A cooperação entre a Rússia e a China atingiu um nível de profundidade que vai para além das simples transações de equipamento militar. Documentos recentemente divulgados revelam que Moscovo não só fornece armamento avançado a Pequim, como também partilha o seu conhecimento tático e treina as forças chinesas.

Parceria militar entre China e Rússia é mais profunda do que se pensava

A divulgação de centenas de documentos pelo grupo “hacktivista” Black Moon veio confirmar o que até agora era apenas uma suspeita nos círculos de análise geopolítica. A cooperação militar entre a Rússia e a China é muito mais intrincada do que as manobras conjuntas ou os discursos oficiais deixavam transparecer.

Os ficheiros, que foram analisados por institutos de renome como o Royal United Services Institute (RUSI) em Londres e por meios de comunicação como a Associated Press, detalham acordos, cronogramas de entrega e programas de formação que apontam para um objetivo claro: capacitar as forças aerotransportadas chinesas para uma potencial invasão de Taiwan.

De acordo com a informação revelada, Moscovo comprometeu-se a vender a Pequim um conjunto completo de equipamento para um batalhão aerotransportado. O pacote inclui 37 veículos de assalto anfíbio BMD-4M, 11 canhões antitanque autopropulsados Sprut-SDM1 e 11 veículos blindados de transporte de pessoal BTR-MDM, além de veículos de comando.

O contrato, avaliado em mais de 500 milhões de dólares, contempla também sistemas de paraquedas especializados, capazes de lançar cargas pesadas de altitudes elevadas, permitindo que forças especiais se infiltrem em território inimigo sem violar diretamente o seu espaço aéreo.

Contudo, o elemento mais valioso para Pequim não é o hardware, mas sim o software humano: o treino dado por especialistas russos, que transferem táticas e procedimentos testados em cenários de combate real.

A ilha de Taiwan como alvo estratégico

Os analistas são unânimes em afirmar que este reforço da capacidade aerotransportada chinesa tem um alvo bem definido: Taiwan. Um eventual plano de invasão da ilha exigiria não apenas um desembarque anfíbio em grande escala, mas também a captura rápida de infraestruturas críticas no interior, como aeroportos e centros logísticos.

A Rússia possui décadas de experiência neste tipo de operações. Embora a sua tentativa de tomar o aeroporto de Hostomel, perto de Kiev, em 2022, tenha fracassado, as lições aprendidas são extremamente valiosas para a China, que nunca utilizou as suas forças aerotransportadas em combate real.

Pequim pode assimilar este conhecimento sem ter de pagar o elevado custo em vidas que a Rússia sofreu.

Esta parceria beneficia ambos os lados:

  • Para a Rússia, pressionada por sanções internacionais e com a sua indústria de defesa no limite devido à guerra na Ucrânia, esta venda representa uma fonte vital de financiamento. Além disso, ao fortalecer a China, Moscovo cria um foco de tensão que obriga os Estados Unidos a dividir a sua atenção e recursos entre a Europa e o Indo-Pacífico, um objetivo estratégico para o Kremlin.
  • Para a China, esta aliança permite colmatar uma lacuna crítica na sua doutrina e experiência militar, acelerando a modernização do seu Exército de Libertação Popular.

A notícia é, naturalmente, alarmante para Taiwan, que vê reforçada a ameaça de um ataque multifacetado. A transferência de capacidades aerotransportadas torna mais provável um cenário que combine bombardeamentos de precisão com operações de paraquedistas para neutralizar as defesas da ilha.

Para Washington, a dimensão desta cooperação complica os seus esforços para se concentrar na Ásia, uma vez que a Rússia e a China atuam cada vez mais como um bloco coeso. O que emerge destas revelações não é um simples contrato de armas, mas a estrutura de uma interoperabilidade que pode alterar de forma decisiva o equilíbrio militar global.

 

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