Sirenes soaram em Israel para um minuto de silêncio e reflexão marcando, em várias localizações por todo o país, o dia 7 de Outubro de 2023, em que um ataque do Hamas deixou mais de 1200 mortos e fez 250 reféns em Israel, de um modo semelhante ao que acontece, todos os anos, no dia da memória do Holocausto.

No local onde se realizou o festival de música Nova, entre retratos de vítimas, famílias e sobreviventes juntaram-se para assinalar a data.

Mas não só de recordação se fez o dia: manifestantes em vários locais pediram a libertação dos reféns e o fim da guerra, e foram repetidas perguntas sobre como foi possível ter acontecido o que aconteceu: “Onde estavam as forças de socorro? Onde estava o Estado? Como estiveram aqui durante horas e ninguém vos salvou”, perguntaram as famílias numa declaração, segundo a emissora pública Kan. “Dois anos depois, não temos respostas. Todas as investigações têm sido para pôr sal nas feridas e atirar areia para os olhos das famílias.”

Vários responsáveis do Exército, da secreta militar e do Shin Bet (serviços de informação interna) já se demitiram, ou foram demitidos, mas a responsabilização não chegou ao primeiro-ministro – e segundo uma sondagem do Israel Democracy Institute, divulgada na semana passada, a maioria dos israelitas considera que devia haver uma comissão de inquérito (74%), que Netanyahu tem recusado, e que o chefe de Governo se deveria demitir na sequência dos falhanços de 7 de Outubro (64%).

Houve antigos reféns que fizeram publicações nas redes sociais, como Eli Sharabi, entretanto libertado, e cuja mulher e duas filhas foram assassinadas pelo Hamas, tal como o seu irmão. “Uma perda que me vai acompanhar em cada momento até ao meu último dia”, escreveu, para pedir a libertação de Alon Ohel, com quem esteve em cativeiro nos túneis do Hamas, assim como do corpo do seu irmão, que está ainda na Faixa de Gaza. “Já sofremos o suficiente, merecemos uma realidade diferente. Queremos começar a sarar.”

Pelo fim da guerra, dezenas de mulheres do movimento Mães na Linha da Frente protestaram em frente à casa do ministro da Defesa, Israel Katz, pedindo o fim da guerra. “Os nossos rapazes estão exaustos. As missões que lhes são dadas em Gaza estão a pôr em risco as suas vidas sem haver nenhuma razão”, diziam, segundo o diário Haaretz.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas tentou convencer o Governo a não levar a cabo uma operação militar na Cidade de Gaza, dizendo que esta era perigosa para os soldados e não iria cumprir o objectivo de libertar os reféns, mas o Governo decidiu avançar mesmo assim.

Nesta manifestação foi ainda pedido o recrutamento dos militares ultra-ortodoxos, uma questão que há anos divide a sociedade e que está, aliás, na base das cinco eleições sucessivas que se realizaram entre 2019 e 2022 (porque os parceiros de coligação de Netanyahu eram os partidos ultra-ortodoxos, contra o recrutamento, e partidos que exigiam o recrutamento).

A cerimónia oficial do Governo está marcada para a próxima semana, quando se assinala a data segundo o calendário hebraico.

O principal grupo de famílias de reféns culpa o Governo por não chegar a um acordo que permita a libertação dos reféns vivos e recuperação dos mortos, dizendo que já houve oportunidade para isso – é uma posição partilhada por muitas outras pessoas, incluindo uma série de antigos chefes militares e das secretas, que expressaram publicamente a opinião com uma carta aberta e um vídeo, dirigida tanto aos israelitas como ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Trump falou das manifestações em Israel ao defender um acordo para o fim da guerra e os familiares dos reféns queixam-se de ter a sensação de que são mais ouvidos pelo Presidente dos EUA do que pelo seu próprio primeiro-ministro — que, numa entrevista, falou de 46 reféns ainda na Faixa de Gaza quando na verdade são 48 (estima-se que apenas 20 estejam vivos).

O fórum das famílias pediu que o Nobel da Paz, que será conhecido nesta sexta-feira, fosse entregue a Trump pelos esforços para o fim da guerra em Gaza e paz no Médio Oriente.

As conversações indirectas entre Israel e o Hamas que decorrem no Cairo estão a avançar, com muita pressão, e esperava-se que o enviado especial do Presidente Trump, Steve Witkoff, chegasse nesta quarta-feira à capital egípcia.

O Qatar veio, no entanto, cortar um pouco do entusiasmo, dizendo que há muitas coisas no plano que ainda têm de ser acertadas e que “cada um dos 20 pontos requer interpretações práticas no terreno”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Majed al-Ansari, citado pela agência Reuters.