
Um gás radioactivo que fica preso em espaços interiores é responsável por 3 a 14% de todos os cancros do pulmão. As nossas unhas dos pés podem revelar a nossa exposição prolongada a este gás.
O radão (Rn), um gás incolor e inodoro, é a segunda principal causa de cancro do pulmão depois do tabagismo.
Esta é uma causa bastante negligenciada – tanto que os não fumadores e fumadores ocasionais tendem a não inscrever-se para rastreios de cancro do pulmão. Mas deviam.
Agora, uma equipa de cientistas da Universidade de Calgary, no Canadá, descobriu uma forma surpreendentemente simples de detetar a exposição prolongada de uma pessoa ao radão, o que pode ajudar médicos a identificar este grupo “negligenciado”.
Como escreve a Science Altert, as unhas dos pés são um dos grandes “arquivos” do corpo da nossa exposição prolongada a toxinas ambientais como o radão.
O novo estudo, publicado esta terça-feria na Environment International, confirmou que os recortes de unhas dos pés são indicadores fiáveis de exposição prolongada ao radão.
“Depois de inalarmos radão, ele transforma-se rapidamente num tipo específico de chumbo radioactivo. O teu corpo trata o chumbo radioativo proveniente do radão como trata todo o chumbo, e armazena-o em tecidos de renovação lenta, como a pele, o cabelo e as unhas”, explica o líder da investigação, Aaron Goodarzi.
Ao contrário do historial de consumo de tabaco, a exposição ao radão não é algo que um paciente consiga relatar facilmente. As pessoas não têm consciência de que alguma vez estiveram expostas a este gás, e a exposição varia consoante a geologia local e a forma como os espaços interiores são construídos e utilizados.
Onde anda o radão?
O radão é naturalmente produzido no solo e liberta-se para o ar. Em espaços exteriores, dilui-se facilmente, mas em interiores pode acumular-se rapidamente. Isso acontece especialmente em edifícios com má ventilação e em locais frios, onde as diferenças de pressão podem puxar mais radão do solo para os espaços interiores.
O radão também pode dissolver-se, acumular-se e ser libertado pela água, especialmente em áreas rurais ricas em urânio, onde a água subterrânea é uma fonte importante.
Alguns materiais de construção também contribuem para a acumulação de radão em interiores, incluindo betão leve com xisto aluminoso, fosfogesso e tufo italiano.
Como detalha a Science Altert, utilizando métodos ultrassensíveis, os investigadores detetaram 210Pb, um isótopo de chumbo que resulta da decomposição do radão, em 39 das 55 amostras de unhas dos pés que analisaram (71%).
Os adultos que tinham estado a inalar níveis elevados de radão nas suas casas durante uma média de 26,5 anos tinham cerca de 0,298 femtogramas de 210Pb por nanograma de chumbo estável retido nos recortes das suas unhas dos pés.
Entretanto, as unhas dos pés daqueles que tiveram baixa exposição ao radão ao longo dos anos continham apenas 0,075 femtogramas de 210Pb por nanograma de chumbo. Isto representa uma diferença de 397%: um indicador bastante forte de que o historial de exposição ao radão está, de facto, encravado nas unhas dos pés.