O cessar-fogo declarado sexta-feira tem-se mantido, incluindo a primeira fase de retirada das Forças de Defesa de Israel. E os passos principais para a libertação dos reféns estarão a decorrer.
A Defesa Civil de Gaza, afeta ao Hamas, comunicou, durante a tarde de domingo, que “estão concluidos os preparativos” com vista à libertação dos reféns. A contagem dos que permanecem vivos foi concluída, tendo sido encaminhados para três locais diferentes da Faixa de Gaza, onde ficarão a aguardar a libertação, especificou. Os restos mortais de alguns dos reféns falecidos e de um soldado morto em 2024 num outro conflito em Gaza, deverão igualmente ser repatriados.
“O Hamas e as facções (palestinianas) concluíram os preparativos para a libertação de todos os prisioneiros vivos e de vários corpos que foram encontrados”, especificaram algumas fontes, com as informações a serem depois confirmadas por outra fonte próxima do movimento e das negociações.
A data limite para a entrega dos 48 reféns que permanecem na Faixa de Gaza, 20 vivos e 28 mortos, está marcada para segunda-feira ao meio-dia (hora local, 10h00 em Lisboa).
Israel disse esperar que a libertação se inicie “muito cedo de manhã”.
Membros das milícias de Gaza vão reunir-se esta noite com o Comité Internacional da Cruz Vermelha para acordar o mecanismo para a libertação dos 20 reféns presumivelmente ainda vivos.
A porta-voz do executivo israelita, Sosh Bedrosia, referiu já em conferência de imprensa este domingo, que todos os 20 reféns que ainda estão vivos deverão ser libertados ao mesmo tempo.
Frisou contudo que, só depois deles serem recebidos por Israel é que as autoridades israelitas irão libertar os prisioneiros palestinianos, condição que poderá irritar a liderança do Hamas.
Os detidos e prisioneiros palestinianos já foram reunidos nas prisões de Ofer, na Cisjordânia ocupada, e na prisão de Ketziot, no sul de Israel, de onde serão repatriados para Gaza e países terceiros.
“Os prisioneiros palestinianos (cuja libertação está prevista na troca) serão libertados assim que Israel tiver a confirmação de que todos os nossos reféns, cuja libertação está prevista para amanhã, atravessaram a fronteira para Israel”, disse Shosh Bedrosian.
“Assim que recebermos esta confirmação, esperamos que os prisioneiros (palestinianos) já estejam nos autocarros mas, assim que tivermos a confirmação de que os reféns entraram em território israelita, estes autocarros iniciarão a sua viagem”, garantiu.
Quanto aos reféns, serão primeiro levados para “zonas de Gaza controladas” pelas Forças de Defesa de Israel, IDF, depois da primeira fase de recuo. Depois vão ser transferidos para a base de Reim, no sul de Israel, onde serão reunidos com as suas famílias antes de serem levados para “um dos três principais hospitais”, explicou ainda Shosh Bedrosian.
Dez reféns serão enviados para hospitais no centro do país, em Sheba (Ramat Gan), cinco para Beilinson (Petah Tikva) e cinco para Ichilov (Tel Aviv).
Em relação aos restos mortais dos reféns, Bedrosian esclareceu que “um organismo internacional, acordado no âmbito deste plano, ajudará a localizar os reféns (mortos) se não forem encontrados e libertados amanhã”.Libertação de sete líderes palestinianos
O Hamas voltou a insistir, entretanto, na libertação dos principais líderes palestinianos condenados por Israel a sentenças longas, mas a lista oficial dos que vão ser libertados não menciona nenhum deles.
Uma fonte do movimento islamita confirmou à AFP que o grupo continua a exigir que “a lista final dos detidos a serem libertados inclua os nomes dos sete líderes maiores, nomeadamente Marwan Barghouti, Ahmed Saadat, Ibrahim Hamed e Abbas al-Sayed”.
Se Israel não ceder neste ponto, mesmo parcialmente, a libertação dos reféns pode não se concretizar.
Sob o plano de Donald Trump, aceite tanto por Israel como pelo Hamas, em troca dos 48 reféns é esperada a libertação de 1.700 palestinianos detidos em Gaza e de cerca de 250 prisioneiros retidos nas prisões israelitas.
Um acordo incerto
Se o processo de troca de reféns por detidos e prisioneiros for concluído sem entraves, está marcada para a parte da tarde a assinatura oficial do acordo entre Israel e o Hamas, na estância balnear de Sharm-el-Sheik, no Egito.
Para depois da assinatura prevê-se a realização de uma cimeira internacional de paz e sobre o futuro do território palestiniano.
Está confirmada a presença de dezenas de chefe de Estado e de Governo, árabes, islâmicos, europeus e asiáticos. Será copresidida pelos presidentes egípcio, Abdel Fattah al-Sidi, e norte-americano, Donald Trump.
Pontos difíceis de negociar serão fases posteriores do plano, que prevêem o desarmamento do Hamas e a instauração na Faixa de Gaza de um governo provisório, sob controlo internacional.
O Hamas já disse que não participará no governo da Faixa de Gaza no pós-guerra, e rejeitou o desarmamento, afirmando que a entrega de armas no âmbito do acordo alcançado “está fora de questão”.
Desde sexta-feira que homens armados designados como polícias e afetos ao Hamas têm vindo a assumir o controlo de áreas da Faixa de Gaza de que Israel retirou.
Há relatos de que esta força estará a executar e espancar em plena rua palestinianos inimigos dos islamitas ou acusados de colaborar com os israelitas, num verdadeiro acerto de contas.
Há também receio de que os combatentes e militantes do Hamas sejam transferidos para esta força policial, esvaziando oficialmente o movimento sem realmente o desmantelar.
com agências