36 anos de carreira, terceiro treinador com mais jogos na Primeira Liga, mais de 20 títulos conquistados. Foi com todos estes tópicos e muitos mais que Jorge Jesus foi apresentado esta quarta-feira no Portugal Football Summit, na Cidade do Futebol, onde encerrou o primeiro dia de conferências com uma conversa de cerca de meia-hora sem grandes pruridos. Como é costume. 

Logo no início, o português recordou a curiosa história que fez com que começasse a carreira de treinador sem sequer ter terminado a carreira de jogador. “Eu ainda estava a jogar, era jogador e jogava na terceira divisão. Fim de carreira, foi o meu último ano. Estava a jogar contra o Amora e quando acabou o jogo o presidente do Amora chamou-me e convidou-me para ser treinador do Amora. E eu perguntei: ‘Treinador? Eu estive a jogar, não sou treinador’. Mas ele disse que viu isso em mim, que eu já era o treinador dentro de campo. Isto foi num domingo e disse-me para pensar até segunda ou terça-feira. Pensei e aceitei o convite”, contou o treinador, que tinha 35 anos na altura e só antecipou um objetivo que já tinha delineado.

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“Já me preparava, sabia o que queria quando acabasse a carreira. Sabia que queria ser treinador. Não sabia onde é que ia começar, comecei por baixo, pela terceira divisão. Já me preparava… Ao longo da carreira vamos tendo muitos treinadores, vamos aprendendo com uns e com outros mais ou menos. Entendi que a maneira como olhava para o futebol não tinha nada a ver com o que treinava. Tentei começar a adaptar e a criar. Estou farto de dizer isto: para mim o treinador é um criador”, acrescentou, garantindo que cometeu “muitos erros” nos primeiros cinco anos, já que andava “à procura de uma identidade”.

Mais à frente, Jorge Jesus reconheceu que foi o Benfica que lhe “abriu as portas para o mundo”, lembrando que a equipa encarnada que orientava “não jogava, voava”, e não escondeu que tem mudado de atitude ao longo dos anos. “Tenho mudado muito. Sou completamente diferente do que era há cinco anos. Vamos mudando, não só fisicamente como psicologicamente. Hoje sou um treinador muito mais condescendente com o que acontece nos treinos e nos dias antes dos jogos, no começo da minha carreira e no meio não aceitava algumas coisas. Sou muito melhor treinador, tal como todos os treinadores são muito melhores com os anos. Hoje em dia o treinador não é só técnica, tática, física, é muito mais para além disso”, começou por explicar.

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“Não sou pai deles e os meus jogadores sabem disso. Agora estou no Al Nassr, no desafio mais difícil da minha carreira, e disse-lhes que não sou pai deles, sou treinador. Também não sou amigo dos meus filhos, sou pai deles. Quem me convidou foi o CEO, o [José] Semedo, e o Cris. Desde que o Cris está lá que o Al Nassr ainda não ganhou título nenhum e há sete para oito anos que não é campeão. As outras três equipas grandes estão à frente em termos de qualidade e até de jogadores, ficaram a 18 pontos do primeiro lugar. Quando aceitei é para ser campeão, não fui para lá para não ganhar títulos. Tudo o que eu escolho, em termos de clubes, tem como prioridade saber que posso ser campeão”, continuou.

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Sobre a proximidade com Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus lembrou que o capitão da Seleção Nacional tem 40 anos mas ainda é o segundo jogador mais rápido do Al Nassr e o terceiro com mais piques acima dos 25 km/h. “É uma coisa fora do normal, até fisicamente. Como pessoa, é um homem muito inteligente. Sabe muito mais para além do futebol”, considerou.

“Ele tem um objetivo e quando temos objetivos jogamos com os pés, mas a cabeça é que pensa. Digo-lhes que do pescoço para baixo são todos iguais, do pescoço para cima é que está a diferença. Ele conhece-se, conhece o corpo dele. É um jogador que raramente se lesiona porque sabe controlar a vida dele fora do futebol. Tem como objetivo chegar aos 1000 golos, faltam-lhe 50 e poucos. Num ano não vai conseguir. Tem de jogar este ano e o próximo”, atirou.

Por fim, o treinador português não esconde que “gostava, claro que gostava” de voltar a treinar em Portugal — até porque pode ainda tornar-se o técnico com mais jogos na Primeira Liga, superando Manuel de Oliveira e Fernando Vaz. “A nossa profissão é muito volátil. Nunca se sabe o que vai acontecer no dia seguinte, isto muda com muita facilidade. Só consegues sobreviver com a vitória. Estou como a Amália, que dizia que ia cantar até a voz lhe doer. E eu vou treinar até o corpo me doer”, terminou.