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Estudo identificou redução populacional em 79% das espécies endémicas de formigas em Fiji. Investigadores associam queda a problema global que afeta ecossistemas menos isolados.
Pelo menos 79% das espécies endémicas de formigas do arquipélago de Fiji apresentam um forte declínio populacional, uma decadência que coincide com a chegada do ser humano à região, há 3 mil anos, e que se intensificou nos últimos séculos com o avanço da colonização das ilhas do Pacífico Sul.
Os dados foram publicados por cientistas do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, do Museu de Zoologia Comparativa de Harvard e da Universidade de Maryland na revista Science, em meados de setembro. A tendência, segundo os investigadores, é representativa de um processo que pode afetar insetos endémicos de diversas partes do mundo e os seus habitats.
Isto porque a abundância e a biodiversidade dos insetos são cruciais para manter ecossistemas saudáveis, já que desempenham funções que vão desde a polinização das flores até à decomposição e ao apoio aos ciclos de nutrientes. Em Fiji, por exemplo, espécies nativas são responsáveis até mesmo por cultivar pés de café na casca de árvores para recolher o seu néctar.
O declínio populacional de insetos já tinha sido identificado em todo o mundo, mas a sua extensão é difícil de medir. A maioria dos estudos baseia-se em pesquisas de campo realizadas no século passado, com lacunas na compreensão das tendências a longo prazo, afirmam os investigadores. O novo estudo, porém, utiliza uma abordagem genómica comunitária para delimitar com maior precisão as tendências demográficas de espécies que existem exclusivamente em Fiji.
Graças a coleções existentes em museus, foi possível rastrear as relações evolutivas das formigas para explorar a sua chegada às ilhas e reconstruir a história populacional das espécies.
Resultado “alarmante”
Segundo comunicado da Universidade de Maryland, o resultado é “alarmante”.
“O facto de as espécies endémicas estarem em declínio é motivo de grande preocupação, tanto para o futuro dessas espécies em Fiji como pela possibilidade de se tratar de um fenómeno muito mais generalizado, afetando outros tipos de insetos e outras ilhas”, disse Evan Economo, um dos entomologistas responsáveis pela análise.
A investigação indica que a maior proporção de declínios parece ter ocorrido nos últimos séculos, coincidindo com o contacto europeu, a colonização, o comércio global e a introdução de técnicas agrícolas modernas. Entretanto, as espécies de formigas recentemente introduzidas pelos humanos estão a registar um crescimento explosivo das suas populações.
“E, nas ilhas, as espécies de formigas não nativas são um grande problema, pois perturbam os ecossistemas locais, levando espécies nativas de todos os tipos à extinção e causando problemas para a saúde humana e para a agricultura”, afirmou Economo. “É provável que o aumento das espécies de formigas não nativas seja um dos fatores pelo qual as espécies endémicas estão a diminuir como grupo, juntamente com outras pressões.”
“Apocalipse global de insetos”
Os investigadores sublinham que as ilhas funcionam como microcosmos das tendências globais, pois são ecossistemas isolados que sentem os efeitos do impacto humano mais rapidamente.
“Determinar se as observações recentes fazem parte de tendências mais longas pode ajudar a orientar os esforços de conservação e a identificar factores que contribuem para o apocalipse global de insetos”, refere o comunicado da Universidade de Maryland.
O próximo passo dos investigadores será recuperar dados moleculares ocultos em amostras de museus para esclarecer o declínio de outras espécies de insetos de importância global.