O fenómeno não é novo, nem exclusivo de Portugal. Mas, nos últimos meses, a vandalização de postos de carregamento de veículos eléctricos — sobretudo através do roubo dos cabos — atingiu níveis preocupantes, deixando uma parte significativa da rede rápida temporariamente inoperacional.

Segundo dados da UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos), em distritos como Leiria e Santarém já foram substituídos tantos, ou até mais, cabos do que o número originalmente instalado. Em alguns casos, os mesmos postos foram alvo de vandalismo repetido, com intervalos de apenas alguns dias. Cada incidente representa custos de vários milhares de euros para os operadores, apesar de o valor obtido pelos ladrões ser de apenas alguns euros por cabo.




Na Lourinhã, o número médio de tomadas de carga por dia passou a quase zero nos últimos dias de Setembro em consequência dos roubos dos cabos
UVE

O estudo da UVE cita como exemplo os municípios do Cartaxo e da Lourinhã, onde o número médio de carregamentos diários caiu praticamente a zero nos últimos dias de Setembro devido aos sucessivos roubos. Mas o problema é generalizado: em números absolutos, Oeiras e Sintra surgem como os concelhos mais afectados, com mais de 200 cabos roubados em cada um, entre Abril e o início de Outubro deste ano.

Numa análise nacional, o observatório da mobilidade eléctrica da UVE contabilizou 327 postos afectados no mesmo período. Em pouco mais de seis meses terão sido furtados 720 cabos — “o que representa 10,3% da rede de postos de carga rápida e ultra-rápida actualmente instalada em Portugal”, detalha a associação. “Estes equipamentos, em condições normais, registavam mais de 12.000 horas de utilização mensal por parte dos utilizadores”, acrescenta a UVE, sublinhando que a indisponibilidade destes postos tem um impacto operacional superior a um milhão de euros por mês, agravado pelos custos de reposição e pelas dificuldades logísticas de reparação. “Tudo isto demonstra a gravidade do problema e reforça a urgência de medidas eficazes de prevenção e resposta”, conclui.

Em mais de uma dezena de concelhos, metade ou mais dos cabos instalados já foi roubada.




Lista dos concelhos com a maior taxa de roubos de cabos dos postos de carregamento rápido e ultra-rápido
UVE

A UVE pede agravamento das penas

Para a UVE, é urgente adoptar medidas dissuasoras que travem esta vaga de furtos. “Tendo em conta que os postos de carregamento são hoje infra-estruturas essenciais para a mobilidade eléctrica — sendo inclusivamente alguns considerados projectos de potencial interesse nacional —, entendemos que deve ser equacionado o enquadramento destes actos de sabotagem e furto como crimes contra infra-estruturas críticas, com o consequente agravamento das molduras penais aplicáveis”, defende a associação.

Entre as propostas apresentadas estão medidas preventivas e de segurança adicional, destinadas a reforçar a protecção física e electrónica dos equipamentos, e a criação de mecanismos de compensação que incentivem uma resposta rápida por parte dos operadores, “assegurando a reparação e reposição do serviço em prazos reduzidos”.