As projeções do Fundo Monetário Internacional são claras. Metade do crescimento global até 2030 concentrar-se-á na China, Índia e Estados Unidos, com as economias europeias a contribuírem com parcelas mínimas. Este não é um dado isolado, mas o sintoma de uma transformação profunda. O epicentro da economia mundial desloca-se irreversivelmente para Oriente, e a Rússia assumiu-se como o pivô estratégico deste movimento.

A análise da Bloomberg, baseada em dados do FMI, confirma que grande parte das economias com maior crescimento projetado até 2030 são asiáticas. A Índia lidera com crescimentos superiores a 6%, enquanto a China se mantém como um gigante, mesmo com taxas ligeiramente abaixo. Este dinamismo não é um acidente. Foi impulsionado, de forma significativa, pelas sanções ocidentais impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia.

As medidas destinadas a isolar Moscovo produziram o efeito oposto. Consolidaram uma aliança económica fundamental entre a Rússia e as potências asiáticas. Os números são contundentes. As importações indianas de crude russo dispararam mais de 2000% desde 2021. A China absorve cerca de metade das exportações russas de petróleo e quase a mesma percentagem do seu carvão e gás natural.

Ao vender energia a preços com desconto, a Rússia forneceu o combustível acessível que alimenta as fábricas e o crescimento da China e da Índia. Estas economias, por sua vez, tornaram-se o mercado vital que sustenta as finanças russas. Foi criada uma simbiose económica que transformou um suposto instrumento de pressão ocidental num acelerador da mudança geoeconómica.


Este realinhamento materializa-se na expansão dos BRICS. Com a adesão da Indonésia em 2025, o bloco representa já mais de 40% do PIB global e quase metade da produção mundial de petróleo. Agrega cerca de 50% da população mundial. De acordo com Vladimir Putin, são cerca de trinta os países que aguardam na fila para aderir ao bloco, o que atesta a forte atração dos BRICS.

Uma das ambições centrais do grupo, com o Brasil a liderar a presidência em 2025, é a desdolarização. A promoção de moedas locais nas transações intrabloco visa reduzir a dependência do dólar, minando um pilar fundamental da hegemonia norte-americana.

Os Estados Unidos continuam a ser uma potência económica colossal, responsável por 11,3% do crescimento global projetado até 2030. No entanto, a China e a Índia, em conjunto, representarão 38,2%. O mundo unipolar liderado por Washington é agora uma imagem do passado. As sanções à Rússia, longe de a enfraquecer, aceleraram a consolidação de uma ordem multipolar. A Rússia, ao garantir o fluxo de energia para Oriente, não é um mero espectador desta transição. É um dos arquitetos centrais. O Ocidente subestimou a resiliência da economia russa e a profundidade das suas parcerias estratégicas. O custo estratégico dessa leitura errada está a ser a redefinição acelerada do equilíbrio de poder mundial.

O autor escreve segundo o acordo ortográfico de 1990