“O que está em causa é a falta deliberada de vontade política de Israel para permitir que as Nações Unidas possam trabalhar. Nós só precisamos que nos deixem trabalhar”, disse Jorge Moreira da Silva.
“Aquilo que estamos a assistir em Gaza é algo inimaginável e sem precedentes”, disse, salientando que “mesmo sem um cessar-fogo, é possível entregar ajuda humanitária”.
“Nunca imaginei que fosse possível assistir à clara violação das regras que, mesmo em guerras, são obrigatórias que ocorram”, sublinhou o responsável, que acusa Israel de estar a utilizar a distribuição de alimentos para “deslocamentos forçados”.
Desde o final de maio, a distribuição de ajuda, anteriormente liderada pelas Nações Unidas, foi confiada à Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização apoiada pelos Estados Unidos e por Israel. A ONU e as principais organizações humanitárias recusam-se a trabalhar com a GHF, alegando que esta serve objetivos militares israelitas e viola os princípios humanitários básicos. Desde que a GHF iniciou as suas operações, há relatos quase diários de palestinianos mortos enquanto procuravam ajuda. Estima-se que tenham morrido mais de 850 pessoas que esperavam em filas por comida.
“Estamos perante uma violação clara do Direito Internacional humanitário”, disse o diretor executivo da UNOPS, que descreveu a situação em Gaza como uma “crise de falta de humanidade”.
Jorge Moreira da Silva salientou ainda que os funcionários da UNOPS estão “numa situação muito vulnerável” em termos de acesso a bens essenciais. “Eles próprios estão numa situação de insegurança”, disse, avançando que o edifício da organização tem sido alvo de ataques israelitas.
O responsável explica ainda o dilema que a organização enfrenta todos os dias, sem recursos suficientes para funções básicas.
“Estamos a ter que escolher entre distribuir combustível para que um hospital tenha oxigénio, ou as padarias; combustível para as ambulâncias ou para o tratamento de água e saneamento; combustível para recolher resíduos ou combustível para permitir a bombagem de água”, explicou.
“Estamos numa situação limite, uma catástrofe”, asseverou. “É revoltante assistir no século XXI a situações destas”, acrescentou.
Esta sexta-feira morreu mais uma criança à fome em Gaza. São agora 115 os palestinianos mortos por falta de comida no enclave palestiniano, a maioria menores de idade.