Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, lamentou nesta segunda-feira que os aliados de Kiev na guerra contra a Rússia continuem a permitir que empresas dos seus países fabriquem e forneçam componentes utilizados em armamento que está a ser utilizado pelas Forças Armadas russas para atacar o território ucraniano.

Numa detalhada mensagem publicada na rede social X, Zelensky afirmou que só no ataque levado a cabo pela Rússia contra a Ucrânia durante a madrugada do passado domingo foram usados “549 sistemas de armas que continham 102.785 componentes fabricados no estrangeiro”.

Segundo o chefe de Estado ucraniano, estas peças foram produzidas em empresas da China, aliada “tácita” de Moscovo no conflito, mas também dos Estados Unidos, de Taiwan, do Reino Unido, da Alemanha, da Suíça, do Japão, da Coreia do Sul e dos Países Baixos, todos apoiantes, mais ou menos comprometidos, de Kiev.

Zelensky detalha que a grande maioria das peças fabricadas fora da Rússia foi encontrada em drones, mísseis de cruzeiro Kalibr, mísseis hipersónicos Khinzal e mísseis de curto alcance Iskander.

“Em particular, empresas nos Estados Unidos fabricam conversores para mísseis Kh-101 e para drones do tipo Shahed/Geran; sensores para esses UAV [veículos não tripulados] e para mísseis Kinzhal; conversores analógico-digitais para drones e mísseis; e microelectrónica para mísseis”, enumerou.

De acordo com as autoridades ucranianas, os bombardeamentos russos de domingo, que incidiram, sobretudo, na província de Lviv, no extremo ocidental do país, perto da fronteira com a Polónia, envolveram cerca de 500 drones e mais de 50 mísseis.

Pelo menos cinco pessoas morreram e milhares ficaram sem electricidade devido aos danos causados pelos bombardeamentos russos contra infra-estruturas críticas.

Dando conta da existência de propostas ucranianas para “novas sanções” destinadas aos “países que ajudam a Rússia e a sua guerra”, que incluem a restrição dos “esquemas de fornecimento” de peças utilizadas em armas russas, o Presidente garantiu que os aliados da Ucrânia “já possuem dados detalhados sobre cada empresa e cada produto”.

“Esta semana, os coordenadores de sanções do G7 vão reunir-se e esperamos uma decisão sistémica para garantir que as sanções são realmente eficazes. É crucial acabar com todos os esquemas que contornam as sanções, porque a Rússia usa cada um deles para continuar a matar. O mundo tem poder para o impedir”, apelou Zelensky.


Com o Presidente dos EUA, Donald Trump, a insistir perante os líderes dos governos dos países europeus da NATO que deixem de importar petróleo e gás natural da Rússia, de forma a não continuarem a alimentara “máquina de guerra” russa, Zelensky acredita que também é possível convencer os seus aliados da Ucrânia a não permitirem que as suas empresas contribuam para a produção de armas russas.

Ainda no campo do armamento, o Presidente da Ucrânia revelou nesta segunda-feira, em declarações aos jornalistas, a partir de Kiev – onde recebeu o primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof –, que os ataques realizados nos últimos dias pelas Forças Armadas ucranianas contra alvos militares e energéticos russos envolveram a utilização de armas fabricadas no país.

“Nos últimos dias, a Ucrânia tem usado exclusivamente produtos ucranianos [e] não apenas drones”, afirmou, citado pela Reuters, depois de ter sido questionado se a Ucrânia tinha disparado seu novo míssil de longo alcance Flamingo.

Horas antes, o Exército ucraniano disse ter atacado uma fábrica de produção de explosivos e de munições utilizados pelas Forças Armadas russas, localizada na zona ocidental do país, assim como um terminal petrolífero situado na província da Crimeia, ocupada por Moscovo desde 2014.

Na semana passada, o Wall Street Journal noticiou que a Administração Trump tinha dado “luz verde” para a partilha de informações secretas para ajudar a Ucrânia a atingir infra-estruturas críticas, nomeadamente energéticas, dentro do território russo.

O Ministério da Defesa da Federação Russa declarou, por sua vez, que a Força Aérea atingiu infra-estruturas energéticas, instalações da indústria petrolífera e locais de armazenamento e de lançamento de drones de longo alcance na Ucrânia.