Basta escrever uma frase como “imagens de vídeo vigilância de um cão a ser preso por roubar um bife de um supermercado” para que, em poucos segundos, o vídeo seja criado por inteligência artificial.A aplicação, lançada a 3 de outubro, combina um criador de vídeo com IA e uma rede social, tudo em um, o que permite aos utilizadores publicar os seus vídeos IA, descarregá-los ou partilhá-los diretamente em plataformas concorrentes como o TikTok e Instagram.


Os vídeos irreais inundaram as redes sociais de tal forma que a Meta apressou o lançamento da sua própria aplicação de vídeo com IA, o Vibes, com receio de ficar atrás na corrida tecnológica.


Alarmes da desinformação


Equipas de repórteres do New York Times e da NPR testaram o Sora e testemunham que a ferramenta torna “a desinformação extremamente fácil e extremamente real”.



O jornalista Geoff Brumfiel, da NPR, destacou que as “barreiras de proteção” da OpenAI ainda são frágeis. Num teste, foi possível criar um vídeo falso de Richard Nixon a anunciar que a chegada à Lua tinha sido encenada.

Os nossos cérebros estão fortemente programados para acreditar no que vemos, mas devemos aprender a parar e pensar se um vídeo representa algo que realmente aconteceu no mundo real”, alertou Ren Ng, professor na Universidade da Califórnia, ao New York Times.


Como funciona o Sora

A aplicação usa o início de sessão do ChatGPT, que fornece dados para personalizar a experiência.

O feed da aplicação é semelhante ao do TikTok, com conteúdo “Para si” e “A seguir”, além da opção “escolher um estado de espírito” para definir o tipo de vídeos que o utilizador quer ver.

Permite ainda enviar uma fotografia real e gerar um vídeo a partir dela. Em cerca de um minuto, o resultado pode ser publicado dentro do Sora ou noutras redes.


A ferramenta pode até usar o histórico do ChatGPT para afinar a criação de vídeos, uma funcionalidade que levanta novas questões sobre privacidade e personalização algorítmica.


O desafio e o risco para a verdade digital

Especialistas alertam que a OpenAI está a transformar os “deepfakes”, ou seja, vídeos da IA falsos, num “brinquedo divertido”, com enorme potencial viral e os limites entre o real e o artificial tornam-se cada vez mais difusos.

“Estamos a entrar numa nova era, em que a IA generativa permite criar conteúdo infinito, a custos cada vez mais baixos”, afirmou Joe Marchese, cofundador da Human Ventures, à Reliable Sources. Alguns utilizadores recorrem ao Sora para vídeos humorísticos como lutas entre celebridades de Hollywood em anime. Mas outros usam a tecnologia para espalhar desinformação, incluindo imagens de crimes inventados captados por videovigilância.


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“Já ninguém vai estar disposto a aceitar vídeos como prova de nada”, afirmou Lucas Hansen, fundador da organização CivAI, ao New York TimesÀ medida que a IA se mistura com a criatividade e o entretenimento, cresce o debate sobre o papel das plataformas, dos reguladores e dos próprios utilizadores na defesa da integridade digital.


Para os especialistas, o Sora marca uma mudança profunda na perceção da verdade online.