Também quando tentou apanhar Carlos Moedas em contradição consigo mesmo, sobre a esquerda, acabou por dar uma volta às declarações que recuperou de 2016 para vincar o seu ponto. Lembrou, esta quarta-feira ao lado de Mariana Mortágua, que foi o próprio Carlos Moedas que, enquanto comissário europeu, disse durante a “geringonça” que “essa coisa contra o BE era um mito” — palavras de Leitão. O que Moedas disse então, em entrevista ao Expresso, foi que a ideia de que o Governo das esquerdas assustou Bruxelas “é um mito. Primeiro, muitas pessoas já conheciam o primeiro-ministro António Costa. Depois, Bruxelas não liga muito à questão de ser o partido A ou o partido B, trabalha com todos os ministros e com todos os primeiros-ministros e quer é que eles encontrem soluções.” E sublinhava que o que tinha valido, para a credibilização do Governo da “geringonça” em Bruxelas, era sobretudo a linha “europeísta” de Costa.
Já Leitão pegou no Moedas de 2016 da forma que lhe era mais conveniente para perguntar a Moedas de 2025 se “agora deixou de ser um mito” o perigo de uma aliança com o Bloco. Certo é que, no passado, Moedas desdramatizou o assunto e agora faz dele um dos principais cavalos de batalha contra a coligação de esquerda.
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O outro receio que a esquerda sem o PCP tem é com os eventuais estragos que as investidas do comunista João Ferreira contra a candidatura — bem visíveis nos debates em que enfrentou Alexandra Leitão e Carlos Moedas — podem fazer no domingo. O medo da dispersão de votos à esquerda fez com que o comício do PS desta terça-feira fosse quase centrado num único alvo, os comunistas.
Esquerda sem PCP faz de comunistas alvo do comício em Lisboa
“Se o PCP estivesse na coligação era uma vantagem muito maior“, lamenta um socialista que tem acompanhado Leitão. E esse sentimento adensa quando as sondagens dão uma desvantagem (em algumas é mesmo vantagem) tão curta face ao adversário Moedas. “Estamos mesmo na disputa de votos com a CDU, podem ser determinantes”, diz a mesma fonte numa altura em que a candidata não larga a argumentação que tem usado para concentrar o voto à esquerda.
“Só há uma única alternativa a Carlos Moedas e essa alternativa é a coligação ‘Viver Lisboa’”, tem repetido ao mesmo tempo que avisa eleitores que “há quatro anos, quando houve o resultado da vitória do Carlos Moedas, houve muita gente que contou a seguir que havia pessoas que estavam convencidas de que era possível, para a Câmara Municipal, fazer um acordo pós-eleitoral“. Ainda esta semana, numa conversa com o Observador recordava isso mesmo, os eleitores que achavam mesmo que Fernando Medina perdesse podia ser presidente da Câmara, fazendo um acordo pós-eleitoral com as outras forças políticas.
Na mesma linha, uma realidade que é recordada muitas vezes por Alexandra Leitão é que atualmente na Câmara há uma maioria de esquerda, mas é a direita que governa. A esquerda junta (PS, BE e tem CDU) têm nove vereadores e a coligação de direita tem sete. Mas foi Moedas que foi o mais votado e nas autárquicas é isso que vale.
Autárquicas em Lisboa. A última chamada dos candidatos antes de o dia acabar
Mas este apelo ao voto útil não surge propriamente em uníssono dentro de uma coligação onde estão partidos mais pequenos que normalmente contestam este tipo de apelos. “Os nossos parceiros são normalmente engolidos” por este apelo, reconhece um socialista em conversa com o Observador. Sem grande surpresa, entre os aliados não se morreu de amores pela intervenção de António Vitorino na terça-feira, por exemplo, que questionou os comunistas como se sentiriam se no dias seguinte Moedas continuasse e, sobretudo, se o Chega ganhasse influência.