António Salvador, presidente do SC Braga, esteve este sábado de manhã no último dia do Portugal Football Summit e não quis responder diretamente às declarações de André Villas-Boas, presidente do FC Porto, no dia anterior, mas enalteceu a importância da centralização dos direitos televisivos em Portugal e deu exemplos lá fora.

«Não vou comentar comentários de outros presidentes, o que posso dizer é que o SC Braga fez um caminho diferente e definiu três pilares: estabilidade financeira, rodear-se de pessoas competentes em todas as áreas com visão e estratégia para crescer, e todas as infraestruturas para crescer. SC Braga teve essa visão, compromisso para com o clube e é isso que todos os outros clubes deveriam e devem pensar para podermos ter um campeonato mais competitivo», começou por dizer, em conversa com Pedro Pinto, lembrando o que acontece na Premier League e na Champions.

«A visão demográfica… na UEFA temos uma centralização de receitas e recebemos uma variação mais ou menos igual e em Portugal não. O Liverpool no ano passado foi campeão e recebeu 1.6% acima do último classificado das receitas da centralização. Liverpool tem muito mais dimensão do que o Southampton, portanto não é por aí a diferença. É isso a que se chama para ter o campeonato mais competitivo. FC Porto, Benfica e Sporting têm cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram, Real Madrid tem perto de 200 milhões. Se fôssemos pela demografia, pela questão social, quanto é que esses clubes iam receber da UEFA e quanto iam receber os portugueses? Não podemos querer a mesma coisa para o nosso campeonato. Temos de distribuir as receitas para todos para sermos mais competitivos. Os que estão na Europa devem receber mais, os outros devem receber menos, mas eu penso enquanto presidente que as receitas devem ser de uma forma diferente para que todos possamos ter um campeonato mais competitivo em Portugal», explicou, afirmando que o clube teve um papel muito importante no ranking nestes últimos anos.

«É preciso que se diga, aquilo que o SC Braga fez nos últimos 20 anos, se não fosse o SC Braga, FC Porto, Benfica e Sporting não estavam os três na Liga dos Campeões, era impossível poderem estar. O SC Braga é fundamental para aquilo que é o trajeto destes três clubes. E é importante também ter clubes permanentemente na Conference para o quarto lugar entrar diretamente na Liga Europa e não desgastar-se no início da época», atirou, voltando à questão da centralização e das receitas que pode melhorar o nível de competitividade no país.

«Ajudam, porque traz mais visibilidade, mais projeção, portanto é bom que não estejam só quatro clubes na UEFA, mas cinco. É preciso que haja uma centralização diferente, que as entidades que regulam o futebol português deem condições de trabalho para que possamos ser sete, oito clubes fortes para estarmos permanentemente na UEFA e nos traga mais visibilidade, e valor a uma futura centralização que tem de ser feita de imediato», garantiu, avisando para mais problemas que possam acontecer no futuro se isso não acontecer.

«Lançámos o desafio há anos, alertámos do que podia a acontecer, perdemos o sexto lugar e acredito muito que em vez de o recuperar, podemos cair. Tem um impacto grande, porque em vez de estarem várias equipas na Champions, outras têm de passar eliminatórias e isso é um risco, o SC Braga corre um risco enorme em termos de receitas para a sua época, porque tem de fazer seis jogos. E pode ser eliminado, focámo-nos fortemente nessa passagem para evitar isso. Está a correr bem, ganhámos aos líderes de campeonatos na fase de liga, dissemos que estamos presentes e vamos fazer uma boa campanha, e pontuar para Portugal, para voltar a ter três equipas na Champions e para que o quarto entre diretamente na fase regular», afirmou, partilhando a opinião de que está a ser cada vez mais difícil contratar – valores sobem – e que apenas os clubes da Liga devem receber as receitas e não da Liga 2.

«A UEFA deve distribuir apenas pelas equipas da primeira divisão, a Liga decidiu distribuir pela 1ª e 2ª. Eu não sou a favor disso, mas para isso acho que esses recursos deviam ser direcionados todos para as equipas que podem entrar na Europa. Porque isto está muito mais difícil de contratar jogadores lá fora, porque a concorrência assim o quer e não deixa, mas definimos um teto salarial para os nossos jogadores e alguns [possíveis reforços] não acreditam. A nossa aposta é na formação, tem sido singrada até aqui e vai continuar. Depois do fecho vendemos um grande jogador e uma grande venda da formação, e é essa a aposta dos clubes no futuro para continuar a ter sustentabilidade, porque cada vez é mais difícil contratar lá fora», finalizou, lembrando a grande venda de Roger Fernandes ao Al Ittihad, agora de Sérgio Conceição, por 32 milhões de euros fixos mais 2,5 em objetivos, já depois do fecho do mercado em Portugal.