“Não estão reunidas as condições para que possa exercer as funções de primeiro-ministro”, afirmou esta segunda-feira Sébastien Lecornu, ao anunciar o seu afastamento do cargo, citado pelo jornal francês “Le Monde”. Sai do cargo sem concretizar a tarefa que lhe foi confiada pelo Presidente Emmanuel Macron: constituir um Governo capaz de criar estabilidade política e institucional com vista à união do país.

Lecornu foi o quinto primeiro-ministro francês em apenas três anos. Com a demissão aceite por Macron, o país volta a entrar num impasse político. Visto como uma figura próxima de Macron, o político de 39 anos enfrentou protestos desde o seu primeiro dia no cargo, quando centenas de pessoas foram detidas. Há menos de uma semana, dezenas de milhares de manifestantes saíram à rua em protesto contra planos de austeridade.

A saída surge horas depois de ter anunciado a composição parcial do seu Governo, que apresentava vários nomes do gabinete do antecessor e mereceu críticas da esquerda e da extrema-direita.

O primeiro-ministro demissionário afirmou que estava disposto a chegar a compromissos, apontando o dedo à falta de flexibilidade da oposição: “cada partido político queria que o outro adotasse o seu programa de forma integral”. “A composição do Governo dentro de uma base comum não era fluída e deu origem a alguns apetites partidários”, disse, dando a entender que em parte estavam relacionados com as próximas eleições presidenciais.

Manifestante na Praça da República. No cartaz lê-se “comam os ricos”

Mateus Santa Rita

Lecornu defendeu que tentou “construir um caminho com os principais parceiros sociais, forças patronais, forças representantes dos sindicatos, sobretudo em questões que têm sido objecto de bloqueios há muitas semanas”, dando como exemplos o subsídio de desemprego e a Segurança Social, para “construir um roteiro” com uma base comum.

Da extrema-direita já surgiram apelos a eleições legislativas antecipadas. “A dissolução (do Parlamento) é absolutamente necessária”, disse Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional, noticiou a France 24. Le Pen, anterior candidata presidencial, afirmou ainda que seria “inteligente” que Macron se demitisse.

À esquerda, o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, adotou um posicionamento idêntico. “É uma situação política sem precedentes históricos. Temos o dever de responder dando novamente a voz ao povo”, escreveu na rede social X. Mélenchon propôs uma reunião esta tarde com os partidos de esquerda para “avaliar todas as hipóteses abertas por esta situação” e apelou também à destituição de Macron.