Regiões russas estão a pagar quatro vezes mais para tentar aumentar o número de recrutas, respondendo assim às enormes baixas no terreno

As regiões russas estão a aumentar drasticamente a quantidade de dinheiro que pagam aos novos recrutas militares, uma vez que, segundo os analistas, as campanhas de recrutamento “ideológicas” já não são suficientes para motivar as pessoas a combater na Ucrânia.

Nos últimos dias, várias regiões anunciaram que iriam quadruplicar os bónus de inscrição, numa tentativa de aumentar o número de recrutas.

A Rússia tem sofrido enormes baixas na sua guerra contra a Ucrânia, com cerca de um milhão de soldados russos mortos ou feridos desde o início da invasão em grande escala, há três anos e meio.

O ministro russo da Defesa, Andrey Belousov, fez do recrutamento uma das principais prioridades das Forças Armadas durante uma reunião de alto nível em agosto, sublinhando que os efetivos são “fundamentais para apoiar as operações ofensivas”.

Mas, enquanto Belousov afirmava que os objetivos de recrutamento estavam a ser cumpridos, a agência de investigação russa independente IStories referia o contrário.

Com base em dados oficiais sobre as despesas orçamentais, cerca de 37.900 pessoas assinaram contratos com o Ministério da Defesa no segundo trimestre de 2025, ou seja, duas vezes e meia menos do que há um ano.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um observatório de conflitos sediado nos Estados Unidos, afirmou que os esforços russos de criação de forças se assemelhavam “cada vez mais a modelos de negócio complexos e não a uma campanha de recrutamento ideologicamente orientada”.

Numa nota de análise publicada em setembro, o ISW afirmou que as autoridades russas e os recrutadores informais “continuam a empregar incentivos financeiros, engano e coerção” para reforçar o recrutamento.

Quatro vezes o salário anual

O governo da região de Tyumen, na Sibéria, anunciou esta segunda-feira que pagará aos novos recrutas uma quantia fixa de três milhões de rublos (mais de 31 mil euros), para além dos 400 mil rublos (cerca de 4.200 euros) que recebem do governo federal – desde que os recrutas se inscrevam antes do final de novembro.

O novo pagamento regional representa um aumento significativo em relação aos 1,9 milhões de rublos (perto de 21 mil euros) que os recrutas de Tyumen recebiam até à data e equivale a três anos completos de salário médio nessa região, segundo o Rosstat, o Serviço Federal de Estatística russo.

Da mesma forma, o governador da região de Voronezh, no sudoeste da Rússia, anunciou no Telegram, na semana passada, que o pagamento de inscrições da região quadruplicaria para 2,1 milhões de rublos (mais de 22 mil euros).

O governo local de Voronezh disse que, para receber o pagamento, os recrutas não precisam de ser da região, desde que seja onde assinam os documentos.

As regiões de Tambov, Krasnodar, Kurgan e Altai, bem como a República do Tartaristão, também anunciaram aumentos significativos nos pagamentos, que se juntam ao salário mensal dos soldados contratados que combatem na Ucrânia. Este começa em cerca de 210 mil rublos (menos de 2.500 euros), mais do dobro do salário médio russo.

Victoria Butenko, da CNN, contribuiu com a sua reportagem