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Da próxima vez que a Amazon anunciar os descontos do Prime Day, lembre-se disto: os preços durante as promoções nem sempre são melhores, e por incrível que possa parecer, por vezes são até mais altos.  Entretanto, a Black Friday está à porta. Eis o que deve fazer para conseguir um bom negócio nas promoções.

Já não é novidade para (quase) ninguém que as mega-promoções e os períodos especiais como as famosas Black Fridays oferecem mais vezes falsos descontos do que verdadeiros bons negócios.

É uma fraude, em que invariavelmente milhares de pessoas continuam a cair, que leva os consumidores a comprar produtos “com desconto” ao mesmo preço que tinham — produtos que uns dias antes subiram de preço para depois terem o “desconto”.

O que poderíamos chamar de fenómeno Black Frauday chega a todo o lado — incluindo aos famosos dias de descontos da Amazon.

Durante os recentes “Prime Big Deal Days” de outono , Geoffrey Fowler, colunista do The Washington Post, comparou os preços dos produtos em promoção com o que custavam anteriormente na Amazon.

Fowler concluiu que, em média, teria poupado quase nada. Em algumas compras de grande valor, teria mesmo acabado por pagar mais — e tem os recibos para provar.

A família de Fowler preparou-se para a promoção, que decorreu a 7 e 8 de outubro, e compilou uma lista de produtos com preços que tinham vindo a acompanhar. No primeiro dia da promoção, o colunista recebeu uma mensagem do pai: “Estou muito desapontado. Os preços estão muito mais altos!”

O pai de Fowler tinha razão. Um suporte de TV cujo preço estava a acompanhar tinha subido 38%, de 275 para 379 dólares entre 2 e 7 de outubro — nos dias anteriores ao início da promoção.

A mesma situação aconteceu com outros produtos caros da lista, como uma consola que tinha subido de 219,99  para 299 dólares.

Em outros casos, a Amazon anunciava descontos que correspondiam exatamente ao preço que já tinha cobrado nas semanas anteriores. Um exemplo: uma escova de dentes elétrica Oral-B aparecia com 39% de desconto, mas na realidade mantinha o mesmo preço de agosto.

Muitos retalhistas usam “promoções” como marketing enganoso. A técnica é simples: para os mais incautos, o mero selo de “Prime Day” dá-nos a ideia de que 299 dólares “deve ser um preço muito bom” — mesmo que custasse antes 219. E há quem caia.

Fowler decidiu fazer uma investigação sistemática aos preços anunciados no Prime Day. O colunista recolheu os recibos de todas as compras não alimentares que tinha feito na Amazon nos últimos seis meses, quase 50 produtos.

Depois, calculou quanto esses mesmos artigos teriam custado durante os Prime Big Deal Days de 8 de outubro. A poupança potencial total durante o Big Deal Days foi de apenas 0,6%. E isso sem contar o custo da assinatura Amazon Prime:  139 dólares, cerca de 120 euros por ano.

As tarifas e a inflação podem ter contribuído para o aumento dos preços nesse período. Mas, como diz Michelle Singletary num outro artigo no The Washington Post, o Prime Day é bom sobretudo para a Amazon — não para si.

Fowler e Singletary não têm nada contra a Amazon, nem o jornal está propriamente em campanha contra a plataforma. O proprietário da gigante do retalho online é Jeff Bezos. O dono do Post também. Mas, objetivamente, o que a Amazon de Bezos está a fazer é uma fraude, denunciam os jornalistas do jornal de Bezos.

A Amazon oferece aos clientes poupanças reais e preços transparentes, quer num dia normal de compras, quer durante um evento importante como o Prime Big Deal Day”, disse Jessica Martin, porta-voz da Amazon, numa resposta a um pedido de informações enviado por Fowler por e-mail.

“Embora ofereçamos milhões de promoções durante os eventos, nem todos os artigos da nossa loja estarão em promoção durante o evento, o que é normal no retalho”, acrescentou, explicando que os exemplos que Fowler partilhou “não refletem as tendências gerais deste evento”.

Fowler não é o único a achar que os Prime Days da Amazon (e não só) podem parecer um esquema de marketing.

Organizações de defesa dos consumidores alertaram anteriormente que é uma prática comum apresentar preços “anteriores” artificialmente inflacionados, para que os descontos pareçam maiores do que realmente são.

A prática é antiga. Antes do Prime Day de 2017, a organização sem fins lucrativos Consumer Watchdog revelou que 61% dos preços de referência na Amazon eram superiores a qualquer preço que a empresa tivesse cobrado por esses artigos nos 90 dias anteriores.

O que fazer?

Se quer poupar dinheiro a comprar online, deve continuar a fazer comparações de preços. Há plugins para os browsers que sugerem preços mais baixos quando está a fazer compras online.

O Google e até ferramentas de IA, como o ChatGPT, também podem ser úteis. Não ponha de lado a ideia de comprar em lojas físicas. Fowler descobriu que o seu dentista vendia a mesma escova elétrica por menos 10 dólares que o “preço promocional” da Amazon.

Para realmente conseguir um bom negócio na Amazon, visite-a com um plano. Fowler usa o CamelCamelCamel, um serviço que que acompanha o histórico de preços da Amazon — tal como o  Keepa.

Conhecer os preços anteriores e comparar com os anunciados nas promoções é essencial, diz o cronista do The Washington Post. Muitas TVs, por exemplo, atingem os preços mais baixos na Black Friday, e não no Prime Day.

Mesmo numa Black Friday ou Prime Day, desconfie de grandes descontos: reduções acima de 50% em produtos de marcas conhecidas são frequentemente irrealistas.

Além disso, confirme a reputação do vendedor. No caso de marketplaces como o Amazon Marketplace, AliExpress ou eBay, ou na Worten ou FNAC, em Portugal, verifique as avaliações e comentários de outros compradores, há quanto tempo o vendedor opera, e as respostas a problemas reportados. A plataforma portuguesa Kuanto Kusta também nos ajuda a comparar preços.

O Prime Day e a Black Friday são ocasiões propensas a fraudes, promoções enganosas e práticas de marketing duvidosas. No entanto, proporcionam também bons negócios e descontos reais. Basta-nos saber distinguir o trigo do joio.


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