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O Presidente francês Emmanuel Macron criticou duramente a forma como a União Europeia conduziu as recentes negociações comerciais com os Estados Unidos, afirmando que o bloco europeu “não foi suficientemente temido” para conseguir um acordo mais vantajoso. A declaração foi feita durante o Conselho de Ministros francês, realizado esta quarta-feira, de acordo com uma fonte do governo citada sob anonimato — prática comum em Paris nestes contextos.

“O que nos faltou foi sermos temidos. Não fomos temidos o suficiente”, terá afirmado Macron, numa clara alusão à forma como Washington, sob a presidência de Donald Trump, acabou por impor termos desfavoráveis a Bruxelas.

O novo acordo, fechado no domingo entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prevê a aplicação de tarifas de 15% sobre a maioria das exportações da União Europeia para os Estados Unidos. Uma medida que, embora não tão severa quanto os 30% inicialmente ameaçados pela administração norte-americana, representa ainda assim um golpe significativo para várias indústrias europeias.

Macron manteve-se em silêncio nos dias que se seguiram ao anúncio do acordo, ao contrário do seu primeiro-ministro, que classificou o pacto como “um dia negro” para a Europa. Apesar disso, o presidente francês reconheceu que o entendimento traz alguma “clareza de curto prazo”, e elogiou os negociadores europeus pelo seu esforço em “proteger os interesses franceses e europeus em condições particularmente difíceis”.

Ainda assim, Macron deixou claro que, na sua visão, o trabalho está longe de estar concluído: “A história não acabou e não vamos ficar por aqui”, declarou.

A resposta francesa ao acordo tem sido particularmente crítica, contrastando com a posição mais conciliadora de outros líderes europeus. O chanceler alemão Friedrich Merz, cujo país depende fortemente das exportações, e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, manifestaram apoio ao pacto, sublinhando a importância de estabilizar rapidamente as relações comerciais com Washington.

Já Paris assumiu a dianteira na contestação política ao entendimento, exigindo uma postura mais dura da parte de Bruxelas. Na segunda-feira, o ministro do Comércio francês, Laurent Saint-Martin, e o ministro dos Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, apelaram à Comissão Europeia para que recorra ao Instrumento Anti-Coerção — uma ferramenta concebida para responder a pressões económicas externas, permitindo à UE restringir o acesso de empresas estrangeiras a contratos públicos, investimentos e mercados financeiros no espaço europeu.

Apesar de a França ter expressado publicamente apoio à estratégia negocial de von der Leyen, fontes do governo francês revelaram que, em privado, Paris tem vindo a pressionar Bruxelas a adotar uma abordagem mais agressiva. Ao mesmo tempo, as autoridades francesas procuraram proteger setores-chave da sua economia, como o dos vinhos e bebidas espirituosas, dos efeitos da guerra comercial com os EUA.

A Comissão Europeia, por seu lado, tem respondido às críticas com firmeza. Fontes próximas da equipa de negociação consideram que o acordo alcançado representa “uma melhoria significativa” face às tarifas de 30% inicialmente propostas pela Casa Branca, e que as críticas surgem apenas a posteriori, numa espécie de “julgamento à segunda-feira”.

Para os defensores do pacto, o acordo foi uma solução de compromisso que evitou um cenário ainda mais penalizador para os exportadores europeus. No entanto, para Macron e o governo francês, a lição a retirar é clara: a União Europeia precisa de se afirmar com mais força na cena internacional e deixar de ser vista como um parceiro comercial frágil.