A entrevista a José Diogo Trigo de Moraes, fundador e CEO da Sports Ventures, foi realizada na praia do Creiro, junto ao Portinho da Arrábida, local pouco ligado ao desporto. Contudo, a razão foi simples: o responsável da empresa estava a acompanhar uma equipa de futebol americano universitário que estava em Portugal há uma semana e que iria permanecer um total de 10 dias, 9 noites.
A comitiva era composta por 90 pessoas e, além dos treinos, a intenção dos responsáveis era fazer trabalho comunitário.
Naturalmente que nem todas as equipas e/ou atletas que se deslocam a Portugal para fazer os seus estágios e ou treinos vêm com esta intenção de conjugar desporto com trabalho comunitário, mas para José Diogo Trigo de Moraes, Portugal tem todas as condições para se afirmar no Turismo Desportivo. Até porque, “as equipas, por norma, sabem que Portugal é um país seguro, há boa gastronomia, sabemos receber bem” No fundo, “temos muita sorte, somos uns privilegiados”.
Contudo, há que fazer mais e melhor, “Falta muita promoção”, reconhecendo o fundador e CEO Sports Ventures que “não é preciso fazer grandes investimentos. Fazer como se faz, e muito bem, com o turismo de forma geral, apostar no marketing digital, com campanhas específicas, cirúrgicas, ir a eventos específicos.
O que é a Sports Ventures?
A Sports Ventures é uma DMC, uma empresa especializada em turismo desportivo. Basicamente, desde a nossa fundação, fazemos o acompanhamento, promoção, venda de programas de turismo desportivo.
Estamos sediados em Portugal, o nosso território principal, mas temos vendido também muito do Sul da Europa, não só Espanha, como outros países do sul. Espanha é muito forte, mas vendemos muito Portugal, também ligado com Espanha. Fazemos tours ibéricos como, por exemplo, Lisboa, Madrid, Sevilha, e também Itália e Sul de França.
Esse é o vosso raio de ação?
Sim, sul da Europa. Os nossos produtos sempre foram tours desportivos, estágios desportivos e eventos desportivos. Nos tours desportivos o público-alvo sempre foram mais escolas, academias, turismo mais amador. O desporto é o que os une, é o que os traz cá para fazerem tours de futebol, tours de rugby, tours de futebol americano, que é uma experiência nova, mas que está a tornar-se cada vez mais interessante. Basquetebol é o nosso segundo desporto.
Mas qual o desporto número um na Sports Ventures?
Futebol, depois Basquetebol, Rugby, Natação, Ténis, depois temos alguns desportos menos conhecidos como o Lacrosse.
Temos outros tours desportivos, mais amadores, temos os estágios desportivos onde já entramos na alta competição, temos estágios de futebol profissional, como temos de rugby profissional, já trabalhámos com equipas da Premier League que vieram fazer estágios no Algarve e no sul de Espanha, equipas de triatlo que vêm treinar muito para o Algarve no inverno, já trabalhei com a seleção francesa, com Israel, Polónia entre outros.
Nos estágios desportivos, trabalhamos muito a natação. Estamos a promover uma piscina exterior em Setúbal, fizemos um acordo com a Câmara de Setúbal e vamos fazer estágios internacionais de natação na piscina olímpica, que está parada, sem atividade e, por isso, vamos tentar rentabilizar aquela infraestrutura, até porque Setúbal tem uma grande tradição na natação, não só em águas abertas.
Tentamos também usar os Centros de Alto Rendimento, que há muitos em Portugal, desde o Algarve até Melgaço, para fazer estágios.
E nos eventos desportivos?
Nos eventos desportivos, temos o “Algarve 7s Sports Festival”, por exemplo, que é o mais relevante pelo número de pessoas que traz. Este ano tivemos 2.500 pessoas a participar diretamente no evento que se realizou de 6 a 9 de junho.
É um evento multidesportivo que começou como um evento de rugby. Contudo, apercebemo-nos que havia uma oportunidade de expandir para outros desportos, até porque só tínhamos três campos de rugby, portanto não dava para trazer mais equipas. Vimos que havia uma oportunidade, é um spot perfeito, com um complexo desportivo perto, em Monte Gordo. É fantástico para turismo desportivo.
Organizámos algumas festas e vimos que tínhamos ali um produto perfeito e uma localização ótima. Então começámos a diversificar, adicionámos o netball, que é um desporto muito feito por britânicos, depois o golfe, este ano entrou o paddle e modalidades de praia. Tivemos natação de águas abertas, beach ténis, um nicho que está a crescer.
A natação de águas abertas está a explodir. Aliás, em Oeiras houve recentemente uma prova que contou com 300 atletas a nadar na praia de Caxias. É ainda um nicho, mas está a ter uma evolução muito interessante. Íamos trazer Flag Footbal, uma espécie de futebol americano, mas sem contacto, que está a pegar muito bem na Europa.
Temos uma parceria com a Federação Portuguesa de Futebol Americano, que é recente, começaram uma liga de Flag Football há um ano – também nunca tinha ouvido falar -, mas em Portugal já há uns 20 clubes e na Alemanha, por exemplo, é uma loucura.
Portugal devia ter uma marca para o Turismo Desportivo. Estive recentemente num evento em Málaga e estava lá a Flórida, com a “Florida Sportsales”. Portugal devia ser a Flórida da Europa
Produto com potencial enorme, mas subestimado
E como é que definiria o estado do Turismo desportivo em Portugal?
Temos, de facto, um segmento ou um produto turístico no Turismo Desportivo Temos, de facto, um grande segmento de Turismo Desportivo em Portugal e acho que é uma oportunidade enorme, mas que está a ser subestimado. Não se dá a devido relevância. Fala-se muito do golfe como Turismo Desportivo, é verdade, trata-se de um produto estratégico, assim como o surf. No entanto, olha-se para estas duas modalidades e não se olha para um quadro geral.
Portugal tem infraestruturas top, tem um clima top, tem segurança, tem gastronomia, algo muito importante. Ou seja, temos ingredientes fantásticos para ser os líderes, a Flórida da Europa em Turismo Desportivo.
Contudo, penso que não há uma estratégia definida para o Turismo Desportivo em Portugal. Se olharmos para o Algarve, por exemplo, uma região que tem um problema de sazonalidade, se aproveitassem, de facto, o Turismo Desportivo, essa sazonalidade seria esbatida.
Trata-se de um segmento que não vem nas épocas altas?
Quando comecei nesta atividade, há 20 anos, trabalhava-se muito de janeiro a abril e depois, novamente, em setembro e outubro. Hoje em dia, posso dizer-lhe que é todo o ano. O nosso mês mais forte, neste momento, é agosto, o tal mês de férias.
Mas em que modalidade ou modalidades?
Basquetebol dos Estados Unidos da América (EUA). Posso afirmar que, neste momento, o Turismo Desportivo dá para trabalhar o ano todo. Equipas da China, equipas da Coreia, com o basquetebol dos EUA, equipas de futebol, por exemplo, o IberCup em julho, e nós na Sports Ventures trabalhamos muito o futebol juvenil.
Mas é um torneio organizado por vocês?
Não, é um torneio de futebol juvenil já existente, de grande dimensão, e não vale a pena estar a lançar mais. O IberCup é um dos maiores e mais internacionais Torneios de Futebol Juvenil do mundo. Joga contra as melhores academias de futebol em diferentes locais do mundo e esteve em Portugal de 30 de junho a 6 de julho e, depois, novamente, de 17 a 20 de dezembro e, em 2026, de 1 a 5 de abril.
Se olharmos para todos os desportos, todos eles têm características diferentes, temporadas diferentes, e, por isso, é viável trabalhar com o desporto juvenil “all year round”.
Mas, geralmente, pensa-se que na época alta, principalmente julho e agosto, devido ao fluxo turístico, que é difícil ter capacidade para alojar estas equipas?
Se eu fosse hoteleiro, preferia ter uma equipa de futebol ou uma família que vem em B&B [Bed and Breakfast] e vai para a praia o dia todo e, provavelmente, vai jantar a um restaurante? Se fosse hoteleiro, preferia ter uma equipa de futebol profissional que fica, no mínimo, sete noites, pensão completa, usam as infraestruturas, as salas de reunião, tudo o que têm à mão num hotel.
Isto é um segmento de valor acrescentado que, de facto, tem dinheiro?
Há para todos os orçamentos, há para três estrelas, há para cinco estrelas. A equipa de futebol americano que esteve connosco [Wheaton College, uma universidade católica de Chicago, no estado de Illinois, nos EUA], esteve numa unidade hoteleira em Cascais, são 90 pessoas, em Portugal durante nove noites. E trata-se de uma equipa da Division 3, não da Division 1.
Porque se fosse Division 1?
Aí estaríamos a falar de valores diferentes. Esta equipa paga 200 euros quarto/noite. Uma equipa da Division 1 pagaria o dobro, pelo menos.
E quais são os mercados emissores? De onde vêm estas equipas?
O nosso principal mercado são os EUA, Canadá e Reino Unido. Depois, vêm França, Itália, Alemanha, sempre, claro, adaptado às modalidades que são mais fortes nesses países. Temos estado a ser procurados também pela África do Sul e ainda recentemente fomos contactados por uma equipa do Cazaquistão.
Mas os mercados emissores da Sports Ventures, são os mercados emissores do Turismo Desportivo em Portugal?
Há outros mercados, mas também não conseguimos estar em todos. A Sports Ventures nasceu em 2017, fomos crescendo, depois veio a pandemia e só não me despedi a mim, porque o Estado não deixava. Só faturámos janeiro e fevereiro de 2020 e depois foi zero até novembro de 2021. Mas depois voltou com força.
Voltou com mais força?
2022 e 2023 foram anos muito bons. 2024 foi um ano difícil e 2025 acredito que vá ser muito bom.
O porquê de Portugal
Mas, entretanto, que mercados perderam e que mercados ganharam?
Bem, um dos grandes mercados que se perdeu foi a Rússia. A Rússia era um “mercadão”. Nós organizámos um torneio de futebol para a Gazprom que era um evento de um milhão de euros. Fizemos três vezes esse torneio que “casava” com a final da Champions League. Era um evento de 60 equipas, 2.000 pessoas, 200 jornalistas.
Portanto, a Rússia perdeu-se, mas outros surgiram?
Sim, houve um aumento dos EUA. Mas, neste momento, estou a ver oportunidades, por exemplo, na Austrália, um país também de muito desporto, a Nova Zelândia, onde estamos a tentar arranjar parceiros como temos no Canadá e nos EUA.
Normalmente, são treinadores com uma boa rede de contactos e que gostam de viajar e ajudam-nos a vender os nossos produtos, os nossos programas nos diversos destinos.
E depois uma boa experiência é metade da venda.
Exatamente. O boca-a-boca, depois de uma boa experiência é fundamental.
Há um potencial enorme para o Turismo Desportivo e terá de haver um diálogo e um trabalho conjunto entre municípios e entidades. E não pode ser pontual
E o que é que atrai mais essas equipas para virem para Portugal? Que concorrência tem Portugal no Turismo Desportivo?
A segurança é fundamental para este tipo de equipas que vêm dos EUA e do Canadá.
Em termos de concorrência, temos a Grécia, agora com o fenómeno do basquetebol com o Giannis Antetokounmpo [jogador dos Milwaukee Bucks, na NBA].
Agora os treinadores querem ir todos para a Grécia. Depois, temos a Croácia, a Espanha muito forte.
Além disso, e também por causa do basquetebol, Itália é muito forte, temos vários grupos a ir para Paris. França tem instalações de topo, apesar de nós, em Portugal, para a dimensão que temos, não envergonhamos ninguém. Temos um dos melhores velódromos do mundo, mas foi um investimento de 15 milhões.
E isto são equipas que vão, como se costuma dizer, umas atrás das outras?
É um pouco isso e tem sido bem visível no basquetebol.
E o fator preço, que importância tem?
Tem mais importância no mercado amador, mas conseguimos ter uma oferta competitiva.
Depois da pandemia fiquei preocupado com o aumento exponencial de preços, principalmente na hotelaria.
Os preços na hotelaria e nos transportes aumentaram muito. Julguei que iríamos sofrer impactos, mas como disse, 2022 e 2023, foram anos bons.
As equipas queixam-se bastante, mas se Portugal subiu os preços, os outros mercados/países subiram ainda mais. Não é um problema português.
É global?
Sim. Em Inglaterra, o ano passado fiz um tour em Londres e um half-day de autocarro de 50 lugares era 1.500 euros. Em Portugal ronda os 600 ou 700 euros por dia.
Pergunto, novamente, a nossa oferta é competitiva no Turismo Desportivo?
Os preços são absurdos. Na hotelaria, temos hotéis tão ou mais caros que em Espanha. Lisboa está mais cara que Barcelona, mais cara que Madrid. O Porto então é uma loucura.
E estas equipas, quando vêm a Portugal, escolhem especificamente uma região, uma cidade, ou deixam nas vossas mãos a escolha?
Se for alta competição, normalmente, já sabem o que querem. Sabem as valências, o que há em Vila Real de Santo António, o que há em Melgaço ou em Marbella, sabem onde está o melhor ginásio, o melhor pavilhão, a melhor piscina. Portanto, normalmente, dizem o que querem e procuram a disponibilidade.
Neste tipo de grupos mais amador, que querem fazer uma excursão, ter uma atividade paralela, normalmente, enviamos duas ou três propostas. Pode ser uma cidade, duas cidades ou três cidades combinadas. Com grupos norte-americanos, por exemplo, temos feito, no mínimo, duas cidades. Pode ser Lisboa e Porto, como pode ser Lisboa e Madrid, ou Lisboa e Barcelona. Eles aterram em Lisboa, fazem três ou quatro noites aqui, depois voam para Barcelona e saem de lá.
Mas em Portugal, a procura centra-se mais em que região?
Lisboa e Algarve. O Porto também começa a ter procura, mas não temos tanto desporto, tanta diversidade. Há muito futebol, mas não há rugby, não há piscinas disponíveis, não há tantos clubes de ténis. E depois há o fator clima. Se formos, em janeiro, para o Algarve, as probabilidades de ter bom tempo são muito maiores.
E estas equipas, quando vos procuram, procuram-vos com quanto tempo de antecedência?
Um ano. Esta equipa, por exemplo, [Wheaton College (EUA)], esteve cá em maio de 2025, precisou de ser trabalhada em maio de 2024. Isso é ótimo.
Mas isso é com todas as equipas e modalidades?
Com o mercado americano ou canadiano, os mercados long-haul começam a trabalhar um ano antes. É ótimo por causa do problema da hotelaria, permite-nos “agarrar” os quartos com antecedência para poder negociar tarifas a preços menos proibitivos.
E os europeus?
Os europeus é um pouco mais em cima, tipo seis meses. Ultimamente, desde a pandemia, às vezes temos uns “last minutes”.
É muito mais caro vir para Portugal do que para Espanha e estamos a perder equipas para a Espanha, porque os voos são mais baratos. É um problema fora do nosso controlo
Procura-se base de dados de equipamentos
Apontou as dificuldades ou dos desafios dos preços, nomeadamente, na hotelaria e nos transportes. contudo, muitos dos equipamentos existentes são autárquicos. Há uma ligação, facilidade para a utilização desses equipamentos espalhados pelo país?
Essa é a nossa guerra diária, já que muitas vezes são equipamentos que estão desaproveitados.
Mas conseguem explicar à autarquia ou à localidade que ter lá essas equipas a estagiar é uma mais-valia, traz dinheiro para a localidades, para a região?
Aí está um problema. Nós falamos com os executivos, vamos lá, falamos com os vereadores, com os chefes de divisão, moram lá, trabalham lá, conhecem a realidade. Mas depois vem a parte operacional e aí não estão preparados para reservas, não têm uma tabela de preços, não estão preparados para uma atividade comercial, mas estão cedentes de receita. Portanto, aqueles municípios que conseguem adaptar-se e montar uma pequena estrutura e dinamizar, saem, naturalmente, beneficiados.
Mas há vários equipamentos espalhados pelo país que estão desaproveitados e que podem e devem ser rentabilizados?
Pois há, mas aí entramos numa estratégia de âmbito nacional que não existe para o Turismo Desportivo.
O Turismo de Portugal, por exemplo, não olha para o Turismo Desportivo?
Está a olhar. Pode dizer-se que já não olha só para o golfe ou para o surf. A criação do “Portugal Events” foi uma ótima iniciativa.
Repare, nós geramos 9 mil noites de hotel no “Algarve 7s”. Portanto, começou a perceber-se que existe aqui um potencial enorme. Não é, por exemplo, o Estoril Open, que gera visibilidade, mas depois em termos de receita fica aquém. Estamos a falar de um desporto individual, que traz 100 tenistas.
O “Algarve 7s” traz 2.500 jogadores e ficam 4 a 5 noites.
Olha-se muito para aqueles grandes eventos que dão nome, mas depois em termos de receitas deixam cá pouco?
Não, o “Portugal Eventes” é muito na ótica da receita gerada. O que nos dão é indexado ao que geramos.
Repare, com o “Algarve 7s”, deixamos um impacto económico considerável em Vila Real de Santo António e não é só na hotelaria, nos transferes, mas também na restauração e noutras atividades.
Além disso, tentamos sempre envolver fornecedores locais. Isso também é importante, haver essa ligação, levar para lá esta gente toda e depois envolver a comunidade local e dar a perceber à comunidade local, de facto, o que eles podem ganhar com a vinda destas equipas.
Quais são as maiores preocupações de quem pretende estagiar, treinar, fazer um tour desportivo em Portugal?
As equipas, por norma, sabem que Portugal é um país seguro, há boa gastronomia, sabemos receber bem. Sabe, temos muita sorte, somos uns privilegiados. Temos é de trabalhar mais em conjunto no e com o turismo, as tais infraestruturas, as entidades que tutelam. A Confederação do Desporto de Portugal (CDP) tem os CAR (Centros de Alto Rendimento), devia de haver alguém no Turismo de Portugal que juntasse esta malta toda e criasse um banco de dados de todas as infraestruturas, que ajudasse os municípios a comercializarem um ou mais produtos. Até porque sabemos que não existem atletas locais para todas estas infraestruturas.
Nós vamos ter cá uma equipa dos EUA – Dickinson College – a fazer um estágio de atletismo, em agosto. Vão treinar na pista de corta-mato, no Estádio Nacional, vamos fazer um meeting, um treino competitivo, com um clube do Seixal, com o Belenenses e com o Clube Maratona, na pista de tartã no Jamor. É um exemplo perfeito de uma infraestrutura que existe, subaproveitada e que iremos utilizar num intercâmbio com diversas entidades.
E há uma taxa de repetição significativa de equipas que pretendem voltar?
Isso é a maior vantagem competitiva de Portugal. A taxa de esforço que temos para trazer um grupo novo ou um grupo repetido é completamente diferente. Temos imensos grupos repetidos.
Temos equipas, como o Sevenoaks Town F.C., um clube de futebol com sede em Sevenoaks, Kent, Inglaterra, por exemplo, que viaja connosco, já fez mais de 10 tours connosco. Ganharam confiança, gostaram do destino e repetem. Vão sempre para as Academias do Benfica ou do Sporting.
Esta equipa do Wheaton College, que além do estágio, quis fazer serviço comunitário, estiveram na Fundação O Século, estiveram a pintar uma escola, já disseram que dentro de dois anos querem repetir.
É preciso perceber que se trata de uma equipa universitária, que não viaja todos os anos, tratando-se, obviamente, de uma questão económica. Mas vão voltar.
Portanto, 90 pessoas?
Sim. No início de junho tivemos um grupo de 112 pessoas que ocuparam todo o Hotel Londres, no Estoril, durante uma semana. Uma equipa do Reino Unido, de futebol sub-16, foi para a Academia do Benfica, jogar com o Amora e outras equipas.
Ora, isto é muito mais interessante que o golfe. Isto é o ano todo e grupos que ficam, no mínimo, em meia-pensão.
Ligações caras
O que é preciso fazer para aumentar a competitividade de Portugal a nível internacional?
Voos mais baratos. É um problema sério. É muito mais caro vir para Portugal do que para Espanha e estamos a perder equipas para a Espanha, porque os voos são mais baratos. É um problema fora do nosso controlo. Por exemplo, para o “Algarve 7s” deste ano, no Rugby tivemos menos equipas. O aeroporto do Algarve é caríssimo.
O Turismo de Portugal deveria atuar?
Sim, poderia pressionar. Está tudo a querer ficar rico. As lowcost estão a cobrar 500 euros para voos de Londres para Faro. Para o “Algarve 7s” foi buscar pessoas a Lisboa, a Sevilha.
E que parcerias são fundamentais, sejam públicas, sejam privadas, para ajudar?
Há um potencial enorme para o Turismo Desportivo e terá de haver um diálogo e um trabalho conjunto entre municípios e entidades. E não pode ser pontual.
Portugal devia ter uma marca para o Turismo Desportivo. Estive recentemente num evento em Málaga e estava lá a Flórida, com a “Florida Sportsales”. Portugal devia ser a Flórida da Europa.
A Fundação do Desporto fez um vídeo com os centros de alto rendimento. Fantástico. Vi o vídeo, mas não vejo aquilo a promover Portugal e o Turismo Desportivo de Portugal em lado nenhum.
Falta, portanto, promoção?
Falta muita promoção. E não é preciso fazer grandes investimentos. Fazer como se faz, e muito bem, com o turismo de forma geral, apostar no marketing digital, com campanhas específicas, cirúrgicas, ir a eventos específicos, como este que referi em Málaga que era só de Sports Camps, estavam lá os principais destinos do mundo. Portugal estava lá, mas com esforços desgarrados, não era o Turismo de Portugal, estava a região do Centro, estava o Algarve. Porque não estava lá o Turismo de Portugal, como fazem em outros segmentos, no vinho, por exemplo. Estava lá Vila Real de Santo António, mas não estava preparado para vender, estava lá o vereador, não tinham um vídeo para apresentar as valências que possuem, estava uma imagem. Estamos a concorrer com a Turquia, que tem vídeos muito bem preparados a nível comercial.
Portanto, promoção, mas antes preparação, fazer o trabalho de casa e mostrar o que de tão bom temos.