Quase quatro anos depois de se casar com Asser Malik, Malala Yousafzai revela, no seu novo livro “Finding My Way”, como começou o romance que manteve em segredo durante os anos de estudos em Oxford.

A Nobel da Paz, conhecida internacionalmente após sobreviver a um atentado do regime talibã, descreve a relação como intensa e marcada por pequenos rituais diários. “Asser chegava a ligar quase todos os dias. No início, verificava a minha saúde, certificando-se de que tomava os meus comprimidos de ferro”, escreve. Entre conversas sobre música, infância e sonhos, o casal criou uma cumplicidade que ultrapassava a amizade.

Segredos, encontros e o “sex bomb”

Manter o romance escondido exigiu criatividade. Numa visita a um solar inglês, Malala vestiu inicialmente o tradicional shalwar kameez aprovado pela mãe, mas trocou discretamente por um vestido cor-de-rosa justo e saltos altos. Ao regressar à mesa, Malik exclamou: “You”re a sex bomb!” (“És uma bomba sexual!”), deixando-a “delighted and bashful” (“encantada e envergonhada”), confessa a autora.

O receio de ser descoberta estendeu-se a situações públicas. Durante um passeio em Chiswick Gardens, Malala teve de se esconder atrás de um arbusto ao ser reconhecida por uma mulher que tirava fotografias. “Ela sorriu e começou a filmar, e eu corri para me esconder, assustando Asser e a minha equipa de segurança”, recorda.

A conversa com os pais também exigiu cautela. Como conta no livro, primeiro falou com o pai: “I like him, Dad. I like him… romantically” (“Gosto dele, pai. Gosto dele… romanticamente”), pedindo que não contasse à mãe. Surpreendentemente, ele ligou imediatamente, e a mãe reagiu com resistência: “Absolutely not! Does he even speak Pashto? She must marry a Pashtun man!” (“De todo! Ele fala sequer pashto? Ela tem de casar com um homem pashtun!”). Apesar do choque, os pais concordaram em receber Malik, mantendo a discrição durante os anos de licenciatura de Malala.

Recorde-se que nove anos depois de quase ter morrido após ser baleada na cabeça por um talibã, Malala Yousafzai casou-se em novembro de 2021, em Birmingham. A cerimónia foi íntima, seguindo o rito muçulmano da “nikka”, e contou apenas com a presença de familiares. O noivo, Asser Malik, é treinador de críquete da seleção nacional do Paquistão.

Mais do que um livro

Entre cirurgias complexas nos EUA e o acompanhamento do namorado à distância, Malala descreve o esforço de equilibrar vida pessoal e saúde. Ao regressar a Londres, encontrou-se com Malik para um último jantar antes do seu regresso ao Paquistão. Entre risos e conversas sobre sentimentos, surgiram dilemas sobre compromisso e a decisão de “pausar” temporariamente o romance até ao fim dos estudos. “I”m not sure feelings work that way,” (“Não tenho a certeza se os sentimentos funcionam assim”) respondeu Malik, “but, for you, I”m willing to try” (“mas, por tua causa, estou disposto a tentar”), recorda.

Com “Finding My Way”, Malala, agora com 28 anos, oferece aos leitores uma narrativa íntima que vai além do ativismo e da educação. O livro revela amizade, primeiro amor, descobertas pessoais e a coragem de manter a própria identidade, enquanto enfrentava as expectativas culturais e familiares.

A obra é editada a 21 de outubro, em versão original, pela Atria Books, nos Estados Unidos, e já está disponível em pré-lançamento em Portugal.