O Presidente francês, Emmanuel Macron, reconduziu esta sexta-feira à noite Sébastien Lecornu no cargo de primeiro-ministro, apenas quatro dias após a sua demissão, divulgou a presidência francesa em comunicado. O anúncio que incumbe Lecornu de formar um novo Executivo chegou sem mais detalhes, após longas negociações. Segundo fontes do Palácio do Eliseu, citadas pelo Le Monde, Macron deu “carta branca ao primeiro-ministro”.
A resposta não se fez esperar muito e chegou através da rede social X: “Aceito — por dever — a missão que me foi confiada pelo Presidente da República de fazer os possíveis para dotar a França de um orçamento até o final do ano. Devemos pôr fim a esta crise política que exaspera o povo francês e a esta instabilidade que prejudica a imagem e os interesses da França”, escreveu Lecornu, afirmando que o novo Governo “deve encarnar a renovação” e que “todas as questões levantadas” durante as consultas com os partidos políticos nos últimos dias serão “abertas ao debate parlamentar”.
O anúncio surge após uma semana de intensas negociações lideradas por Sébastien Lecornu com diversas forças políticas, para chegar a um compromisso para a aprovação do Orçamento do Estado dentro do prazo estabelecido
Na rede social X, Lecornu escreveu ainda que “todas as questões levantadas nos últimos dias serão abertas ao debate parlamentar; a restauração das finanças públicas é uma uma prioridade; todos aqueles que se juntam ao Governo devem desvincular-se de ambições presidenciais para 2027; o novo Governo deve fazer tudo paara ter sucesso nesta missão”.
Em reação, o secretário-geral dos socialistas franceses, Pierre Jouvet, afirmou que o seu partido “não tem absolutamente nenhum acordo” com Sébastien Lecornu sobre a “não censura” e não tem “nenhuma garantia” quanto às suas reivindicações, garantiu à Agence France-Presse.
Por seu lado, Marine Le Pen, do partido de extrema-direita RN – Rassemblement National, defendeu sobre a recondução de Sébastien Lecornu que “a dissolução [do parlamento] é mais inevitável do que nunca”, escreveu na rede social X. E acrescentou: “A manobra é transparente: o abandono visava apenas permitir que o orçamento fosse aprovado por decreto. As manobras continuam, a censura, consequentemente, é necessária, e a dissolução é mais inevitável do que nunca”.
Do lado dos comunistas, Fabien Roussel, secretário nacional do Partido Comunista Francês, escreveu no X: “Teimosia inaceitável do presidente. Sem trégua, será censura: de volta às urnas!”, defendendo a dissolução da Assembleia ou a renúncia do Presidente da República.
O partido de extrema-direita União Nacional, o partido de extrema-esquerda França Insubmissa e o Partido Comunista francês já prometeram censurar o próximo Governo. “Mais uma bofetada na cara dos franceses vinda de um homem irresponsável embriagado de poder. A França e o seu povo estão humilhados”, frisou o coordenador do França Insubmissa na rede social X. O partido de esquerda radical acrescentou que vai apresentar “uma nova moção de destituição do Presidente” Emmanuel Macron. Os deputados da União Nacional (RN, na sigla francesa) garantiram que vão censurar imediatamente o novo Governo de Sébastien Lecornu. A promessa foi feita no X pelo líder do partido de extrema-direita, Jordan Bardella, denunciando uma “equipa sem futuro”.
Apontado por muitos como a última esperança de Macron, Lecornu foi nomeado primeiro-ministro a 8 de setembro, tendo apresentado a sua demissão esta segunda-feira, apenas 14 horas depois de anunciar a composição do seu Governo. A mei da semana, o gabinete presidencial anunciou que Macron iria nomear um novo primeiro-ministro até ao final desta sexta-feira para evitar uma nova dissolução da Assembleia Nacional.
Em último recurso, Macron poderá formar um Governo técnico, nomeando um primeiro-ministro consensual, que formaria um Governo composto por funcionários. Esta solução permite que os partidos políticos se comprometam a não derrubar o Executivo. Entetanto, o tempo para aprovar o Orçamento do Estado está a esgotar-se. As regras são claras: o Orçamento deve ser apresentado à Assembleia até à primeira terça-feira de outubro do ano anterior à sua aplicação. Ou seja, o prazo já expirou. Agora, fica a promessa de aprovar um Orçamento até ao final do ano.
A nova nomeação de Lecornu é amplamente vista como a última oportunidade do Presidente para revigorar o seu segundo mandato, que se prolonga até 2027. Sem maioria na Assembleia Nacional (Parlamento) para levar avante a sua agenda, Macron enfrenta crescentes críticas, incluindo de dentro das suas próprias fileiras, e tem pouca margem de manobra.
Os líderes dos partidos políticos que esta sexta-feira se reuniram durante mais de duas horas com Macron, a seu pedido, saíram das negociações dizendo não ter a certeza sobre qual seria o próximo passo do líder francês. Alguns alertaram que outro primeiro-ministro escolhido entre as fileiras do frágil campo centrista de Macron correria o risco de ser desautorizado pela poderosa câmara baixa do Parlamento, prolongando a crise. Os dois maiores partidos da oposição na Assembleia Nacional, o partido de extrema-direita União Nacional (RN, na sigla francesa) e o partido de extrema-esquerda França Insubmissa, não foram convidados para as discussões de hoje. O RN defende que Macron deve realizar novas eleições legislativas e a França Insubmissa quer a sua demissão.
Lecornu argumentou no início desta semana que o bloco centrista de Macron, os seus aliados e partes da oposição ainda se poderiam unir num governo funcional. “Há uma maioria que pode governar. Sinto que um caminho ainda é possível. É difícil”, vincou.
Lecornu terá agora de procurar compromissos para evitar um voto de desconfiança imediato e poderá mesmo ser forçado a abandonar uma reforma da segurança social extremamente impopular, uma das políticas emblemáticas de Macron no seu segundo mandato presidencial. Aprovada no Parlamento sem votação em 2023, apesar dos protestos em massa, a reforma aumenta gradualmente a idade da reforma dos 62 para os 64 anos. Os partidos da oposição querem que seja afastada.