Álvaro Santos Pereira prometeu mudanças no Banco de Portugal – tornando-o “mais aberto e mais próximo dos portugueses” – e garantiu que irá promover uma supervisão “atenta e exigente”, ao mesmo tempo que prometeu maximizar a eficiência do organismo e da sua estrutura. Ao lado de Santos Pereira, na cerimónia no Museu do Dinheiro, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, fez um curtíssimo agradecimento a Mário Centeno “pelos anos” em que desempenhou o cargo.
“Tencionamos honrar a história do banco mas fazendo-o quebrando silos e ineficiências”, afirmou Álvaro Santos Pereira, anunciando que será criada uma Secretaria-geral do banco que terá a missão de promover a integração dos processos e procedimentos. No âmbito desse trabalho, vão ser consultados os trabalhadores e as estruturas da organização para se perceber se é possível melhorar o grau de eficiência que existe no Banco de Portugal, promovendo-se uma “cultura de colaboração entre os diferentes departamentos”
Santos Pereira anunciou, também, que vai ser revista a “lei orgânica, que carece de modernização”. “Um banco central que se quer moderno não se compadece com uma lei orgânica que não o reflita”, afirmou o novo governador, prometendo um Banco de Portugal que será “mais aberto e mais próximo dos portugueses”. Todos os trimestres o banco vai estar numa zona diferente do país para falar com as pessoas e com as empresas, para aferir o desenvolvimento da economia, adiantou.
“Agora, é hora de arregaçar as mangas e pormo-nos ao trabalho”, concluiu Santos Pereira.
O novo governador do Banco de Portugal, que discursou num púlpito ao lado de Miranda Sarmento, ministro das Finanças, salientou que entre “as prioridades do Banco de Portugal” estará “participar ativamente na política monetária, ao nível do Eurossistema; continuar a ter uma política macroprudencial atenta aos riscos emergentes que ameacem a estabilidade financeira, sobretudo tendo em conta a enorme subida dos preços no imobiliário” que se regista em Portugal.
Dedicando alguns minutos do seu discurso a esse tema, Santos Pereira elogiou as medidas apresentadas pelo Governo de Luís Montenegro mas salientou que “é preciso fazer mais, muito mais” para garantir maior oferta no mercado imobiliário. O novo governador sublinhou que uma grande parte da solução passa pela melhoria nos licenciamentos.
A supervisão bancária será “atenta e exigente” para “continuar a reforçar a resiliência do setor”, acrescentou.
Num discurso onde não fez referência direta ao mandato de Centeno, Santos Pereira acrescenteou que “a independência dos bancos centrais tem sido questionada em muitos quadrantes”, em várias parte do mundo, mas defendeu que a independência é essencial para garantir a estabilidade financeira e a estabilidade dos preços.
Santos Pereira lembra que a crise que assolou Portugal na década passada ainda está bem presente na memória dos portugueses. Hoje, “estamos, inegavelmente, melhor do que estávamos há uma década, mas não podemos ser complacentes“. É preciso uma atitude reformista para que a economia “cresça mais”. E é fundamental continuar a reduzir o nível de endividamento, que “continua demasiado alto para estarmos confortáveis”.
Na área dos pagamentos, o Banco de Portugal tem uma posição de “neutralidade” e advoga o poder de escolha dos portugueses, garantindo que o numerário vai continuar a ser utilizado e distribuído por todo o território nacional. As soluções digitais trazem mais conveniência mas também trazem mais risco de fraude. Cabe ao Banco de Portugal estar “atento” a estes riscos.
Álvaro Santos Pereira garante, também, que irá ter uma interação próxima com o Governo no âmbito da literacia financeira, incluindo campanhas concertadas entre os membros do conselho nacional de supervisão financeira (que também inclui a CMVM e a ASF).
Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, falou depois de Santos Pereira e começou por agradecer – de forma muito rápida – ao governador cessante, Mário Centeno, “pelos anos em que exerceu o cargo”, bem como a restante administração.
Ao governador que nesta segunda-feira inicia funções, desejou boa sorte no desempenho do cargo e disse que o seu currículo e competência “não deixa dúvidas sobre a sua capacidade de representar Portugal nos mais diferentes fóruns”.
Tal como Santos Pereira, Miranda Sarmento também destacou a importância da literacia financeira. “É essencial que os clientes bancários reconheçam informação verdadeira de informação falsa“, que os deixa expostos a fraudes, afirmou o ministro das Finanças.
“Num mundo cada vez mais complexo”, Miranda Sarmento destaca que “o setor financeiro tem tido uma boa capacidade de adaptação – tal como os supervisores – às mudanças na supervisão bancária”. E, no final do seu curto discurso, o ministro das Finanças voltou a desejar “boa sorte” ao novo governador e a todos os outros que estão no Banco de Portugal.
A sessão de apresentação do novo governador terminou com cumprimentos por parte da audiência – que incluiu vários banqueiros e responsáveis do setor – que formaram uma fila para, um a um, cumprimentar o novo governador. Mário Centeno foi um dos primeiros a fazer esse cumprimento, abandonando a nave do Museu do Dinheiro logo de seguida.
A promoção adiada e o almoço cancelado. Os tensos últimos dias de Mário Centeno no Banco de Portugal