Isto é um desabafo de alguém na meia-idade. Se acharem longo ou chato, move along.

A 17 de Julho de 2025, praticamente todas as televisões falaram sobre o relatório da AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, assim como os jornais nas suas páginas e sites. Foi o tal relatório que deu este tipo de cabeçalhos: Incêndios com origem criminosa são quase todos no Norte e Centro

Nas televisões, a notícia também ganhou destaque. Recordo-me de uma peça da SIC em que se entrevistou o presidente da AGIF, Tiago Martins de Oliveira. A peça alertava para uma mudança de comportamentos, em especial, pela comunicação social. De forma responsável, pedia-se uma cobertura mais comedida dos incêndios para evitar imagens que possam levar ao mimetismo, um fenómeno totalmente provado como causador de incêndios pelos seus autores..

A peça da SIC está em toda a sua glória no seu site em Incendiários responsáveis por 84% da área ardida em Portugal no ano passado
. Sim, podem consultar HOJE, enquanto estes tipos passam os directos dos fogos na janela ao lado.

Recortei o trecho com as palavras da jornalista e recomendações do presidente da AGIF, aqui: https://streamable.com/63fs0u

Basta ouvir. Sério, ouçam, são só 30 segundos. Só se pede para evitarem a merda das imagens do fogo, da constante cobertura sem grande interesse jornalístico, a não ser criar choque e manter mais pessoas agarradas em frente ao televisor, a babarem-se, ávidas por ver mais desgraça na TV. Os editores e directores das TV masturbam-se com isto, claro. Ter mais pessoas, mesmo que acéfalas, significa ter a continuidade do negócio assegurado. Na verdade, não sei como é que a peça da SIC tem aquela consideração sobre os comportamentos a adoptar pelas TVs. O mais provável é ter escapado ao editor que hoje mesmo pede a estes jornalistas para mostrarem mais fogos a arder em directo.

Nisto, chegamos ao dia de hoje, 20h00. E, é isto que vemos.

CMTV

CNN

RTP1

SIC – Tantos em directo…

SIC, um bom foguinho para mostrar

TVI

Galeria de screenshots

Hipócritas de merda. Quando estes fogos se apagarem, estas mesmas televisões vão organizar grandes debates alargados sobre a temática "Causa dos incêndios: De quem é a culpa? (não é nossa, claro, lol)"

O meu próximo desabafo será sobre um tema totalmente surpreendente: O vício do jogo e o papel de merda que mais uma vez as televisões (e não só) desempenham.

by sup3rfm

17 comments
  1. Também acho o mesmo e quando vejo imagens disso mudo de canal.
    É recorrente ter fogos onde moro e é de uma aflição tremenda.
    Esses jornalistas de merda só querem ganhar com o azar do pobre coitado. E o pessoal fala da CM mas SIC RTP TVI faz tudo cobertura igual dos fogos.

  2. Falta-te aí o NOW! Agora a sério “…sem grande interesse jornalístico, a não ser criar choque e manter mais pessoas agarradas em frente ao televisor, a babarem-se, ávidas por ver mais desgraça na TV. Os editores e directores das TV masturbam-se com isto, claro. Ter mais pessoas, mesmo que acéfalas, significa ter a continuidade do negócio assegurado.” É só isto e nada mais!

  3. Ainda ontem postei aqui uma tese de mestrado que fala dos efeitos nocivos do maravilhoso papel das TVs. Não se podem queixar de falta de dados, tanto as direções de informação como as ERCs da vida.

  4. Por isso é que evito comentar em tópicos sobre fogos.

    Em geral, acho que as notícias deviam ser dadas, mas sem sensacionalismo. Notícias objectivas e sucintas.

    *Há um incêndio na localidade X, activo desde as Y horas, com Z meios activos, dos quais K aérios, N terrestres e Q homens.*

    *Em dias de risco de incêndio, não faça queimadas, não lance foguetes, etc etc.*

    *Para ajudar, pode fazer isto ou aquilo.*

  5. Os jornais ajudam a propagar esta merda mas há aqui muita irresponsabilidade e impunidade.

    Ninguem limpa nada.
    Quem queima não vai preso.
    Ninguém é responsável por nada.

  6. Quase que apostava o esquerdo que esse deve ser dos menores dos problemas nos incendios.

    Mas podemos pedir ai ao sr Tiago que nos mostre os dados do mimetismo e os dados da falta de planeamento da mata, da falta de limpeza, da falta de meios de combate para podermos medir o graus de importancia.

    Mas concordo que nao há necessidade de uma cobertura tão extensa

  7. O mais irónico é que as televisões parecem ter confundido cobertura com combustível. Em vez de apagarem o fogo da desinformação, deitam mais lenha para a fogueira com cada direto inflamado. Estão viciadas no calor das audiências e não perdem uma oportunidade para atiçar a tragédia, é um verdadeiro incêndio mediático, com repórteres de mangueira na mão mas gasolina nas palavras.

    A peça da SIC até tentou lançar um balde de água fria na pirotecnia jornalística, mas parece que os editores preferem ver o circo a arder. Não há extintor que chegue para tanto sensacionalismo. O mimetismo incendiário é real e documentado, mas para estas redações, quanto mais incêndios melhor, porque isto das audiências, tal como o fumo, sobe mais depressa quando o fogo é visível.

    É um ciclo vicioso.. o país arde, as televisões incendeiam os ecrãs, e depois ainda têm o descaramento de organizar debates sobre “quem pegou fogo à floresta?”. Spoiler: foram vocês, com os fósforos da exposição e o napalm de indignação. Pior que incendiários são os incendiadores de consciências.

    No fim, não sei o que é mais perigoso: os pirómanos de isqueiro ou os editores de telejornal. Ambos adoram ver a coisa a pegar, e onde há fumo, há fogo.

  8. Concordo inteiramente contigo.

    Há uma página do Facebook do meu concelho que proibiu publicações sobre os fogos porque “está-se a dar palco aos criminosos que ateiam fogos”

    Achei muito sensato e aplaudi.

  9. Ia fazer um post agora mesmo, ainda bem que não fiz porque disseste e exemplificaste muito melhor do que eu conseguiria. É que basta olhar para 2020 e 2021, anos de pandemia em que tudo era covid e vacinas e não sei que mais para perceber que quando de uma maneira ou outro se tira foco dos incêndios e das imagens (neste caso porque havia um tema muito maior), estes como que magicamente desaparecem.

    Para acrescentar, há muito interesse comerciais nos incêndios. Basta ver que todos os anos bombeiros são apanhados a iniciar o fogo (imaginem os que não são), sem incêndios de grande dimensão não tens como justificar os contratos multi milionários de meios de combate a estes (aviões, helicópteros etc). Os fogos em Portugal são ao mesmo tempo uma tragédia e um negócio.

  10. Isto. Proibir filmagens dos incendios a menos de 5km do fogo e ponto final.

  11. Da mesma forma que a comunicação social não noticia suicídios, também não devia noticiar incêndios. Mas só começam a fazer isso quando a comunicação social dos outros países europeus começarem a fazê-lo

  12. Nestas alturas, em vez de passarem reportagens sobre os incêndios, deveriam passar documentários sobre a importância dos matos, da floresta e vida selvagem em geral de Portugal. Mas isso dá mais trabalho.

  13. Bem, se as televisões não são capazes de se regularem talvez alguém deva fazê-lo por elas.

    E se fosse limitado o tempo de antena por cada fogo?

  14. É o clássico, não há mais nada para se falar/noticiar pegam todos no mesmo.

  15. Há um claro excesso por parte da comunicação social no que toca aos incêndios, não discordo da mensagem.

    Contudo, todos esses exemplos são relativos à abertura dos jornais. Não é normal e, de certa forma, expectável abrirem o noticiário com o que é mais relevante a acontecer no país? A meu ver, os diretos excessivos e prolongados sem acrescentar informação nova são mais prejudiciais e desnecessários, principalmente nos canais de notícias.

  16. Desespero e falta de ética jornalística. Agora pensemos como seria se para o ano não houvesse incêndios. O eu faziam as televisões na silly season?

    Não interessa que isto acabe. É uma novela para a grande maioria dos portugueses. Longe dos grandes centros.

    Bem, as autárquicas estão por aí. Lembrem-se disto na hora de votar.

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