LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Estudos da USP mostram conexão entre fome, saúde e meio ambiente no Brasil.
  • A insegurança alimentar aumentou, especialmente nas regiões Norte e Nordeste após 2018.
  • Alimentos de baixa qualidade impactam saúde e meio ambiente, enquanto opções saudáveis são prejudicadas.
  • É essencial garantir acesso a alimentos nutritivos e produção sustentável para combater a fome de forma eficaz.

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Comer bem é cuidar do futuro. Imagem Gerada por AI

No Brasil, falar de comida vai muito além de escolher o que colocar no prato. Dois estudos recentes, publicados por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP e colaboradores de outras universidades nacionais e internacionais, mostram que a fome, a saúde e o meio ambiente estão profundamente conectados e que é necessário pensar nessas dimensões de forma conjunta.

O primeiro, de autoria de Lucas Moura, publicado na revista Food Security, analisou quase duas décadas de dados sobre insegurança alimentar no país.

Entre 2004 e 2013, houve avanços: mais famílias passaram a ter acesso regular à comida. Mas a partir de 2018 o cenário piorou, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

Nessas áreas, pobreza, falta de infraestrutura básica, saúde infantil fragilizada e degradação ambiental caminham juntas, criando um ciclo perverso: quanto piores o ambiente e as condições sociais, maior a insegurança alimentar.

O segundo estudo, publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health e conduzido por Marhya Júlia Leite, investigou os alimentos mais consumidos no Brasil e mostrou que escolhas como carne bovina e ultraprocessados trazem prejuízos múltiplos: reduzem o tempo de vida saudável, aumentam o risco de doenças crônicas e sobrecarregam o meio ambiente. Já o consumo de peixe de água doce, banana e feijão, por exemplo, prolonga a expectativa de vida saudável e gera menos impactos ambientais.

Quando juntamos essas duas perspectivas, o quadro fica ainda mais evidente: nas regiões onde a fome é mais presente, as pessoas também estão mais expostas a dietas de baixa qualidade, que na maioria das vezes são baseadas em alimentos baratos, pouco nutritivos e ambientalmente danosos.

Ou seja, a mesma população que sofre com a insegurança alimentar carrega também maiores riscos à saúde e os efeitos de um ambiente degradado.

É nesse ponto que ferramentas como o Health Nutritional Index (HENI), utilizado no segundo estudo, podem ser úteis. Esse índice calcula, em base populacional, os minutos de vida saudável ganhos ou perdidos com a alimentação, considerando tanto os impactos na saúde quanto no planeta.

Ele traduz em números concretos o peso das escolhas alimentares, mas também revela como desigualdades estruturais limitam a possibilidade de escolher melhor.

Combater a fome não é apenas garantir quantidade de comida, mas também qualidade e sustentabilidade. Políticas públicas precisam tanto assegurar acesso a alimentos nutritivos quanto incentivar modos de produção que preservem o ambiente.

E há boas notícias. Recentemente, o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO, um marco importante diante dos retrocessos da última década. Mas, para que essa conquista se mantenha, é essencial ouvir o que estes estudos revelam: só será possível consolidar os avanços se o combate à fome vier acompanhado de ações que garantam dietas mais saudáveis e ao mesmo tempo sustentáveis.

Afinal, comer bem deve ser um direito de todos, ao mesmo passo que aumenta a expectativa de vida e preserva o planeta.

Lucas Moura: Nutricionista. Mestre em Estatística Aplicada à Saúde (UFPB). Doutor em Ciências (USP). Pesquisador no Departamento de Nutrição da FSP-USP.

Marhya Júlia Leite: Nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e Mestranda no Programa de Pós-Graduação Nutrição em Saúde Pública da mesma universidade.
Acervo Pessoal

Ambos os estudos foram apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (processos nº 2022/13640-7 e 2022/03091-6).

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