Sem massa crítica de chefes árabes, Moscovo travou à última hora a sua grande aposta diplomática. A prova de força que Putin queria fica em suspenso, condicionada pelo plano de Trump para Gaza, e revela um desconforto crescente nas capitais árabes

A estreia da conferência Rússia–Árabe, prevista para 15 de outubro em Moscovo, foi adiada à última hora por escassez de confirmações de chefes de Estado. 

O Kremlin via o encontro como peça-chave para sinalizar a aliados e rivais que mantém influência no mundo árabe. Oficialmente, a postergação foi anunciada nesta quinta-feira, com a justificação de que os líderes árabes não podem deslocar-se enquanto avança a proposta Israel–Hamas mediada por Donald Trump. 

A nova data “dependerá de como evoluir a implementação do plano de Trump”, disse Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Putin, após um telefonema com o primeiro-ministro iraquiano.

Moscovo convidou 22 líderes para um fórum sob o lema “cooperação para a paz, estabilidade e segurança” — e lançou mesmo um site a 3 de outubro. Até terça-feira, apenas alguns tinham confirmado, entre eles o presidente sírio Ahmed al-Sharaa e o secretário-geral da Liga Árabe. 

“Pesos-pesados” regionais como Mohammed bin Salman (Arábia Saudita), Mohammed bin Zayed (EAU) e Abdel Fattah al-Sisi (Egito) não estavam confirmados. O Kremlin admite remarcar para novembro esta conferência. 

O adiamento é lido como revés para Vladimir Putin e reflexo do maior interesse de várias capitais árabes em estreitar laços com Trump, que ameaçou com novas sanções a Moscovo e tem elogiado líderes árabes pelo papel nas conversações com o Hamas para o cessar-fogo em Gaza e posterior acordo de paz. Por outro lado, diversos analistas notam que a guerra na Ucrânia tem reduzido a margem diplomática russa no Médio Oriente, enquanto EUA e China expandem influência. 

“Putin queria mostrar-se líder da ‘maioria global’, mas sem o mundo árabe isso é difícil”, resume o politólogo Andrei Kolesnikov, citado pela Bloomberg.