Sakae Tokumoto foi um artista completo: pintor, retratista, cenógrafo e arte-educador, profissão que exerceu por décadas. Era de pouca conversa, mas muita expressão, criatividade e olhar atento, seu grande instrumento.
Teve os primeiros desenhos esboçados aos cinco anos, no sítio da família, em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde nasceu, caçula entre oito irmãos, filhos de imigrantes japoneses. Ainda pequeno, após a morte do pai, mudou-se para a Mooca, na capital que viria a retratar em suas obras.
Fez mais de 3.000 retratos em nanquim sobre papel, ilustrando a cidade que adotou e a população de São Paulo. Sua arte, expressionista e abstrata, foi exposta em revistas, parques e espaços, como a estação do metrô Pedro 2º.
Formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, em 1978, estudou com grandes mestres, como o pintor Antonio Hélio Cabral. Criou desenhos artísticos, pinturas expressionistas, abstratos em grandes dimensões, murais, ilustrações editoriais, CDs e painéis. Participou de várias exposições, como Gabinete 144, com três exposições individuais.
Desde a adolescência mostrava-se um artista evoluído e informado, influenciando os amigos. Foi assim com Delamar da Cruz, que seguiu pelo caminho da arte por causa de Tokumoto. “De espírito artístico evidente, espiritualizado e inteligente, viveu a vida toda da sua arte, criando ou ensinando”, diz.
Com isso, fez amizades duradouras. “Se sua obra era mutante perante aquele que observa, Sakae continuava o mesmo de sempre”, observa o amigo Joel Emídio da Silva, destacando sua serenidade, jamais alterando o semblante ou o tom de voz, mesmo quando discordava de algo. “Isso fazia dele um invejável interlocutor: era impossível brigar com ele. Era contido e persistente e transmitia isso para sua arte, dotada de aura, uma arte flutuante.”
O trabalho de Tokumoto também envolvia o olhar atento e sensível à natureza. Muitos quadros ele produziu utilizando folhas, flores e minerais. Era a técnica voltando-se à origem da arte, dizia ele, “a paisagem externa dialogando com a paisagem interna, como numa dança”.
Tokumoto deu aulas de desenho na Santa Casa de SP e AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), além da Faculdade de Medicina da USP/HC, na Oficina Terapêutica em Artes Plásticas, do Instituto de Medicina Física e Reabilitação. Atuou como arte-educador em projetos das secretarias municipais de Cultura e de Educação.
Com a família, foi um pai amoroso, dedicado e apaixonado pelos dois filhos, Paola e Lucas. Casado com a cantora e compositora Graziella Hessel, alegrava-se quando o concerto era em casa. “O que o deixava mais feliz era a presença dos filhos e a arte. O que mais desagradava a ele eram as injustiças sociais”, conta a mulher.
Nas horas vagas, ele adorava ir ao teatro, a exposições e assistir a filmes. Entre as práticas constantes estavam ioga, caminhadas na natureza e encontro com os amigos.
Tokumoto morreu de câncer no pâncreas, em 2 de setembro, aos 72 anos. Deixa mulher, dois filhos e três irmãs.
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