“Todos os cidadãos húngaros que trabalhavam na Comissão e que tinham valor potencial em matéria de informações foram considerados um alvo de recrutamento e foram elaborados os seus perfis”, explicou o centro de investigação húngaro “Direkt36”.

O “Direkt36”, que tem como parceiro editorial o portal digital de notícias húngaro “Telex”, levou a cabo a investigação com o homólogo alemão “Paper Trail Media” e o diário belga “De Tijd”.

O órgão de comunicação explicou que, sob cobertura diplomática junto da representação oficial da Hungria em Bruxelas, diplomatas fictícios tinham abordado esses funcionários da União Europeia (UE) de nacionalidade húngara.

Foi-lhes pedido que promovessem a fuga de informações sensíveis e que influenciassem os relatórios da Comissão.

“Reescrever isto, suprimir aquilo”, disse um deles ao Direkt36, com o objetivo de “que os textos refletissem a visão do mundo do Governo de Orbán”.

Na altura dos acontecimentos, a representação húngara era chefiada por Oliver Varhelyi, que se tornou comissário europeu em 2019.

“Ele tinha certamente conhecimento das atividades de espionagem levadas a cabo na sua embaixada” e “era ele próprio um dos utilizadores finais das informações recolhidas”, segundo o Direkt36.

As atividades de espionagem tornaram-se mesmo “particularmente agressivas” durante o período em que Varhelyi foi embaixador na UE, afirma o centro de investigação húngaro.

Em troca, Budapeste oferecia dinheiro ou ajuda para a progressão na carreira a funcionários europeus de nacionalidade húngara.

O Direkt36, que diz ignorar se tais atividades foram ou não bem-sucedidas, afirma que estas foram levadas ao conhecimento dos dirigentes da UE.

Comissão Europeia a “analisar” acusações

Em 2024, o Governo de Viktor Orbán inaugurou uma “Casa Húngara” em Bruxelas, “mesmo em frente ao gabinete do primeiro-ministro belga”.

Esse centro cultural é, segundo o grupo de investigação, encarado como “um risco” pelos serviços secretos belgas.

Nem o Governo húngaro, nem a representação da Comissão Europeia em Budapeste responderam até agora ao pedido de comentário da agência de notícias francesa AFP.

Desde o seu regresso ao poder, em 2010, que o líder nacionalista húngaro Viktor Orbán está em conflito com as autoridades europeias, que o acusam de atentar contra o Estado de direito, uma situação que levou Bruxelas a instaurar uma série de processos contra a Hungria, incluindo o congelamento de vários milhares de milhões de euros de fundos europeus.

A Comissão Europeia afirmou hoje estar a “analisar” as acusações de espionagem da Hungria nas instituições europeias entre 2012 e 2018, após a publicação da investigação jornalística sobre o assunto.

O executivo europeu “leva muito a sério estas alegações e continua determinado a proteger a Comissão, a sua equipa, as suas informações e as suas redes de qualquer recolha ilegal de informações”, reagiu um porta-voz da Comissão Europeia, Balazs Ujvari.

Trata-se de uma questão de segurança (…) vamos criar um grupo interno para analisar” estas alegações, acrescentou, perante a imprensa em Bruxelas.