Ocupando o 204.º lugar do ranking mundial, Valentin Vacherot foi a Xangai sem ter a certeza que ia entrar no qualifying do competitivo torneio da categoria máxima do ATP Tour. Após duas desistências, o monegasco de 26 anos pôde competir e começou a ganhar, no total de nove vitórias consecutivas até sair da China como o primeiro tenista do Mónaco e o jogador pior classificado a vencer um torneio Masters 1000, após derrotar o primo Arthur Rinderknech.
Dos nove encontros ganhos, seis foram obtidos após perder o set inicial (dois no qualifying e outros quatro já no quadro principal) incluindo a final, onde superou Rinderknech, por 4-6, 6-3 e 6-3, em duas horas e um quarto – sob o olhar do seu ídolo Roger Federer. Rinderknech (54.º) acusou fisicamente no terceiro set e até precisou de uma cadeira durante a entrega de prémios devido a cãibras.
Foram duas semanas de sonho para Vacherot, que já tinha conquistado quatro títulos no Challenger Tour, mas nunca tinha vencido uma ronda em torneios do Grand Slam. O monegasco é o terceiro tenista vindo do qualifying a triunfar num Masters 1000, desde a criação da categoria em 1990 – sucedendo aos campeões do torneio de Hamburgo Roberto Carretero (1996) e Albert Portas (2001) – e o que entrou com o pior ranking, ultrapassando Borna Coric, que era 152.º mundial quando, há três anos, triunfou em Cincinnati.
“É simplesmente de loucos”
“É surreal o que aconteceu. Não faço ideia do que está a acontecer agora. Não estou a sonhar. É simplesmente de loucos. Estou muito feliz com o meu desempenho nas últimas duas semanas. Quero agradecer a todos os que contribuíram para a minha carreira desde o início. É muito difícil ter de haver um perdedor hoje. Acho que só há dois vencedores hoje. Uma família que ganhou. Para o ténis, a história é simplesmente surreal. Gostava que houvesse dois vencedores. Infelizmente, só há um. Quanto a mim, estou muito feliz por ter sido eu”, afirmou Vacherot, na entrega de prémios, marcada pelas muitas lágrimas, dos jogadores e dos seus acompanhantes.
Depois de, na meia-final, ter derrotado Novak Djokovic, em dois sets, Vacherot foi assistir ao duelo entre Rinderknech e Daniil Medvedev e entrou no court para abraçar o primo após o match-point, confirmando-se que ambos iam disputar a final mais importante das suas carreiras. E o habitual aquecimento, horas antes do derradeiro encontro, fizeram-no juntos. Foi um dia memorável para os dois mais ilustres elementos de uma larga família com várias gerações de tenistas, com antepassados que competiram em Roland-Garros nos anos 30. “Grandma & Grandpa would be proud”, escreveu Vacherot na camera de tv.
Rinderknech, de 30 anos, já tinha estado numa final em 2022, no ATP 250 de Adelaide. Neto de tenistas e filho de Virginie, antiga 208.ª no ranking WTA, o tenista de Gassin optou em 2015 por ingressar no circuito universitário dos EUA, representando a Texas A&M University até 2018. Vacherot imitou-o, jogaram juntos em duas épocas e, no último ano, levaram a equipa universitária às meias-finais do NCAA Championships.
“Se eu não tivesse ido para a Texas A&M em 2017 graças a ti, não estaríamos aqui hoje. Sonhava seguir-te no top 100, agora estamos juntos nisto e espero que aí fiquemos durante muito tempo”, salientou Vacherot, que até este torneio acumulava cerca de 500 mil euros em prémios monetários; em Xangai, recebeu pela vitória um cheque de 960 mil euros e mil pontos para o ranking ATP, onde, esta segunda-feira, surgirá no 40.º lugar, ultrapassando o seu melhor registo (110.º em Junho de 2024).