“Mukunã – Aprendiz de Pajé”, dirigido por Rodrigo Sena e produzido por Clarisse Kubrusly, nasce desse lugar: o ponto em que a câmera se curva diante do sagrado e o som das folhas se torna reza. O documentário potiguar, realizado com apoio da Prefeitura do Natal por meio da Lei Paulo Gustavo, acaba de conquistar o prêmio de Melhor Documentário Internacional no CUCIF 2025 — Cuzco Underground Cinema Festival, no Peru.

O festival, sediado na histórica cidade de Cuzco, reconhecida como o coração da cultura Inca, é um encontro entre tempos. As projeções acontecem em muros de pedra milenares, onde o passado conversa com o presente e agora também com o Nordeste brasileiro.

Em meio a tantas vozes que ecoam pelos Andes, uma delas veio do litoral do Rio Grande do Norte: Mukunã, jovem da aldeia Potiguara Katu, que se prepara para se tornar pajé. Sua formação não se dá em livros ou templos, mas nas folhas, raízes e ventos. São as plantas de poder, mais antigas que os humanos, que o ensinam a ouvir a terra e a cuidar dela.

O filme é uma denúncia viva contra o desmatamento que ameaça o território indígena e, junto dele, o equilíbrio de um modo de vida. Mas “Mukunã” não é apenas denúncia: é também canto de resistência, celebração da espiritualidade e afirmação da sabedoria que brota da terra. Confira o trailer:

“Este prêmio é uma vitória para a equipe do documentário e para toda a cidade. Ele mostra como os investimentos da Prefeitura em cultura são capazes de transformar vidas e dar visibilidade ao talento dos nossos artistas”, declarou Iracy Azevedo, secretária municipal de Cultura e presidente da Funcarte, ao comemorar a conquista.

O roteiro de Rodrigo Sena e Manoel Batista revela o olhar poético de quem compreende que filmar é também um ato de escuta. A equipe técnica: Yuri Amaral (montagem), Wallace Santos (direção de arte), Jota Marciano (som) e o próprio Sena na fotografia ,constrói um universo sensorial em que a floresta respira junto com a câmera.

“Mukunã – Aprendiz de Pajé” é distribuído pela Katu Distribuidora, com produção das empresas Ori Audiovisual e Bobox Produções.

O prêmio em Cuzco representa o reconhecimento internacional da produção potiguar. Para Mukunã e seu povo, é mais um sinal de que suas histórias tantas vezes silenciadas continuam germinando, como sementes antigas que insistem em florescer.

Rodrigo Sena, que já havia sido premiado com os curtas “O Menino do Dente de Ouro”, “Cuscuz Peitinho” e “A Tradicional Família Brasileira Katu”, e que dirigiu a série “Encantarias”, segue consolidando uma trajetória guiada pela escuta das ancestralidades. Agora, em “Mukunã”, ele volta seus olhos para o invisível: o saber que nasce do chão e se ergue em forma de imagem.

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