Quando vi que estava para sair uma série documental sobre a Victoria Beckham, pensei “Macacos me mordam, outra? Não houve já um documentário sobre a Posh Spice?”. Esgravatei a minha memória com afinco, depois desisti e fui ao Google. E percebi que o que me estava a confundir era o documentário sobre o homem que lhe cedeu o apelido e as “golden balls” (estou a citá-la, não me julguem. Se a Posh pode, esta rústica também pode).

Foi aí que me lembrei de um momento muito partilhado e comentado em que Victoria dizia que uma das coisas que tinha em comum com o seu Becks era o facto de ambos serem de famílias “working class”. E nesse momento o marido, que estava na sala ao lado, enfia a cabeça pela porta e aperta com ela repetindo: “Sê honesta! Sê honesta!”. Não satisfeito com a resposta indignada da mulher que garantia estar a ser honesta, Beckham desafia-a: “Diz às pessoas com que carro é que o teu pai te levava à escola?”. E depois de balbuciar e se engasgar e tal, Victoria responde: “Nos anos 80, o meu pai tinha um Rolls Royce”. “Bingo!”, terá pensado o realizador.

Mas a verdade é que fazer um documentário de quatro episódios sobre um jogador que venceu seis Premier Leagues e uma Champions no United — e ainda foi campeão em Espanha, nos Estados Unidos e em França — e o que dá que falar é um momento sobre o parque automóvel do sogro do protagonista, não deve ser fácil.

[o trailer de “Victoria Beckham”:]

Facto é que, na altura, não tinha vista o dito documentário sobre o ex-futebolista, mas achei por bem vê-lo agora, em modo aquecimento, até porque os produtores são os mesmos. E esta vai para minha extensa lista de más decisões. Explico porquê mais à frente, porque o momento é dela, o documentário é sobre ela: Victoria Beckham, antes Posh Spice e Adams de nascença. Mas será mesmo sobre ela?

Devo dizer que não lhe tinha simpatia especial, mas também não lhe tinha nenhum ranço particular. Nunca tive nada contra o Girl Power, mas o fenómeno da girl band passou-me ao lado. Certo é que, apesar do estilo musical não ser a minha praia, cheguei a abanar o quadril ao som de um Wannabe e entoei numa ou noutra circunstância, a plenos pulmões, “People of the world! Spice up your life!”, com um copo de vodka Redbull na mão (saudades do meu inabalável fígado universitário). Dica para um daqueles domingos à tarde, em que queremos fornecer ao cérebro o nível de atividade de flocos de Nestum a transformar-se em argamassa, num taça de leite: Spice World — O Filme. Aposto que nunca ninguém no Observador tinha feito esta recomendação. Sempre a surpreender.