Você já parou para pensar nas barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam quando precisam acessar os serviços de saúde? Elas vão além da falta de rampas de acesso. Existe discriminação, preconceito, falta de treinamento dos profissionais e, em alguns casos, uma certa exclusão devido à falta de condições adequadas para o atendimento médico. O que deveria ser um direito fundamental à saúde, ainda é difícil de alcançar para uma parte significativa da população.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população com algum tipo de deficiência passou de 1 bilhão em 2010 para 1,3 bilhão em 2022, cerca de 16% da população mundial. São pessoas que enfrentam desafios diários e, mesmo levando uma vida cotidiana, frequentemente se deparam com obstáculos no acesso a serviços de saúde de qualidade.

O relatório global da OMS sobre equidade em saúde para pessoas com deficiência (2022) mostra que, apesar de alguns avanços terem sido feitos, ainda estamos longe de garantir esse direito a todos.  Em muitos casos, a expectativa de vida dessas pessoas pode ser até 14 anos menor que a de pessoas sem deficiência.

E as limitações não param. Além do difícil acesso a atendimentos médicos, são poucas as pessoas com deficiência que conseguem ocupar posições de liderança na saúde. Elas têm o direito de participar de forma ativa de decisões que impactam suas vidas, mas são barradas por fatores como estigmatização e a falta de oportunidades de educação e emprego.

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Saúde inclusiva

E por que a saúde inclusiva ainda não é uma prioridade?

Pesquisas, como a de Kuper et al. publicada no The Lancet, apontam fatores como a pobreza, falta de treinamento adequado para profissionais, infraestrutura inacessível e lacunas na assistência social. Essas condições limitam o acesso de pessoas com deficiência aos serviços básicos de saúde como imunização, assistência médica, serviços de atenção especializada e atenção hospitalar, mas deveriam fazer parte da gestão de lideranças da área.

A diversidade de fatores que limitam a saúde inclusiva demonstra que não há uma solução única para reduzir essas desigualdades. E, com o envelhecimento da população, o número de pessoas com deficiência que vão precisar de acesso aos serviços de saúde deve crescer ainda.

O papel da liderança na inclusão das pessoas com deficiência na saúde

Um dos obstáculos para a inclusão de pessoas com deficiência na saúde é a falta de lideranças comprometidas e dispostas a mudar as condições desiguais que ainda existem. Também há falta de lideranças que vivenciem na prática a condição de ser uma pessoa com deficiência, conheçam os obstáculos e consigam propor soluções.

Por isso, o trabalho desses líderes deve dar luz aos desafios, motivar mais ações que sejam aplicadas a realidade dessa população e, principalmente, atrair os recursos necessários para mudanças reais e com resultados mais prolongados.

E quem são as lideranças que podem contribuir para esse cenário de inclusão? Kuper et al. sugere a participação de três perfis de liderança para promover a inclusão real: ativistas individuais, que não se concentrem apenas em “curas” para a deficiência, mas na luta pela inclusão; líderes doadores, já que entre 2014 e 2018, menos de 2% da assistência internacional foi destinada a projetos voltados para pessoas com deficiência; e líderes políticos, muitos dos quais possuem experiências pessoais com a deficiência, mas raramente utilizam essas vivências para promover mudanças nas políticas públicas.

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Conclusão

A inclusão de pessoas com deficiência na saúde também exige medidas abrangente, que envolvam adaptar os sistemas de saúde para a população que o utiliza, investir na educação médica inclusiva e preparada para as abordar as diferenças entre os pacientes e promover pesquisas médicas inclusivas, com foco nos diferentes atendimentos de saúde.

Mais importante ainda é que as pessoas com deficiência estejam ativamente envolvidas na criação de um sistema de saúde mais inclusivo, com exemplos reais de como essa inclusão pode melhorar não apenas os serviços, mas, acima de tudo, a vida dessas pessoas.