Em contraciclo com o que está a acontecer na maioria das companhias aéreas, a Air Canada está desde 1 de Outubro a oferecer bebidas alcoólicas (cerveja e vinho) gratuitas na classe económica em todos os voos, bem como snacks e cerveja sem álcool, tornando-se, assim, a única companhia aérea tradicional da América do Norte a fazê-lo.
A explicação para este volte-face é que, de acordo com as declarações à Reuters do vice-presidente de fidelização e produtos da companhia canadiana, Scott O’Leary, “os alimentos e as bebidas tendem a ter um impacto desproporcional na satisfação do cliente, mais do que qualquer outro produto ou serviço”.
Esta novidade surge na altura em que as companhias aéreas norte-americanas enfrentam a uma onda de protestos dos passageiros devido às taxas cobradas não só em casos de bagagem extra, mas também em lugares com mais espaço para as pernas. “Isentar as taxas de cerveja e vinho é mais acessível do que cortar as taxas de bagagem, que compensam os custos de manuseamento. Isto não é algo que seja facilmente oferecido a todos sem que tenha algum impacto no preço do bilhete”, refere o mesmo responsável à agência de notícias.
“A nossa capacidade de oferecer um grau de diferenciação que nos distingue de todas as outras companhias aéreas com as quais competimos nestas rotas foi muito importante para nós”, prossegue. Hoje, grande parte das companhias aéreas só serve bebidas e refeições gratuitas em voos de longo curso.
No entanto, esta decisão da Air Canada veio reavivar uma discussão já antiga: deveria ou não ser permitido o consumo de álcool nos aviões e até nos aeroportos devido aos incidentes provocados pelos passageiros alcoolizados. De acordo com a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia “tanto o número como a gravidade dos incidentes” aumentaram na Europa desde 2020. Já a Associação Internacional de Transporte Aéreo confirma que houve um incidente em cada 480 voos em 2023, com base em dados de mais 24.500 relatórios e 50 operadores em todo o mundo. Contudo, não se sabe quantos deles envolveram álcool.
A Ryanair é uma das companhias áreas que mais se tem feito ouvir nesta matéria. Desde o início de 2025, luta para que os passageiros sejam impedidos de beber demasiado antes de embarcar nos voos. Para os responsáveis da companhia irlandesa, deveria haver o limite de duas bebidas alcoólicas nos aeroportos. A restrição seria possível através do cartão de embarque exactamente da mesma forma que já são limitadas as vendas duty free.
Os efeitos do álcool em altitude
Convém lembrar que a sensação de embriaguez num voo é mais acentuada, devido à pressurização das cabines. A pressão reduzida diminui a capacidade do corpo para absorver oxigénio e isso pode fazer com que a pessoa se sinta embriagada mais rapidamente. Além disso, o ar dos aviões é muito seco e o álcool tem um efeito diurético, o que pode levar à desidratação mais rapidamente do que em terra.
Um estudo publicado na revista Thorax, ligada ao British Medical Journal (BMJ), em 2024 demonstrou que o consumo de álcool durante um voo pode diminuir os níveis de oxigénio no sangue e aumentar o ritmo cardíaco durante o sono. Os investigadores do Instituto de Medicina Aeroespacial do Centro Aeroespacial Alemão observaram que os participantes expostos a uma combinação de pressão da cabina e de álcool viram os seus níveis de oxigénio no sangue diminuir para uma média de 85% durante o sono. Já o ritmo cardíaco aumentou para uma média de 87,7 batimentos por minuto (bpm). Quem não consumiu álcool, apresentou um nível de oxigénio de 88% no sangue e uma frequência cardíaca de 72,9 bpm.