



Como muitos de nós, quase todos os Verões faço umas férias na terrinha, e de preferência na altura da festa.
Sou descendente de duas aldeias em afluentes do rio Unhais. Nunca faltam os mergulhos e saídas de pesca nesses dias. Pelos penedos vão descendo ribeiras e poços alagados no espaço – e até no tempo. A montante levadas, represas e regadas pelas hortas. Eventualmente convergindo para o rio Unhais, mais tarde acolhido pela Barragem de Santa Luzia, engenhosamente construída numa crista quartzítica, onde este rio naturalmente desagua no Zêzere, com uma queda de 260 metros.
Em 1931, o objetivo principal desta infraestrutura hidro-eletrica seria abastecer Coimbra e a Covilhã, ainda num Portugal governado pela Ditadura Nacional. Curiosamente, a edificação da barragem incia-se simultâneamente com a ascensão de Salazar no poder. Que passa de Ministro das finanças a Primeiro Ministro em 32, e fundando o Estado Novo no ano seguinte.
Mas o principal interesse mais em abastecer de corrente elétrica o que se tornou em 1910 o Couto Mineiro da Panasqueira, que operava desde finais do século XIX. Ganhando especial interesse num clima pré-guerra em 1935, pela capacidade de minerar volframite em larga escala. Mineral de onde é possível extrair volfrâmio, ou tungsténio. Elemento altamente cobiçado tanto pelos Aliados como pelo Eixo e utilizado na produção de armamento.
Apesar na inundação total da albufeira só ter ocorrido num dia chuvoso de Novembro de 42, e a sua inauguração oficial em 43, a central já abastecia o Couto Mineiro desde, curiosamente, 1939 (para os mais desatentos, coincide com o início da Segunda Grande Guerra). Permitindo a Portugal lucrar mais com a venda do recurso mineral.
No entanto, não havia ainda sido acordada uma indemnização com todos os habitantes desalojados para o Casal da Lapa. Muitos deles que se negavam a ceder os seus chães que há tantas gerações os sustentavam, ou consideravam as propostas miseráveis. O que não só levantou ondas no espaço – como no tempo. Ainda hoje os descendentes destes resistentes, e talvez até um dos últimos, se lembram e contestam com grande sentimento de injustiça e sacrifício.
Queria assim suscitar a vossa interação e debates das várias questões que daqui surgem. O impacto socio-cultural da industrialização e independentização energética. A postura da Companhia Elétrica das Beiras face aos Vidualenses e outros povos vizinhos que não foram devidamente compensados, e também a posição do próprio Estado Novo no desenrolar da segunda guerra.
Para concluir, queria pedir a qualquer leitor que possa corrobar ou acrescentar informações acerca da história desta barragem que não se iniba de o fazer, pois será bem vindo.
by SHRIMPLYtv
2 comments
simultâneamente → [**simultaneamente**](https://dicionario.priberam.org/simultaneamente) (o acento tónico recai na penúltima sílaba)
hidro-eletrica → [**hidroelétrica**](https://dicionario.priberam.org/hidroelétrica)
TL;DR gerado por I.A.
A Barragem de Santa Luzia foi construída para alimentar de energia a região e sobretudo as minas da Panasqueira, essenciais pela extração de volfrâmio na Segunda Guerra. Operou desde 1939, antes da conclusão oficial, beneficiando economicamente Portugal. A construção desalojou habitantes do Vidual de Baixo, muitos sem justa compensação, deixando mágoas duradouras. O texto incentiva discussão sobre impactos sociais, o papel do Estado Novo e mais contributos históricos.
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