A Ucrânia encontrou a ‘pólvora’, ou, mais bem dito, uma forma de fragilizar a Rússia longe das trincheiras. Desde o verão, Kiev tem intensificado ataques a refinarias e infraestruturas energéticas russas, utilizando drones de longo alcance e mísseis de fabrico próprio. A nova ofensiva, que começou em 2024, está a reduzir significativamente a capacidade de refinação da Rússia e a provocar escassez de combustível em várias regiões do país. Segundo o ‘El Confidencial’, esta estratégia marca uma viragem na forma como a Ucrânia conduz a guerra, abrindo uma frente tecnológica e económica que ultrapassa o campo de batalha tradicional.
Os ataques, que afetam cerca de 40% da capacidade de refinação russa, levaram a filas nos postos de combustível e a restrições no mercado civil, atingindo primeiro zonas remotas e depois regiões próximas da Rússia europeia, incluindo a Crimeia. Ao atacar a retaguarda do inimigo, Kiev conseguiu transportar a guerra para o quotidiano dos cidadãos russos, algo que não tinha acontecido nos primeiros anos do conflito.
Ucrania atacó con drones la refinería de Lukoil-Nizhegorodnefteorgsintez en Kstovo, que produce 2,3 millones de toneladas de combustible al año. También alcanzó otras similares en Smolensk y Tver. En una semana los ataques redujeron en un 5% la capacidad de refinado de Rusia pic.twitter.com/kjOAlw6u8R
— Nacho Montes de Oca (@nachomdeo) January 29, 2025
Nova geração de armas e autonomia estratégica
O desenvolvimento de drones e mísseis de longo alcance tem sido fundamental nesta mudança. A Ucrânia substituiu os aparelhos improvisados por modelos de fabrico nacional, capazes de atingir alvos a centenas de quilómetros de distância. Paralelamente, aperfeiçoou o míssil de cruzeiro Neptune, concebendo versões com maior alcance, e apresentou o novo míssil FP-5 Flamenco, com capacidade teórica para percorrer até 3.000 quilómetros. Este avanço representa, de acordo com o El Confidencial, um salto tecnológico que devolve a Kiev uma margem de autonomia militar que antes dependia de aliados ocidentais.
Apesar dos progressos, a Ucrânia continua a pedir aos Estados Unidos mísseis de cruzeiro Tomahawk, o que indica que o arsenal nacional ainda enfrenta limitações operacionais. Washington mantém cautela, consciente de que o uso de mísseis de origem americana em território russo poderia ultrapassar as “linhas vermelhas” do Kremlin.
A nova estratégia de Kiev — que combina inovação tecnológica, precisão e impacto económico — está a redefinir o conceito de guerra moderna. Mais do que drones e mísseis, é uma demonstração de que o poder militar se mede hoje também pela capacidade de pensar longe da linha da frente.