A finasterida tem sido associada há depressão e ao suicídio há mais de 20 anos sem que autoridades de saúde conduzam investigações aprofundadas a respeito, aponta uma nova revisão científica. O remédio é um dos mais populares do mundo para tratar a calvície.
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Um dos mais recentes posicionamentos a respeito da relação foi em maio deste ano, quando a Agência Europeia de Medicamentos emitiu um comunicado ressaltando o surgimento de alterações de humor, incluindo depressão, humor deprimido e ideação suicida com o uso do remédio, principalmente em sua versão de 1mg.
O novo trabalho, de Universidade Hebraica de Jerusalém, baseou-se em dados globais de notificações de eventos adversos e bancos de dados de saúde. Segundo o autor principal, o professor Mayer Brezis, profissionais de saúde e agências reguladoras ignoraram repetidamente sinais de alerta sobre a associação, deixando de agir diante de provas crescentes sobre os potenciais efeitos psiquiátricos graves da substância.
A revisão conduzida por Brezis se baseou em oito grandes estudos publicados entre 2017 e 2023, todos apontando o mesmo padrão: indivíduos que tomaram finasterida apresentaram maior probabilidade de desenvolver transtornos de humor ou pensamentos suicidas do que aqueles que não usaram o medicamento. Os resultados foram consistentes em diferentes países e sistemas de dados, incluindo os registros da FDA e bancos nacionais de saúde da Suécia, do Canadá e de Israel.
Brezis alerta que, pesar das evidências acumuladas, nem a farmacêutica Merck nem a FDA, agência reguladora dos EUA, conduziram investigações de segurança adequadas. O pesquisador pede reformas urgentes na forma como os medicamentos são avaliados e monitorados após a aprovação.
“As evidências deixaram de ser anedóticas. Agora vemos padrões consistentes em diversas populações — e as consequências podem ter sido trágicas”, afirmou.
A FDA reconheceu a depressão como possível efeito colateral apenas em 2011, e o risco de suicídio só foi incluído no rótulo em 2022, embora pesquisadores já alertassem desde 2002. Em 2011, o órgão havia registrado apenas 18 casos de suicídio relacionados à finasterida. Mas, com base nas taxas de uso globais, esse número deveria estar na casa dos milhares.
A finasterida bloqueia a conversão de testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), mas com isso também pode interferir em neuroesteroides como a alopregnanolona, substância ligada à regulação do humor no cérebro. Estudos em animais mostram efeitos duradouros sobre a neuroinflamação e até alterações estruturais no hipocampo.
Em alguns pacientes, os sintomas persistem mesmo após a suspensão do remédio. Casos relatados como “síndrome pós-finasterida” incluem insônia, crises de pânico, dificuldades cognitivas e pensamentos suicidas que duram meses ou anos depois do fim do tratamento.
O estudo aponta que, diferentemente de medicamentos para emagrecimento ou de uso psiquiátrico, a finasterida tem caráter cosmético, e por isso pode ter escapado de investigações mais aprofundadas sobre seus efeitos colaterais.