para acrescentar de seguida: “Não vim combater contra si, não é o meu inimigo”. “Nem eu”, responde Jorge Pinto.

“Estou a lutar para que a esquerda democrática tenha uma presença na segunda volta e isso só será conseguido se houver uma concentração de votos na minha candidatura”, remata Seguro.

Jorge Pinto salienta que “ainda muita água vai correr”, porque há ainda muitos indecisos, segundo as sondagens. “Eu vou até ao fim, porque sei o que farei como Presidente da República”, garante.


Seguro volta a desafiar a esquerda a “assumir as suas responsabilidades” na sua passagem à segunda volta. “Espero que nenhum eleitor de esquerda possa acordar a 19 de janeiro e dizer que por causa do seu voto, Seguro não foi à segunda volta”, conclui.