Um estudo internacional com participação de pesquisadores gaúchos e pacientes do Hospital Moinhos de Vento demonstrou que pacientes jovens com histórico de câncer de mama e mutação nos genes BRCA (genes supressores de tumor que, quando mutados, perdem a capacidade de reparar o DNA das células, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento de neoplasias) podem ter ganhos de vida com cirurgias preventivas. A mastectomia bilateral esteve associada a uma redução de 35% no risco de morte, enquanto a ooforectomia (remoção dos ovários e trompas) diminuiu esse risco em 42%. Ambas as intervenções também reduziram em 32% a probabilidade de recidiva da doença.

A pesquisa contou com a participação de 109 centros em cinco continentes e analisou os dados de 5.292 mulheres com até 40 anos diagnosticadas com câncer de mama e mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, entre 2000 e 2020. “É o maior levantamento já realizado na área, e tem implicações diretas na indicação de cirurgia redutora de risco em pacientes mutadas após o diagnóstico de câncer de mama”, destaca o oncologista e pesquisador clínico Gustavo Werutsky, coautor do estudo. Os resultados foram publicados na revista The Lancet, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo.

Werutsky também aponta que o achado responde a uma pergunta que ainda gerava controvérsias na prática clínica: “Já se sabia que essas cirurgias eram eficazes como forma de prevenção em mulheres com mutações genéticas, mas ainda não havia evidências robustas sobre o benefício quando realizadas após o diagnóstico do câncer. Agora temos dados mostrando que elas também ajudam na sobrevida nesse cenário”.

O Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, coordenado pela mastologista Maira Caleffi, foi um dos centros participantes da pesquisa. “Atuamos há mais de 20 anos numa abordagem multidisciplinar e integrada de acordo com as necessidades da paciente e características de cada tumor. Esse cuidado personalizado nos levou a entender a necessidade de identificar famílias de alta predisposição genética para o câncer. Com vários trabalhos já publicados na área, fomos convidados a participar desse estudo internacional e multicêntrico”, relata a especialista.

O estudo indicou que as mulheres que realizaram a mastectomia tiveram uma redução de 35% no risco de morte, enquanto aquelas que realizaram a ooforectomia tiveram uma redução de 42%. Além disso, ambas as intervenções diminuíram em 32% a chance de o câncer de mama voltar ou de surgir um novo tumor.

Os resultados se mantiveram consistentes mesmo após ajustes para variáveis como tipo de tumor, presença de linfonodos comprometidos e idade ao diagnóstico. Outro dado relevante é que os benefícios foram observados em pacientes com diferentes subtipos tumorais, incluindo os tipos mais agressivos, como o câncer de mama triplo negativo.

A mastologista Maira Caleffi alerta que o mapeamento genético ainda não é uma realidade para todas as mulheres no Brasil. O exame não foi incorporado ao SUS, e mesmo em estados onde há leis que garantem a testagem, o acesso segue limitado. Já na rede privada, testes e painéis genéticos estão disponíveis há mais de 15 anos.

Para os pesquisadores, este estudo reforça a necessidade de uma estratégia de tratamento adequada para cada paciente. Uma abordagem de aconselhamento genético é vital para mulheres jovens com diagnóstico de câncer de mama, pois muitos aspectos devem ser levados em conta, como a vontade de ter filhos, a qualidade de vida, uma menopausa precoce, além das questões ligadas à imagem corporal.