Depois de morar em grandes centros urbanos como São Paulo, Milão e Nova York, a artista plástica mineira Júlia Martins Miranda encontrou na Sicília, no sul da Itália, a calmaria buscada — com direito a uma extraordinária cereja no bolo. Na cidade barroca de Noto, Patrimônio Mundial da Unesco, a artista achou, em 2022, um apartamento histórico localizado dentro de um ex-monastério do século XVII, e transformou o lugar em casa-ateliê. Durante dois anos, junto com o marido, o designer italiano Mimmo Calcagno, reformou o imóvel de 200 metros quadrados e pé-direito de 7 metros, que havia sido residência do bispo. “Uma obra nos anos 1960 o deixou com vários quartos, corredor estreito e teto baixo. Colocamos a mão na massa para retirar tudo e deixar aparecerem, por exemplo, as paredes de pedra”, conta Júlia, há 16 anos fora do Brasil.

Com poucos elementos, muito espaço livre e móveis desenhados por Mimmo, o refúgio estimulou a criação da série “Pindorama”, que vem sendo bem-recebida, principalmente na Europa. Acrílico e óleo sobre telas exaltam a natureza do Brasil, com plantas e pássaros em paleta de laranjas e verdes, descritas por ela como uma tradução de lugares e sensações com as quais cresceu.

Um dos espaços: pé-direito de 7 metros e paredes de pedras — Foto: Júlia Martins Miranda Um dos espaços: pé-direito de 7 metros e paredes de pedras — Foto: Júlia Martins Miranda

“A luz dourada que entra aqui em casa em todas as estações, a brisa mediterrânea, o acolhimento e, claro, a liberdade para criar em grandes dimensões me instigaram o nascimento da série”, enumera Júlia.

O monastério que virou loft e as telas dela já estamparam revistas internacionais. Atualmente, a série está em galerias de Inglaterra, Bélgica, México e Estados Unidos. Curadora da Tappan, em Los Angeles, Chelsea Nassib se encantou pelo diálogo entre passado e presente que a artista faz, abordando suas raízes por lentes da vida na Sicília.

“Pindorama”: acrílico e óleo sobre tela com plantas e pássaros do Brasil — Foto: Um dos espaços: pé-direito de 7 metros e paredes de pedras “Pindorama”: acrílico e óleo sobre tela com plantas e pássaros do Brasil — Foto: Um dos espaços: pé-direito de 7 metros e paredes de pedras

“Através do uso distinto da cor, ela abstrai as paisagens de sua terra natal com uma sensibilidade refinada, oferecendo uma visão ressonante”, elogia Chelsea.

Nesta semana, Julia voou para Nova York, onde expõe “Pindorama” no Consulado do Brasil.