Lorena Barberia coassina estudo que estima o impacto da mortalidade entre adultos que cuidavam de crianças, o que acabou por resultar no aumento da orfandade

Imagem de uma carroceria de caminhão onde estão expostos vários caixões sob os cuidados de vários homens de uniforme laranja ou azulA maior parte das mortes por covid envolveu a perda de um único cuidador, frequentemente idosos com mais de 60 anos, grupo mais vulnerável à doença – Foto: Alex Pazuello/Prefeitura de Manaus-Secom
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Mais de 1,3 milhão de crianças brasileiras perderam pais ou responsáveis nos dois primeiros anos da pandemia de covid-19, segundo artigo publicado na Lancet Regional Health – Americas. O estudo, coassinado pela professora Lorena Barberia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, combinou modelagem estatística e dados do registro civil para estimar o impacto da mortalidade entre adultos que cuidavam de crianças.

Desigualdades e perfis afetados

De acordo com a professora, a maior parte dos casos envolve a perda de um único cuidador, frequentemente idosos com mais de 60 anos, grupo mais vulnerável à doença. “Em muitas famílias brasileiras, o principal responsável era uma pessoa idosa, o que ampliou a magnitude da orfandade”, explica. O levantamento também mostra que adolescentes entre 12 e 17 anos foram os mais afetados, faixa etária em que o impacto emocional tende a ser ainda mais sensível.

Mulher de cabelos longos, lisos e escuros, usando camisa vermelhaLorena G. Barberia – Foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP/CC BY-NC-ND 2.0

Entre as mais de 1,3 milhão de crianças órfãs, aproximadamente 280 mil tiveram perdas diretamente associadas à covid-19 — 149 mil perderam pais e 135 mil, avós ou outros cuidadores idosos. A orfandade, porém, variou bastante pelo território nacional: Roraima apresentou as maiores taxas proporcionais, enquanto Santa Catarina registrou as menores.

Falta de políticas e legado da pandemia

Para Lorena, o Brasil se destaca por ter dados que permitem vincular crianças a adultos falecidos nas declarações de óbito, o que ajudou a validar as estimativas. Apesar disso, ela alerta para a falta de políticas públicas específicas. “Houve um trauma muito grande, e ainda não temos mecanismos para identificar e atender essas crianças de forma adequada”, afirma.

O estudo reforça que compreender a dimensão da orfandade é essencial para orientar políticas sociais e educacionais. “Precisamos garantir que essas crianças não fiquem desamparadas. É um legado silencioso da pandemia que o País ainda precisa enfrentar”, conclui a especialista.

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