Os Estados Unidos deverão aplicar a partir de sexta-feira uma tarifa de 35 por cento em todos os produtos canadianos que não estejam abrangidos pelo acordo entre EUA, México e Canadá. Agora, o entendimento entre os dois países parece ter ficado ainda mais difícil após o anúncio de Otava sobre a questão israelo-palestiniana.

“Uau! O Canadá acabou de anunciar que apoia a declaração de um Estado da Palestina. Isso vai fazer com que seja muito difícil chegarmos a um acordo comercial com eles”, afirmou Trump numa publicação na rede social Truth Social. 

O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, já tinha indicado que as negociações com Washington para um acordo comercial estavam a ser construtivas, mas que poderiam não resultar em entendimento até ao prazo de 1 de agosto. Apesar da “intensidade” das negociações, chegar a um acordo que possa remover todas as tarifas será “improvável”, reconheceu o chefe do Governo canadiano ainda antes do anúncio sobre a Palestina.

O Canadá é o segundo maior parceiro comercial dos Estados Unidos depois do México e o maior comprador de exportações norte-americanos, assim como o principal fornecedor de aço e alumínio. No mês passado, o governo de Carney deixou cair um plano de tarifas a aplicar aos serviços digitais de empresas de tecnologia
norte-americanas de forma a facilitar as negociações.

Otava é mais um dos parceiros comerciais dos Estados Unidos que procura alcançar à última hora um acordo comercial com o país antes do prazo final de 1 de agosto. De recordar que foram vários os países a chegar a um entendimento com Washington nas últimas semanas, desde o Japão, a União Europeia, e mais recentemente a Coreia do Sul. Faltam ainda acordos com outros parceiros comerciais de relevo como o Canadá, o México ou a China, bem como a Índia.

Reconhecimento do Estado palestiniano

O anúncio do Canadá na última quarta-feira surge após uma vaga de outros países terem também admitido dar o mesmo passo. “O Canadá tem a intenção de reconhecer o Estado da Palestina no durante a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2025”, declarou Mark Carney numa conferência de imprensa em Otava.



“O Canadá condena o facto de o Governo israelita ter permitido o desenrolar de uma catástrofe em Gaza”, acrescentou Carney, considerando que o nível de “sofrimento humano” no enclave palestiniano é “intolerável”.

O primeiro-ministro explicou ainda que este passo é motivado por uma convicção de “longa data” a favor de uma solução de Dois Estados. Mark Carney esperava que tal solução “fosse alcançada através de um processo de paz com base num acordo negociado entre o Governo israelita e a Autoridade Palestiniana”.

Uma possibilidade que, considera, está “a desvanecer-se diante dos nossos olhos”, argumentou.

A abordagem anterior “já não é sustentável” perante o “terrorismo do Hamas” e a “rejeição violenta de longa data por parte do grupo do direito de Israel à existência”, mas também o “fracasso persistente” de Israel em evitar uma catástrofe humanitária em Gaza, a violência dos colonos israelitas na Cisjordânia e os planos de anexação do território palestiniano.

Israel condenou de imediato o anúncio por parte do Canadá. Telavive denunciou uma “campanha distorcida de pressão internacional” que reforça a “posição do Hamas na mesa das negociações”. 



O MNE israelita considerou que o Governo canadiano está a “recompensar o Hamas” com esta decisão, ao mesmo tempo que “prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza” e o processo de libertação de reféns.

Por sua vez, a Autoridade Palestiniana saudou o anúncio por parte do Canadá, considerando que “marca um passo significativo” sobre o direito à autodeterminação.



O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, que governa zonas da Cisjordânia ocupada por Israel, indicou que considera a posição do Canadá como uma reafirmação do consenso internacional sobre a solução de Dois Estados.

Ramallah pede ainda a todos os países que ainda não reconhecem o Estado da Palestina a dar esse passo “com coragem e determinação”.

A posição de Portugal

Também na quarta-feira, a diplomacia portuguesa admitiu a possibilidade de reconhecer o Estado da Palestina, posição assumida numa declaração conjunta assinada no final da conferência sobre a solução “dois Estados” que decorreu nas Nações Unidas.

“Antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo que terá lugar durante a semana de alto nível da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2025, (…) já reconhecemos, expressámos ou expressamos a vontade ou a consideração positiva dos nossos países em reconhecer o Estado da Palestina, como um passo essencial para a solução de dois Estados”, lê-se na declaração conjunta subscrita pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. 

Portugal juntou-se a outros países europeus (Andorra, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovénia e Espanha) na assinatura deste documento, assim como ao Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

No caso de Espanha, Irlanda, Eslovénia e Suécia, estes países já reconhecem o Estado palestiniano desde 2024. França, por sua vez, já tinha anunciado na última semana que irá reconhecer o Estado da Palestina durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro próximo.
Os 15 países afirmam-se determinados em “trabalhar numa arquitetura para o ‘dia seguinte’ em Gaza que garanta a reconstrução de Gaza, o desarmamento do Hamas e a sua exclusão da governação palestiniana”.

Expressam ainda “profunda preocupação com o elevado número de vítimas civis e a situação humanitária em Gaza” e sublinham o “papel essencial” das Nações Unidas e das suas agências na “facilitação da assistência humanitária”.

O Reino Unido não subscreveu esta declaração, mas o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou na segunda-feira que Londres irá reconhecer o Estado da Palestina em setembro a não ser que o Governo israelita tome “medidas substanciais para acabar com a terrível situação em Gaza”, sendo ainda incerto que esse reconhecimento se possa materializar independentemente de um cessar-fogo entre as partes.