Apenas um quinto dos diagnósticos é detectado em níveis 3 ou 4.Mateus Bruxel / Agencia RBS
Uma mudança no cenário de rastreamento do câncer de mama vem salvando a vida de mulheres em Passo Fundo, no norte do RS. Em uma década, os diagnósticos precoces da doença passaram a ser maioria, enquanto os casos avançados despencaram.
Em 2014, o município registrou um total de 77 diagnósticos enquadrados em diferentes níveis de estadiamento — processo que determina o tamanho e a extensão de uma doença no corpo. Do total, 40 já estavam em nível avançado (3 ou 4) e 37 em estágios iniciais (0 a 2).
Dez anos depois, em 2024, o horizonte é de otimismo entre as mulheres em tratamento e de perspectiva para futuras pacientes: apenas um quinto dos diagnósticos é detectado em níveis 3 ou 4 — foram 17 rastreados nesse patamar e 73 no começo da doença.
— O diagnóstico precoce melhora muito as chances de cura e reduz a agressividade do tratamento. Em estágio 1, por exemplo, as chances de cura podem chegar a 95%. Esse fato (a evolução dos diagnósticos) nos alegra muito, é um esforço conjunto, que começa lá nas unidades de saúde — diz o mastologista do Hospital de Clínicas, Rafael Martini.
Toque que salva
Foi durante um autoexame que Ellen Correa, de 65 anos, descobriu estar com câncer de mama. Em junho de 2024, ela notou um pequeno caroço na parte inferior do seio direito, momento em que decidiu procurar uma ginecologista.
— Ainda não tinha chegado a época de fazer exames, fazia menos de um ano que eu tinha feito a mamografia, mas estranhei aquela bolinha. A médica me pediu uma ultrassonografia e depois biópsia, que veio com resultado positivo — relembra.
Ellen Correa, 65 anos, se curou do câncer de mama em menos de seis meses. Doença estava em estágio inicial.Rebecca Mistura / Agencia RBS
A doença foi detectada no começo, em estágio 1. Ainda assim, foi necessária cirurgia para remoção do nódulo e seis sessões de quimioterapia, a etapa mais difícil e agressiva, segundo Ellen:
— O organismo precisa aguentar o tratamento, eu nunca me entreguei, não deixei a palavra câncer pesar. Antigamente, a gente pensava que era uma sentença de morte, mas não é assim. Tu vê que tem tratamento e tem pessoas maravilhosas pra ajudar nesse processo.
Ela alcançou a cura cinco meses depois do diagnóstico, em novembro do ano passado, quando tocou o sino da vida no Hospital de Clínicas. Com os cabelos curtos após a queda causada pela quimioterapia, agora Ellen quer deixá-los crescer novamente.
— Eu sempre tive muita fé e o apoio da minha família, isso foi essencial. Eu sabia que, com ou sem cabelo, da forma que fosse, eles estariam lá para mim. E o que digo para todas as mulheres é que mantenham os exames em dia e conheçam o seu corpo, porque isso possibilita que se perceba qualquer mudança — enfatiza.
Idade antecipada
SUS passou a recomendar o exame a partir dos 40 anos.Mateus Bruxel / Agencia RBS
Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou que o SUS passou a garantir o acesso à mamografia a mulheres de 40 a 49 anos, mesmo sem sinais ou sintomas de câncer. Antes, as mulheres nesta idade tinham dificuldade com o exame na rede pública por conta da avaliação de histórico familiar ou necessidade de já apresentar sintomas.
— É um avanço, pois vemos muitos diagnósticos nessa faixa etária. Mesmo que já fosse feito, a medida amplia o acesso. Em Passo Fundo, nós temos boa disponibilidade de exame e com atendimentos ágeis. A partir do momento do laudo da cirurgia, a gente consegue fazer o procedimento entre uma e duas semanas no HC — afirma Rafael Martini.
O mastologista detalha cada um dos estágios, mas enfatiza que o tratamento é pensado de forma individualizada e a evolução do quadro depende do organismo de cada paciente. Veja detalhes:
- Estágio 0: são lesões precursoras, chamadas de Carcinoma in situ, um tipo de câncer inicial, não invasivo, em que as células malignas estão restritas ao local de origem.
- Estágio 1: precoce, o primeiro estágio tem lesões de até 2 centímetros e está limitado à mama ou tem uma pequena disseminação. As chances de cura podem chegar a 95%.
- Estágio 2: tumor com maior disseminação, mas ainda sem atingir outras partes do corpo. Chances de cura são de 80% a 90%.
- Estágio 3: considerado avançado, representa um tumor que cresceu e/ou se espalhou, mas ainda não afetou órgãos distantes. O tumor tem a partir de 5 centímetros, com chance de cura de 70% a 85%.
- Estágio 4: patamar mais avançado do câncer, quando o tumor já tem metástase. O tratamento é focado no controle da doença e alívio dos sintomas.
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