Pedro Chagas Freitas emociona com história de vida de quem “foi abandonado aos oito anos pelo pai”.

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Pedro Chagas Freitas

(SIC)

“Este é o Miguel. Tem 36 anos e no outro dia disse que o seu sonho era poder comer ovos mexidos com salsichas e batatas fritas. A felicidade pode vir num prato. Os sentimentos maiores quase sempre chegam nos gestos pequenos”, começou por escrever na legenda da fotografia de Miguel.

O Miguel foi abandonado aos oito anos pelo pai. Ficou no Hospital, sem ninguém a quem abraçar, depois de ter caído de um andaime. Estava a ser criança, a tentar apanhar um pássaro no telhado da sua casa. Sobreviveu. Ninguém o foi buscar. A mãe morreu enquanto estava internado, o pai não quis ficar com ele. Ficou com um traumatismo crânio-encefálico, com epilepsia pós-traumática, com uma hemiparésia no braço esquerdo“, explicou.

E continuou: “Não pode ter uma vida que os outros vejam como normal. Somos todos normais: esta frase deveria estar afixada em todas as ruas, em todas as praças, em todas as casas, em todas as escolas. O Miguel vive em Instituições desde essa altura. Falta-lhe carinho, autoestima, autoconfiança, colo. Nunca soube, na verdade, o que é uma casa.

“No CEERIA, em Alcobaça, estão muitos assim. Pessoas que nunca souberam o que o amor pode ser. Pessoas que, ali, estão a saber, todos os dias, que são pessoas, que merecem ser pessoas. Grande parte delas tem uma história de maus-tratos, de violência, de uma solidão emocional que nem consigo imaginar. Para elas, falhou tudo. Estão presas num corpo disfuncional, numa realidade que não deixa que funcionem. Comem sempre o mesmo, todos os dias, semana e fim-de-semana. Chamamos vida a realidades que têm tão pouco de viver. Para o Miguel, e para os outros, pode bastar uma iguaria na mesa para a esperança voltar. Eles comem bem, dentro do que a Instituição consegue dar. E a Instituição dá tudo o que pode. Mas pode haver espaço para um pedaço de sonho“, acrescentou.

E rematou: “Deixo aqui o apelo aos restaurantes de Alcobaça, de Leiria, da Nazaré, de todo o lado, na verdade: vamos dar alegria a estas pessoas? Vamos encher-lhes a mesa, nem que por uma vez, de uma festa de sabor, de cor, de salvação? Vamos dar-lhes o mimo que sempre lhes faltou? Contactem o CEERIA, por favor. Curem com o palato o que tantos corações não souberam amar. Obrigado. Bom apetite, Miguel.”

Pedro Chagas Freitas e Benjamim

Reprodução Instagram, DR

Posteriormente, Pedro Chagas Freitas deixou um esclarecimento: “Ainda em relação ao Miguel, e só porque me parece que algumas pessoas (poucas) ficaram com a impressão errada: em nenhum momento quis passar a ideia de que o CEERIA não faz tudo o que pode para ajudá-lo a ter uma vida de verdade, boa, o mais feliz possível. Pelo contrário: estive pessoalmente no Domingo em Alcobaça, nas instalações da Instituição, e testemunhei o amor que todas aquelas pessoas têm por cada um dos que estão lá – inclusivamente foi a Sara, uma das pessoas apoiadas pela Instituição, que apresentou o livro ao meu lado. Era o sonho dela. E foi lindo”, explicou.

“O que quis lançar foi uma semente para uma experiência que seria marcante e fora do habitual: uma festa de sentidos, com o mote dado pelo Miguel. Felizmente, isso vai ser possível. Tenho a certeza. E agradeço profundamente aos milhares de pessoas, e às empresas, que estão a tratar de concretizar um sonho que tem tanto de simples como de extraordinário. Isso é, no final das contas, o mais importante. Sempre. Obrigado a todos”, acrescentou.